Eu que não sou nada dado a verdades absolutas, encaro as teorias essencialistas com o mesmo cepticismo com que desbarato as construcionistas. Umas e outras têm virtudes, é um facto (se tiverem curiosidade podem ler
esta brevíssima súmula). Na essencialista, incomoda-me sobremaneira o gosto por buscar na biologia a justificação de comportamentos, identidades, orientação, etc., como se houvesse o tal gene, a tal molécula, a tal hormona que justifica tudo. Por outro lado, tem a vantagem de aos cépticos (tentar) demonstrar que é impossível escapar à natureza, a mesma que (supostamente) Deus nos dotou.
Sem muito a ver (e até porque o assunto é muito mais complexo), lembrei-me disto a propósito da
oxitocina, uma hormona já conhecida há algum tempo e sobre a qual a
NotíciasMagazine de dia 15 apresentou um texto inicialmente publicado na
New Scientist com alguns pontos interessantes, fundamentando nesta hormona o facto das pessoas ficarem juntas por muito tempo. A este propósito é de ler o artigo de J.L. Pio Abreu no
Destak, de onde transcrevo o seguinte parágrafo: «
Temos então uma base científica para um fenómeno há muito conhecido: as pessoas (e as comunidades) que reprimem o fluir da sua sexualidade são também as menos tolerantes e mais violentas. Mas também é preciso cuidado com os excessos: como se demonstrou recentemente, a tendência para aceitar, sem pestanejar, as propostas do gestor de contas, é muito maior após a inalação experimental de oxitocina».
Aquilo que eu já tinha
escrito sobre o tacto e o afecto sempre é verdade e a hormona prova-o:
«Já lhe chamaram a hormona do amor, a carícia química, confiança líquida. Atinge o pico no orgasmo, faz [com] que um abraço carinhoso “derreta” todo o
stress e aumenta a generosidade quando é ministrada como medicamento. A oxitocina é a pura essência do afecto, o químico cerebral que constrói carinhosamente os laços de pais para filhos, de amante para amante, de amigo para amigo, e em breve as suas potencialidades poderão ser exploradas para expandir o seu poder» (
NotíciasMagazine, p. 42);
«‘Sem oxitocina, os animais têm amnésia social’, garante o investigador Larry Young»;
«Acima de tudo, parece que a libertação de oxitocina no cérebro tem como função fazer [com] que os contactos sociais dêem prazer. Sem esta hormona, as espécies que socializam não funcionariam. E isto, claro, também é aplicável à espécie humana. As investigações apontam todas para o facto de a oxitocina desempenhar um papel fundamental em muitas áreas da vida humana, incluindo interacções sociais, amorosas e de filiação/paternidade»;
«(…) Zak e a sua equipa demonstraram que pessoas a quem foi dada esta hormona se tornaram substancialmente mais generosas e confiantes ao desempenhar tarefas que implicavam partilhar dinheiro com indivíduos que não conheciam» (
NotíciasMagazine, p. 43)
Só posso chegar a uma conclusão: eu e o Zé produzimos muita oxitocina. De outra forma, porque nos haveria de custar tanto a separação, o ficarmos longe, afastados? Mas, então, e os sentimentos? Bem, pelo menos, agora, parece que a natureza ajuda. E fico feliz por saber que sou uma pessoa menos agressiva e intolerante, o que só pode ser pela produção maciça de oxitocina.
Por outro lado, penso nos amigos e só chego a uma conclusão: tenho saudades do toque, de estar convosco, de vos sentir. Repito: o tempo não ajuda, mas pelo menos ficam a saber que gosto muito de vós e que tenho toneladas de oxitocina e espero que vós também, a bem da estabilidade afectiva!
Vem isto tudo, ainda, a propósito do meu
Pinguim e do seu Dejan
ito. Eu sei que não é nem foi intencional, mas quem não me conhece fica a saber que eu tenho um dom/defeito que não consigo controlar: aperceber-me e absorver a energia das pessoas que estão ao meu redor. Não é um dom/defeito muito desenvolvido, mas tenho-o devido a uma sensibilidade talvez mais amplificada do que será comum. “Agarro” essa energia com uma pinta que até me deixa fulo e posso, pois, ficar eufórico, esfusiante, o que não é mau, claro. O pior mesmo é quando é o contrário. E não sei como lidar com isso, por a energia não fluir, ficar cá retida. Ah, pois é: fiquei enrugado, esmagado. Tivesse eu o dom de transformar esse energia e teria um pouco mais de divino e, sendo mais divino, teria a felicidade na mão para a oferecer em doses generosas aos meus próximos. Então, a separação, que custa mais que tudo (e eu sei-o tão bem), seria pêra doce e nunca mais pedra no sapato das emoções violentas. A culpa recai na malvada oxitocina que nos faz querer estar juntos, em presença. Espero não estar a ser demasiado “esotérico”, “metafísico”… no fundo, quem se ama só quer estar junto, por muita habituação que haja à ausência física.
Hoje, que já me deu para a choradeira, repito: gosto muito de vós! Apetece-me lançar o meu abraço e abarcar-vos, sentir o vosso pulso emocional e dizer-vos que se a vida é bela é graças ao amor. E mais nada. Ah, e aos orgasmos, obviamente (já agora, menos solitários do que os do vídeo).