segunda-feira, 30 de junho de 2008

..:: menin@s, 'bora lá picnicar? ::..



Agora, algo completamente diferente, que tanto «orgulho» já enjoa
Bem, este menino teve a ideia e voluntariou-se para tratar de um pic-nic (cf. aqui). Eu já tinha visto a proposta, mas por falta de tempo e por não temos ainda discutido o assunto cá em casa, não tinha dito nada. Agora, já disse e repito-o aqui nesta entrada: é uma excelente ideia. O convite é aberto a quem quiser participar, passem lá pela luz do Miguel, confiram, adiram, vamos apanhar sol e respirar ar puro, falar, rir e sermos felizes à sombra. E será no domingo, dia 20, nas Caldas. A Teresa já nos disse que ia... Vá lá, meninas e meninos, estão à espera de quê? Que vamos com um dos trajes abaixo, é?



domingo, 29 de junho de 2008

..:: casamento gay? ::..

Nada como o humor para desconstruir a coisa. Claro que sou pelo casamento (ou uma situação que se lhe assemelhe em termos de direitos e deveres), pela adopção, pela liberdade sexual, pela igualdade acima de tudo. E algumas fotos de ontem.


sábado, 28 de junho de 2008

..:: e porque tem tudo a ver, não resisto ::..



| ouçam bem que os Deolinda são o máximo | myspace


Agora sim, damos a volta a isto! Agora sim, há pernas para andar! Agora sim, eu sinto o optimismo! Vamos em frente, ninguém nos vai parar! Agora não, que é hora do almoço... Agora não, que é hora do jantar... Agora não, que eu acho que não posso... Amanhã vou trabalhar... Agora sim, temos a força toda! Agora sim, há fé neste querer! Agora sim, só vejo gente boa! Vamos em frente e havemos de vencer! Agora não, que me dói a barriga... Agora não, dizem que vai chover... Agora não, que joga o Benfica... e eu tenho mais que fazer... Agora sim, cantamos com vontade! Agora sim, eu sinto a união! Agora sim, já ouço a liberdade! Vamos em frente, é esta a direcção! Agora não, que falta um impresso... Agora não, que o meu pai não quer... Agora não, que há engarrafamentos... Vão sem mim, que eu vou lá ter...

..:: com orgulho : hoje é o dia ::..













Marcha

Marcha


Men pose with a gay pride flag during the opening of the gay and lesbian community's summer at a beach on the outskirts of Havana June 14, 2008. Much has changed in Cuba since the 1960s when homosexuals were sent to work camps, or the 1970s when gay men and women were denied certain jobs as "ideological deviants." Cuba, in the latest change since President Raul Castro took office, has allowed doctors to perform sex change operations and parliament is studying proposals to legalize same-sex unions. REUTERS/Claudia Daut (CUBA) [apanhado aqui]

sexta-feira, 27 de junho de 2008

..:: e agora, José? há tantas estrelas no meu céu ::..




Não sei muito bem o que escrever sobre este homem.
Já expliquei como o conheci, como o adoro (reparem: mais ainda do que amo), como a minha vida seria absolutamente diferente sem ele. Não tenho bola de cristal para saber como seria, mas, melhor, presumo ser absolutamente impossível.



E o amor é coisa que não se agradece. Eu agradeço todos os dias. Sinto um orgulho imenso por ele, uma alegria desmedida por poder estar a seu lado e lhe dar a minha vida. Quarta-feira foi o seu dia, embora todos os dias sejam dele e meus.




Eu sei que o Zé não gosta muito dele (eu idem), mas esta música é, digamos, especial (e desculpem as imagens, não encontrei melhor com esta versão...):

Pedro Abrunhosa & Sandra de Sá, Eu não sei quem te perdeu

domingo, 22 de junho de 2008

..:: and I'm gay ::..

Read this doc on Scribd: and I'm gay



E tenho uma pergunta (duas, melhor dizendo) para a qual gostaria de ter possíveis respostas: o que precisamos de ouvir/fazer durante o processo de reconhecimento e, depois, para aceitar a orientação homossexual sem traumas? O que pode ser decisivo para que tudo corra bem (ou pelo melhor)? Eu e muita gente mais por aí agradece a vossa opinião e partilha!

..:: cantiga d'escarnho [IV] ::..




E eu digo mal, com'ome fodimalho, *
quanto mais posso daquestes fodidos
e trob'a eles e a seus maridos;
e un deles mi pôs mui grand'espanto:
topou comigu'e sobraçou o manto
e quis en mi achantar o caralho.

Ando-lhes fazendo cobras e sões
quanto mais poss'e and'escarnecendo
daquestes putos que s'andan fodendo;
e ũũ deles de noit'asseitou-me
e quis-me dar do caralh'e errou-me
e (er) lançou depois min os colhões.



Uma sátira contra os homossexuais, numa cantiga de escarnho (a última que aqui publico) de Pero da Ponte de meados do Séc. XIII »» in Cantigas de Escárnio e Mal-Dizer »» comentários de Carlos Miranda, seguindo a proposta de Rodrigues Lapa »» Sacavém »» Palimpsesto »» p. 137


* ["(...) Pero da Ponte, que se confessa autor de diatribes poéticas contras os homossexuais, descreve a vingança de que foi alvo da parte de dois pederastas que, violentando-o, quiseram, por desforço, provar-lhe a sua virilidade." Natália Correia, que também adaptou esta cantiga, in Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica »» 3ª edição »» Antígona/ Frenesi »» 2000 »» p. 44]



sexta-feira, 20 de junho de 2008

~~ revolucionário ou quê? ~~




Estou a dar em revolucionário ou estas coisas deviam mesmo ter consequências graves para os (des)governantes?


GASÓLEO A 0,80€ PARA OS IATES
O Governo democrático e maioritário do PS tem por hábito, quando é confrontado com realidades, apontar os canhões para o PSD, seu parceiro do «Bloco Central de Interesses». Mas agora todos ficam a saber: os que têm iates e embarcações de recreio, através do Artº 29 do Cap. II da Portaria 117-A de 8 de Fevereiro de 2008, beneficiam de gasóleo ao preço que pagam os armadores e os pescadores. Assim, todos os portugueses são iguais perante a Lei, desde que tenham iates... É da mais elementar justiça que os trabalhadores e as empresas que tenham carro a gasóleo o paguem a 1,42€, e os banqueiros e empresários do 'Compromisso Portugal' o paguem a 0,80€, e é justo, porque estes não têm culpa que os trabalhadores não comprem iates!!!

Porreiro pá !...

Recebido por e-mail. Obrigado MJ.

~~ houverem? ~~

Por muito que aquela senhora se esmifre a afirmar o contrário, continuo a achar (e a confirmar!) que se tem caminhado no sentido de facilitar a vida aos estudantes na cega intenção de mostrar bons (melhores) resultados. Isso, a mim, preocupa-me. E penso que deve preocupar todo e qualquer cidadão consciente. Afinal, estamos hoje a formar os homens e mulheres que governarão este país (?) quando formos mais velhotes. Perguntas de escolha multipla no exame de Língua Portuguesa?!... Ah, esqueci-me por momentos. Naturalmente que ministros, secretários e afins sabem muito mais disto do que os Professores que acompanham o dia-a-dia dos seus alunos nas escolas. Perdoe-me, minha senhora! Permita, no entanto, que lhe lembre algo que deve ter esquecido (digo eu!). É que o verbo "haver", quando significa "existir" é impessoal. Isto quer dizer que não se conjuga em todas as pessoas, mas sim apenas na terceira pessoa do singular. Transcrevo aqui as suas palavras durante a sua recente entrevista na SIC:
"... há uns quantos pessimistas de serviço neste país... muito pessimistas. O que acontece é que o país tem que estar sempre mal e os alunos têm que ser sempre maus. Quando os resultados são, por si, maus e houverem fla fragilidades nos conhecimentos nas competências, aí está a prova que o país está mal. Como o país não pode melhorar são as provas que estão erradas". Abstenho-me de comentar a afirmação, mas não posso deixar de aproveitar o seu exemplo para ilustrar a explicação. O verbo "haver", aqui, significa "existir", certo? Portanto conjuga-se APENAS na terceira pessoa do singular: "houver". Se não percebeu, diga que eu explico outra vez. A não ser que isto que anda a fazer seja intencional e a sua pretensão seja diminuir os conhecimentos do "povo" para que "deslizes" como o seu passem imperceptíveis. Será?
Confiram aqui no quarto vídeo.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

..:: escola e avaliação ::..

Há já uns meses, que, visitando a página da DGRHE, só posso concluir que estão a gozar comigo. A página abre com esta bela fotografia:



Não pertenço à carreira, aliás, nem professor sou. Claro, porque haveria de ser? Entretenho alunos, finjo que aulas, deve ser isso, mão de obra barata que tem de ser avaliada como professor. Se não entrar em 2009 (o que é mais do que provável), vou fazer o quê? Passar mais quatro anos a tapar buracos e a mendigar migalhas ao ME? No meio disto tudo, só me apetece fugir. Para que serve ser um profissional bom ou mediano? Se calhar, está na hora de ir pensando mesmo em mudar de profissão/actividade, trabalho, já que a compensação não corresponde às exigências deste.
Bem, depois de oito relatórios de auto-avaliação segundo o modelo anterior, um por cada escola onde passei, esta ficha de auto-avaliação com 14 perguntas é canja (masoquistas que quiserem conferir, força). Ou seja, não dói mas faz mossa e para o ano que vem vai piar mais fininho. Este ano, isto é um pró-forma-burocrático-mete-nojo de uma senhora birrenta. Entreguei-o ontem, dia bafejado pela chatice e neura: cheguei às 8h e saí de lá às 21h porque as funcionárias queriam fechar a escola para se irem embora. No meio disto tudo, ainda deu para desabafar um bocado com a Kika e chegar a casa com umas trombas do tamanho do mundo. Hoje, o bom humor continua, mas pelo menos descobri o Sam Sparro e uns quantos remixes que me aliviaram um bocado.

..:: anda cá, ouve este ::.. SAM SPARRO




Digam lá que o tipo não é giro! Já o tinha visto aqui, mas não liguei muito, ontem, num gratuito que estava lá na escola, fiquei intrigado com aqueles olhos. Sam Sparro parece estar na berra e tem cá um piquinho a azedo que é obra (ah, ok: ele é assumidamente gay).





site | myspace | wikipedia | entrevista











Black and Gold

Sam Sparro, Black and Gold (Phones Hard as Diamonds remix)



Cottonmouth












Making of de Black and Gold

cf. também aqui


Making of de Cottonmouth, directed by Mariah Garnett



Pequeno documentário de Sam Sparro durante COCHELLA 2007


quarta-feira, 18 de junho de 2008

..:: palavras que nos salvam ::.. Joaquim Cardoso Dias

MITOLOGIA



finjo que acredito em ti: amo-te
e sem o saber todos os sonhos
caíram no fim das tuas palavras
antes da única verdade
se ter ferido encostada tanto
ao meu peito




Joaquim Cardoso Dias »» O Preço das Casas »» Lisboa »» Gótica »» 2002 »» p. 29

terça-feira, 17 de junho de 2008

..:: testa a tua tendência política ::..

Comigo não me deu nenhuma novidade (cf. imagem), mas se tiverem dúvidas sobre a vossa, testem-se em 20 perguntas, aqui »»


segunda-feira, 16 de junho de 2008

..:: oxitocina ::..

Eu que não sou nada dado a verdades absolutas, encaro as teorias essencialistas com o mesmo cepticismo com que desbarato as construcionistas. Umas e outras têm virtudes, é um facto (se tiverem curiosidade podem ler esta brevíssima súmula). Na essencialista, incomoda-me sobremaneira o gosto por buscar na biologia a justificação de comportamentos, identidades, orientação, etc., como se houvesse o tal gene, a tal molécula, a tal hormona que justifica tudo. Por outro lado, tem a vantagem de aos cépticos (tentar) demonstrar que é impossível escapar à natureza, a mesma que (supostamente) Deus nos dotou.
Sem muito a ver (e até porque o assunto é muito mais complexo), lembrei-me disto a propósito da oxitocina, uma hormona já conhecida há algum tempo e sobre a qual a NotíciasMagazine de dia 15 apresentou um texto inicialmente publicado na New Scientist com alguns pontos interessantes, fundamentando nesta hormona o facto das pessoas ficarem juntas por muito tempo. A este propósito é de ler o artigo de J.L. Pio Abreu no Destak, de onde transcrevo o seguinte parágrafo: «Temos então uma base científica para um fenómeno há muito conhecido: as pessoas (e as comunidades) que reprimem o fluir da sua sexualidade são também as menos tolerantes e mais violentas. Mas também é preciso cuidado com os excessos: como se demonstrou recentemente, a tendência para aceitar, sem pestanejar, as propostas do gestor de contas, é muito maior após a inalação experimental de oxitocina».
Aquilo que eu já tinha escrito sobre o tacto e o afecto sempre é verdade e a hormona prova-o:
«Já lhe chamaram a hormona do amor, a carícia química, confiança líquida. Atinge o pico no orgasmo, faz [com] que um abraço carinhoso “derreta” todo o stress e aumenta a generosidade quando é ministrada como medicamento. A oxitocina é a pura essência do afecto, o químico cerebral que constrói carinhosamente os laços de pais para filhos, de amante para amante, de amigo para amigo, e em breve as suas potencialidades poderão ser exploradas para expandir o seu poder» (NotíciasMagazine, p. 42);
«‘Sem oxitocina, os animais têm amnésia social’, garante o investigador Larry Young»;
«Acima de tudo, parece que a libertação de oxitocina no cérebro tem como função fazer [com] que os contactos sociais dêem prazer. Sem esta hormona, as espécies que socializam não funcionariam. E isto, claro, também é aplicável à espécie humana. As investigações apontam todas para o facto de a oxitocina desempenhar um papel fundamental em muitas áreas da vida humana, incluindo interacções sociais, amorosas e de filiação/paternidade»;
«(…) Zak e a sua equipa demonstraram que pessoas a quem foi dada esta hormona se tornaram substancialmente mais generosas e confiantes ao desempenhar tarefas que implicavam partilhar dinheiro com indivíduos que não conheciam» (NotíciasMagazine, p. 43)

Só posso chegar a uma conclusão: eu e o Zé produzimos muita oxitocina. De outra forma, porque nos haveria de custar tanto a separação, o ficarmos longe, afastados? Mas, então, e os sentimentos? Bem, pelo menos, agora, parece que a natureza ajuda. E fico feliz por saber que sou uma pessoa menos agressiva e intolerante, o que só pode ser pela produção maciça de oxitocina.
Por outro lado, penso nos amigos e só chego a uma conclusão: tenho saudades do toque, de estar convosco, de vos sentir. Repito: o tempo não ajuda, mas pelo menos ficam a saber que gosto muito de vós e que tenho toneladas de oxitocina e espero que vós também, a bem da estabilidade afectiva!



Vem isto tudo, ainda, a propósito do meu Pinguim e do seu Dejanito. Eu sei que não é nem foi intencional, mas quem não me conhece fica a saber que eu tenho um dom/defeito que não consigo controlar: aperceber-me e absorver a energia das pessoas que estão ao meu redor. Não é um dom/defeito muito desenvolvido, mas tenho-o devido a uma sensibilidade talvez mais amplificada do que será comum. “Agarro” essa energia com uma pinta que até me deixa fulo e posso, pois, ficar eufórico, esfusiante, o que não é mau, claro. O pior mesmo é quando é o contrário. E não sei como lidar com isso, por a energia não fluir, ficar cá retida. Ah, pois é: fiquei enrugado, esmagado. Tivesse eu o dom de transformar esse energia e teria um pouco mais de divino e, sendo mais divino, teria a felicidade na mão para a oferecer em doses generosas aos meus próximos. Então, a separação, que custa mais que tudo (e eu sei-o tão bem), seria pêra doce e nunca mais pedra no sapato das emoções violentas. A culpa recai na malvada oxitocina que nos faz querer estar juntos, em presença. Espero não estar a ser demasiado “esotérico”, “metafísico”… no fundo, quem se ama só quer estar junto, por muita habituação que haja à ausência física.
Hoje, que já me deu para a choradeira, repito: gosto muito de vós! Apetece-me lançar o meu abraço e abarcar-vos, sentir o vosso pulso emocional e dizer-vos que se a vida é bela é graças ao amor. E mais nada. Ah, e aos orgasmos, obviamente (já agora, menos solitários do que os do vídeo).

domingo, 15 de junho de 2008

..:: cantiga d'escarnho [III] ::..



Fernan Díaz é aquí, como vistes,
*
e anda en preito de se casar;
mais non pod'ò casamento chegar
- d'ome o sei eu, que sabe com'é;
e, por aver casament', a la fé,
d'ome nunca vós tan gran coita vistes.

E por end'anda vestid'e loução
e diz que morre por outra molher;
mais este casamento que el quer,
d'ome o sei eu que lho non daran;
e por este casamento (d)el, de pran,
d'ome atal coita nunca viu cristão.

Ca d'Estorga atá San Fagundo
don'á que a de Don Fernando torto,
ca por outro casamento anda morto
d'ome o sei eu, que o sabe já;
e se este casament'el non á,
d'om'atal coita nunca foi no mundo.



Cantiga de escarnho (sátira contra os homossexuais) de Airas Perez Vuitoron »» in Cantigas de Escárnio e Mal-Dizer »» comentários de Carlos Miranda, seguindo a proposta de Rodrigues Lapa »» Sacavém »» Palimpsesto »» pp. 141-142



* [Esta cantiga sugere que Fernão Dias, que andava a preparar o seu casamento, tratava de um "casamento d'ome" que não foi consentido.]



sexta-feira, 13 de junho de 2008

..:: 13 de junho :: antónio de lisboa (pádua?) ::..

Fernando Martim de Bulhões e Taveira Azevedo
(ou Fernon Martin di Bulhon y Tavera Azeyedo)
ou
Santo António de Lisboa
ou
Santo António de Pádua
[Lisboa, 15 de Agosto de 1195 † Pádua, 13 de Junho, 1231]



..:: 13 de junho :: al berto ::..


Alberto Raposo Pidwell Tavares
[Coimbra, 11 de Janeiro, 1948 † Lisboa, 13 de Junho, 1997]


Depois da homenagem que já lhe deixei pelas palavras de outros (cf. aqui e aqui), cá está mais um poema, um dos que faz parte de WordSong.
free music


Recado

ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte

vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer – vai por este campo
de crateras extintas – vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite

deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
ergueram-se na vertigem do voo – deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração – ouve-me

que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna – o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite.

não esqueças o navio carregado de lumes
de desejos em poeira – não esqueças o ouro
o marfim – os sessenta comprimidos letais
ao pequeno-almoço


Al Berto »» in Horto de Incêndio »» Assírio & Alvim »» 1996 »» p. 9

..:: 13 de junho :: fernando pessoa ::..


Fernando António Nogueira Pessoa
[Lisboa, 13 de Junho, 1888 † Lisboa, 30 de Novembro, 1935]


Conselho

Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.

Faze canteiros como os que os outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim como lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.

Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...


Fernando Pessoa

quinta-feira, 12 de junho de 2008

..:: aqui vamos nós ::..



Graças ao Sto António, lá vamos poder ir à minha aldeia. Quem for para os santos, divirta-se muito, mas eu já não tenho muita paciência para confusões. A emissão continua a partir de lá das montanhas.

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terça-feira, 10 de junho de 2008

~~ as vozes ~~



Ontem fomos ver (ouvir) o concerto das Le Mystère des Voix Bulgares. São um coro de vozes femininas, especialmente dotadas, criado há mais de 50 anos com o objectivo de enriquecer a herança do folclore búlgaro com harmonias e arranjos que realçam os seus maravilhosos timbres e ritmos irregulares. Sem recorrer a quaisquer artifícios (também porque não precisam deles), as vozes límpidas transportam-nos para dimensões apenas limitadas pela capacidade do espectador. É um quadro sonoro que se abre numa imensa explosão de cores. Em 1975, o produtor suíço Marcel Cellier lançou o primeiro disco sob o nome Le Mystère des Voix Bulgares, com o qual as revelou ao Mundo. Seguiram-se mais oito, um dos quais, o Volume II, foi galardoado com um Grammy em 1994. Simplicidade, humildade e a pureza do instrumento voz humana fizeram da noite de ontem uma das melhores dos últimos tempos. Já perceberam que viemos de "alma cheia", certo?



Já o fiz particularmente, mas aqui ficam os parabéns públicos ao grupo e, já agora, à Incubadora d'Artes pela ideia e pela coragem de nos terem oferecido esta possibilidade. Aqui fica o programa e alguns vídeos.





Polegnala e Todora




..:: anda cá, hoje tens de ouvir esta ::.. DULCE PONTES


Dulce Pontes, O Amor a Portugal

domingo, 8 de junho de 2008

~~ cruzes, credo! ~~

Haverá cura para isto?
Talvez a Informática seja coisa do Demo, mas não será também do dito escrever (e publicar!) mau português? O pronome oblíquo átono usado (neste caso, o fenómeno é conhecido, como todos sabem, por ênclise) está errado porque obedecer não é transitivo directo e, logo, não selecciona um pronome pessoal complemento directo mas indirecto. Isto é, não se obedece "uma coisa", obedece-se "a alguma coisa". Ora aprendam que o Mestre nem sempre está de bom humor!

Anúncio lido no DN de 08 de Junho de 2008.