quarta-feira, 31 de outubro de 2007

..:: corrente d'ar ::..

nem ota nem desota

..:: suficientemente forte, não? ::..

..:: os mortos que temos no currículo ::..

O halloween não nos diz absolutamente nada e amanhã é dia não dos defuntos, mas de todos os santos (ou festum omnium sanctorum), assim, indiscriminadamente, todos ao mesmo tempo. Prefiro não me deter muito tempo nem no assunto dos santos nem dos defuntos, até porque já temos alguns no currículo, alguns deles dolorosíssimos e acho que ninguém escapa ao pensamento sobre a ausência. Portanto, prefiro passar ao lado, até porque não sei se me alegra ou melancoliza saber que um dia nos juntaremos. Escolhi "Haja o que Houver" para ouvir justamente a pensar nisto tudo.


Tarde demais para regressar: inter
ditaram-nos todos os acessos
até aos nossos mortos.
Eduardo Pitta »» Poesia Escolhida (Círculo de Leitores) »» p. 79


Temos alguns mortos de intervalo
a melancolia de quem muito
contemporizou
e saber, dos espelhos, o jogo.

Eduardo Pitta »» Poesia Escolhida (Círculo de Leitores) »» p. 91

..:: os dias ::..

Hoje é dia de São Regresso Cometome. Estou feliz por isso e, mais ainda, por saber que em Novembro o meu homem vai passar o tempo quase todo em casa. Lindo, nem tudo pode ser mau, verdade?
Como habitualmente à quarta, estou cansadíssimo, desléxico, a ouvir mal, e com tanta coisa em atraso que vou ser engolido. Sim, ainda não mandei os postais, não tenho respondido a emails, ainda não decidi o que havemos de fazer amanhã (além de A Outra Margem, fiquei encarregue dessa tarefa: decidir), tenho participações disciplinares para redigir e actas para passar a limpo, citações para digitalizar, pensar em testes e marcá-los. Assim, não hei-de eu ser nervoso? Não tenho nem os quatro braços de Shiva, nem tampouco os mil de Kwan Yin:



Gostava de ter. E de não precisar de dormir nem de me alimentar. Lamento, mas os miúdos e as reuniões deixam-me KO, e são logo quatro as reuniões todas as semanas (tempo que nunca me é remunerado, mas que me será descontado se faltar - é engraçado, não é: retirarem o que não me pagam). A maior parte do tempo funcionam como terapia de grupo e de catarse. Hoje não foi excepção. Este foi o resultado de duas reuniões.


Há dias muito produtivos, não há?

..:: lol ::..

terça-feira, 30 de outubro de 2007

..:: o que fazer com papel amarrotado ::..

Vejam até ao fim.

..:: saltos ::..

Há problemas sobre os quais eu gostava de poder saltar assim, com a mesma pujança, perfeição e rapidez.

..:: louvor à minha 2ª mãe ::..

Há 37 anos que vieste. Não tenho oportunidade de estar contigo e de te dar o típico abraço que faz os nossos corações tocarem-se, abrindo as comportas dos nossos rios. Mas gosto muito de ti! Sei que perdeste a vontade de comemorar aniversários depois da ausência do pai, tal como eu que também nunca gostei de lembrar o dia em que vim.

Enervaste-te tantas vezes comigo por ser amorfo e reservado; e eu contigo por seres áspera e bruta. Obrigaste-me muitas vezes à acção, a mexer-me, o que foi bom porque nunca tive nada de bandeja e assim aprendi mais do que se ignorasse as tuas ordens. Apesar do feitio de escorpião, tenho tacto para lidar com o teu fogo e é fácil percebermos tudo nos nossos olhos, até porque sei que a vida também nunca te foi fácil e generosa. Lamento tanto que não tenhas tido as condições para teres podido estudar; que os avós te tenham feito refugiada e que tivesses de ficar doente para te libertarem! Lembro-me tão bem de ter ficado agoniado, em desespero, com as tuas dores brutais naquele Verão quente e abafado; tu sem forças, com uma dieta rigorosíssima e, depois e em consequência, a anemia. Gosto de pensar que nascemos fortes e que tu vieste com a força demolidora de uma caterpillar, aquela força que te salvou tantas vezes do precipício.
Em Castelo Branco, almoçávamos e o resto do dia era comigo. No início, atravessava a cidade quase toda a pé, mas mudaste-te várias vezes para ficarmos mais próximos e conheci-te quatro casas e coabitámos em duas, sempre com mais mulheres lá em casa, amigas ou colegas de trabalho. Às vezes, saíamos à noite, dançávamos na Repvblica, quando bebias mais era um drama porque choravas como uma madalena, víamos o nascer do dia e apanhávamos o autocarro em direcção à aldeia para o fim-de-semana.
Conheceste o Tó, namoraste e acabaram casados. Convidaste-me e fui o vosso padrinho. Houve várias momentos em que me alojaste sem contrapartidas, mas eu nunca aguentei muito tempo porque prezava demais a liberdade de poder fazer o que me apetecia. Lembras-te de que uma vez o Tó puxou o assunto da homossexualidade por causa de eu estudar na FLUL? Só lhe disse que conhecia demasiad@s para os poder criticar e censurar e que era muito fácil falar e julgar mal o que não se conhece.
Há dez anos, nasceu o Jotapê e convidaste-me e fui o padrinho. Parece-me claro que sempre me puxaste e eu sempre resvalando. Com o Jotapê, a coisa foi estranha: podia ter nascido em qualquer dia de Abril, mas teve de se antecipar e nascer exactamente um ano depois da nossa avó ter partido contrariada para uma outra dimensão. Foi um sinal que nunca soube interpretar. Tanto eu como o Zé, gostamos muito do Jotapê que se tornou sensato e simpático [um aparte: tenho 5 sobrinhos e só 2 sobrinhas]. Se a inteligência, a emoção e a felicidade se medicassem, dar-lhe-ia os comprimidos para ser a melhor e mais plena pessoa do mundo. Por várias vezes, fiquei com o Jotapê e fazia tudo como me ensinaste: a mudar a fralda, a ler-lhe e a inventar histórias, a dar-lhe comida e a endurecer a voz para me obedecer. Dar-lhe comida era mesmo a tarefa mais inglória e que me enfurecia. Apetecia-me abrir-lhe a boca e à bruta enfiar-lhe a refeição boca abaixo, sem complacência. Nos seus dez anos, já percebeu que não sou o tio típico: casado, com carro, com filhos e uma vidinha comum.
(2000, desenho não-figurativo do Jotapê sobre uma planificação da altura)



Muitos parabéns!

P.S. Quando é que nos cortarão o cordão umbilical?

..:: as cores do passado ::.. o secundário (versão condensada)

Cheguei a Castelo Branco no dia em que começaram as aulas do 10º ano. Nunca antes lá tinha posto os pés. Não fui nem para Coimbra nem para outro sítio qualquer porque a minha irmã mais chegada vivia e trabalhava lá. Não conhecia nada da cidade e nunca estudei no distrito a que pertencia (nessa altura, a educação por aquelas bandas ainda era um luxo).
Aprendi a ficar ainda mais sozinho, a cozinhar para mim e a adormecer sem ninguém em casa. Não foi um período alegre, mas também não houve dramas, fiz amigos e falava que me desunhava.
Tive três grandes amigos a quem perdi o rasto: a Fátima, o José e a São. Éramos colegas e fazíamos algumas coisas em conjunto, conversávamos muito e sobre todas as coisas que nos inquietavam (quer dizer: nunca falei do que me inquietava): o sermos incompreendidos, quanto a vida era difícil, a sensibilidade, as hormonas aos pulos.
Como expliquei aqui, tinha 16 anos quando percebi o que era. Com a Fátima, em conversas, confessei-lhe que havia de ser grande, que sairia da merdaleja, e fintaria o destino que me esperava. Percebi, ainda que dessa forma me vingaria dos que no básico tanto tinham zombado de mim. O Skyborg utiliza para classificar a sua terra um epíteto que usei muitas vezes para me referir àquela aonde fiz o básico. Castelo Branco, por seu lado, serviu para me livrar das más (péssimas) memórias dessa puta de terrinha.
Foi em Castelo Branco que comecei a comprar revistas porno especificamente gay, o que não era nada fácil numa cidade pequena e um prolongamento da ruralidade envolvente, mas descobri um quiosque onde as podia encomendar. O vendedor tinha uma série de trejeitos que me incomodavam significativamente. Decidi que não queria ser assim, mas que tinha de ser genuíno sem me expor demasiado e que tinha de transmitir uma imagem correctíssima dos meus actos.
Tudo passou, sempre com o fito na minha vingança de trazer por casa, que acabou por ser muito fácil de concretizar: cresci o suficiente para ser capaz dos enfrentar e confrontar. Deixei de querer ser famoso, mas nunca de crescer. Dizia-me a Fátima, ainda mais pessimista, que eu sonhava muito, demasiado, e que a vida não era nada assim. De facto, nem sempre as coisas correram como a minha razão tinha programado. Neste momento, sou o que naquela altura quis ser: feliz, genuíno, transparente e sem preconceitos.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

..:: caveira ::..




Caveira humana de platina incrustada de diamantes

Não gosto especialmente de Damien Hirst (Bristol, UK, 7 de Junho, 1965), mas reconheço que esta caveira avaliada em quase US$ 100 milhões me lembra a solidão. Nem sequer a morte, mas a solidão.

..:: corrente d'ar ::..

Palavras longas e bizarras: methylchloroisothiazolinone

..:: os dias ::..

Labirinto do caderninho de apontamentos
que a Frol Diana me ofereceu há dois ou três anos

Este caderno esteve parado, paradíssimo, mas o blogue obrigou-me a usá-lo. Como se pode ver, aplicam-se que nem uma luva as palavras de Clarice Lispector: “Que ninguém se engane: só se consegue a simplicidade através de muito trabalho” (in A Hora da Estrela, p. 15).
Tenho aproveitado o bus, enquanto me alheio pela música, e os intervalos entre as aulas. Já me perguntaram sobre o que era o livro ☺. Sobre mim, obviamente, que é o único mundo que conheço (e mesmo assim...). O traço vertical, à Pascoaes, indica que já foi transcrito.

Um aparte sobre a letra arredondada: no 12º, em Latim, os resultados da minha turma foram um desastre desastroso no 1º período. O professor, um ex-padre que nada simpatizava comigo, pediu-nos que apontássemos motivos e soluções para o problema, anonimamente. Quando chegou ao meu papel, disse qualquer coisa como “como escreveu esta menina…” Torci-me todo e fiquei chateado, mas esclarecido: letra redonda é apanágio de menina. Ah, estereótipos lindos!

..:: os dias ::..

Adolescente, num Inverno gelado, apeteceu-me sentir a água no corpo e consegui pôr-me nu debaixo de uma queda de água. Já tinha nessa altura descoberto que me dava muito prazer acariciar certas partes do corpo. Tive frio, de resto não houve consequências além do prazer.

este desenho é desses anos

domingo, 28 de outubro de 2007

..:: Magazine Littéraire ::..


Magazine Littéraire, hors-série n.º 8 (Outubro-Novembro 05) Les écrivens et la mélancolie
Magazine Littéraire, hors-série n.º 12 (Outubro-Novembro 07) La Solitude

E um número de 2003



Bom, os Gato Fedorento lá me conseguiram fazer sorrir com o Vitor Espadinha em registo gay.

~~ come to you ~~

O meu menino pôs hoje o Come to Me na secção PARA OUVIR. É que hoje é dia de S. Irembora. Mas, desta vez, são só três dias até dia de S. Cometoyou que, como a música, é sempre dia alegre...

~~ Portugal no seu melhor ~~

Esta não nos chegou por e-mail. Fui eu mesmo que a "apanhei" esta manhã.
Mai nada!

..:: p. 161 ::..


Apesar de andar há pouco por aqui, já tinha lido imensas correntes. Agora, o André desafiou-me e cá vai: a 5ª frase completa de um livro tirado ao acaso. Foi só esticar a mão para trás e perceber que deveria ter mais que 161 páginas. Calhou-me Caio Fernando Abreu, que está na secção dos a ler. Ei-la e, como verão, fora do contexto, não tem muita lógica:

Isso é o que se conta, o que se diz, o que se vê e não se vê, mas se imagina do Passo.
Caio Fernando Abreu, Caio 3D: O Essencial da Década de 1990, Rio de Janeiro: Agir, 2006, p. 161.

Presumindo que tenho de eleger outros 5, ficam intimidados:
# Denise »» Rabiscos e garatujas
# Kika »» Bicho bravo
# Dário »» I'm at the point of no return
# Luís & Gonçalo »» Gayfied
# X & F »» Comyxtura

P.S. O regulamento está com o André Benjamim.

..:: artistas da semana ::.. JULIEN and STÉPHANE

Exterface compõe-se da dupla Julien e Stéphane: poesia e fotografia ou poesia fotográfica ou ainda fotografia poética (e erótica).


© Exterface, da série Memories


© Exterface, da série Alice


© Exterface, da série Narcisse


© Exterface, da série Process


© Exterface, da série 02.01


© Exterface, da série Basic Instinct


© Exterface, da série Bis-Sextilis


© Exterface, da série Fragments


© Exterface, da série Gang


© Exterface, da série Gold Panther


© Exterface, da série Organe



© Exterface, da série Situla