A mãe é a pessoa mais importante. Quando o pai partiu, custou-me muito. Foi uma ferida profunda que se abriu, mas perder a mãe seria a minha bomba de Hiroshima. Apetece-me agarrá-la, abraçá-la, cuidar dela. Herberto Helder diz que “As mães são as mais altas coisas/ que os filhos criam, porque se colocam / na combustão dos filhos, porque / os filhos estão como invasores dentes-de-leão / no terreno das mães” (»Fonte II«, in Ou o Poema Contínuo, Assírio & Alvim, 2004, p. 48). Concordo em tudo. Ela é a minha heroína, uma lutadora. Tem uma personalidade forte, mas tão moldável que continua a surpreender-me com a sua generosidade. Às vezes, dá-me vontade de lhe pedir perdão por tudo o que já sofreu, comigo e com os outros. Gostava que fosse infinitamente feliz.
Nunca lhe contei nada acerca da minha orientação e ela nunca me perguntou nada. Parece-nos impossível que ela não se tenha apercebido. Conheceu todos os meus namorados, que nunca apresentei como tal e não foram assim tantos. Quando nos telefonamos, pergunta-me sempre pelo Zé e manda-lhe cumprimentos. Sabe que vamos viajar juntos e, provavelmente, vai ficar com a Victoria durante alguns dias. Com os meus irmãos, a cena repete-se, a diferença é que me fizeram muitas perguntas sobre namoradas. Como nunca dei saída, acho que desistiram. Todos sabem que na mesma casa vive o Zé. Não sei se não se interrogarão se também partilhamos a mesma cama, se fazemos sexo ou se vivemos como um qualquer outro casal. Vim viver com o Zé depois de dois anos de namoro. Não foi intencional, mas a verdade é que as circunstâncias se conjugaram para que assim acontecesse. Todos os meus amigos sabem da minha orientação e se não sabem não são meus amigos de facto. A alguns disse-lhes, outros aperceberam-se imediatamente, outros foram-se apercebendo ao longo do convívio. Assim de repente, acho que nunca ninguém me confrontou com a pergunta se eu era gay. Neste momento, se ma fizessem responderia com franqueza, embora dependesse do contexto. Parece-me que, ao fim e ao cabo, as pessoas percebem que sou tão normal que até chateia.
terça-feira, 31 de julho de 2007
..:: louvor à mãe ::..
..:: circoripopolo goes airtistique ::..
~~ deputados ~~
Correndo o risco de me ver a braços com um processo disciplinar (tão em voga nos dias de caça às bruxas que correm), atrevo-me a dizer: levantem o rabinho e vão os senhores buscar a água e o café, está bem? Não gozem mais connosco e lembrem-se que são os senhores que estão ao serviço do país (como gostam de apregoar), não o contrário! Ah, e se é assim tão mau, por que não procuram outro emprego?
..:: apagão ::..
segunda-feira, 30 de julho de 2007
..:: perdidos&achados ::..
quando acordaste, pediste a alguém que fosses alto?
exigiste a alguém que calçasses o 45?, que fosses míope?, ou que a estupidez não se notasse muito?
pediram-te, no entanto, simpatia
e
tu achaste que a tinhas já em demasia
domingo, 29 de julho de 2007
~~ domingo ~~
..:: corrente d'ar ::..
§ 2. Férias. Ei-las, chegando. A seguir a elas, para mim, será a ausência de trabalho. Mais do mesmo, desde 2000, quando fiz o estágio. Havia a hipótese de Macau, de Estrasburgo e de um colégio: de Macau nunca recebi notícias, para Estrasburgo não fui por uma unha negra e desisti do colégio porque era longe (quer dizer, Macau e Estrasburgo ficam mais longe, mas nos dois casos a motivação era outra).
Ainda não planeámos nada: sabemos para onde, como, ± quando, e durante quanto tempo vamos. Como de costume, vamos à descoberta e temo-nos surpreendido significativamente. É uma chatice eu só poder tirar férias em Agosto (porque odeio o calor e viajar para sítios quentes e cheios de gente). Não gosto de frequentar lugares com muita carneirada e as viagens organizadas estão completamente fora de questão (Algarve, idem).
§ 3. Soube por email as datas dos concursos de professores. Falo dos destacados por ausência de componente lectiva, dos afectos a QZPs e dos contratados. A data parece-me uma piada: de 1 a 7 de Agosto. Acho que a tutela deve achar que estes professores todos (não são assim tão poucos) não têm férias, não trabalham e têm de estar sempre disponíveis. Acho que sim.
Eu pertenço aos contratados. Até quando? Pelos vistos, durante muito tempo. Não fosse o Zé e teria partido. Não tenho carreira, nem sei quando terei ou se terei a hipótese de a ter. Toda a gente me diz o mesmo e eu insisto: é o que gosto de fazer, gosto de ensinar e ver crescer @s miúd@s. Além disso gastei 6 anos da minha vida a preparar-me para o ensino e abandonava-o assim do pé para a mão?
§ 4. Praia e areia. Ontem fomos pela segunda vez este ano à praia. Como eu também detesto areia, o Zé nem insiste muito. Há dois anos que não íamos. Ontem correu muito bem: estava calor e a água gelada, uma boa combinação. Ah, odeio areia colada ao corpo, no cabelo, nas orelhas, nas partes, nos objectos que levo para me distrair (a monotonia sufoca-me). As filas de trânsito também não nos agradam. Fomos cedo e para o sítio do costume. O Zé faz nudismo e eu comecei a fazer por simpatia. Nunca apanhamos muita gente, portanto. Dá para respirar e limpar as vistas (ou não). Às vezes, como ontem, aparecem aquelas famílias-maravilha que chegam ao meio-dia (que é quando eu começo a dizer ao Zé que já estou farto) e abancam. Não fazem nudismo e das duas uma: ou vêm para ver os outros ou para fugirem à multidão da Fonte da Telha. De qualquer modo, há ainda os pais que fazem nudismo e os filhos adolescentes e pré-adolescentes envergonhados. Finalmente, os mirones:
Ao redor das dunas
mais do que vitelos
eram raposos diurnos.
Entregues a obstinadas
pulsões de morte: eles
e nós.
Tudo por um sol assim
e um comboio de brinquedo.
Eduardo Pitta »» Poesia Escolhida (Círculo de Leitores) »» p. 117
[ler mais aqui]
..:: artista da semana ::.. HELENA ALMEIDA
Helena Almeida não só problematiza e dilata o conceito de género como convoca diversas artes e explora diversas temáticas. Desde logo, destaco a performance, a pintura, a fotografia, a tradição do auto-retrato e respectivo afastamento, a encenação, a narrativa, o real e a ficção, o corpo e o corpo feminino em particular, a metamorfose, o minimalismo, o espaço e a sua ocupação, o preto e branco, a crina de cavalo, o pigmento, as cores puras. Nas últimas séries, a ocultação do rosto evita uma referencialidade imediata. Além disso, observando os vídeos que acompanham as últimas séries, percebe-se melhor como o trabalho preparatório chega a ser violento, até ao entorpecimento (das pernas, por exemplo, em Seduzir). Acrescente-se o facto de Helena Almeida ter nascido em 1934, o que revela a grande elasticidade daquele corpo. Já se sabia que o trabalho preparatório era fundamental, mas as fotos registam somente momentos previamente seleccionados do conjunto da performance.
Alguns links: ArtNet // CAMJAP // Instituto das Artes (Bienal de Veneza 2005)
© Helena Almeida, Ouve-me, 1979 (16 fotografias)© Helena Almeida, Desenho, 1999© Helena Almeida, Seduzir, 2002
sábado, 28 de julho de 2007
~~ arte poética I ::..
Agora, parece-nos que não mexeremos mais no formato. Não quisemos ser originais, ok!, mas que fosse respeitado o nosso gosto. Há coisas que ainda vamos descobrir como se fazem.
Sendo nós um zero à esquerda nesta matéria, houve muitas coisas que “repescamos” de blogues de que gostamos no conteúdo e estética.
Os assuntos são diversificados, mas haverá alguma regularidade, como perceberão pelos títulos. Atingimos a velocidade cruzeiro e colocaremos um a dois posts por dia. Excepto em Agosto, porque, devido às nossas férias, imporemos algumas interrupções.
O tom é sobretudo intimista e autobiográfico: espelha o que somos e como agimos. Esperamos que isso não seja impedimento do usufruto geral. Falamos de nós, mas também dos outros, de quem gostamos, amamos e odiamos, por acharmos que isso permite construir afinidades ou divergências. Achamos ainda que todos poderemos aprender juntos, porque é dessa forma que toda a gente constrói a sua própria identidade, com orgulho, seja ela queer ou não.
sexta-feira, 27 de julho de 2007
..:: no melhor pano ::..
Pronto, cá vai a passagem em causa:
Claro que esta funcionária que até é supervisora pediu para manterem a ordem, mas eu teria de gritar para ser atendido na minha vez, que afinal já tinha não o era porque fui "ultrapassado".
Perceberam? Ainda bem, é que nós não!
No coments, please!
..:: beijo......4 + palavras que nos salvam ::.. Manuel Bandeira
Neologismo
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
Manuel Bandeira
..:: perdidos&achados ::..
quinta-feira, 26 de julho de 2007
..:: Legături bolnăvicioase ::..
O trailer parece-me interessante: vejam alguns vídeos no Youtube.
terça-feira, 24 de julho de 2007
..:: corrente d'ar ::..
Mesmo não vendo nada, chego a casa e há duas notícias que me beliscaram:
§ O financiamento do ensino privado é um fartote: 85 milhões de euros fazem muita falta no público. Com financiamentos assim, não admira que o sucesso seja grande.
§ A Ministra mandou arquivar o processo contra Fernando Charrua, que entretanto já decidiu pedir indemnização pelos prejuízos causados. Não acaba ainda: as coisas continuam a não estar bem. Digo eu.
segunda-feira, 23 de julho de 2007
domingo, 22 de julho de 2007
~~ ausência ~~
..:: memória fotográfica ::.. Óbidos
..:: artista da semana ::.. RON MUECK
© Ron Mueck
sábado, 21 de julho de 2007
..:: paulo post ou um pouco depois ::.. Monga II
Aviso: segue-se um parêntesis longo.
O Nestum fez parte da minha dieta do tempo de estudante quando ainda calcorreava as montanhas. A minha mãe preparava-o todos os dias, por volta das 6h30m. Foi assim quase sempre durante 5 anos (2º e 3º ciclos). Mas chegou um tempo em que me enjoei de Nestum e a minha mãe começou a fazer-me torradas e outras coisas. O Nestum era mais fácil, claro, e rápido. Depois do Nestum, descia a pé a encosta num percurso de 2 km. Às vezes, caminhava, outras corria até me faltar o fôlego – nos dias em que demorava mais a levantar-me –, quase sempre ainda de noite (ou ao alvorecer). À tarde (melhor, quase à noite), sempre me esperou o mesmo percurso inverso, muito mais difícil, a subir, e cansado do dia. Por causa desse cansaço, aprendi a dormir com a cabeça encostada ao vidro do autocarro escolar a cair de podre, abanando e ruindo por todos os lados, por alcatrão esburacado tipo crateras, com o acréscimo do barulho d@s outr@s menin@s – e, hoje, durmo em qualquer lado. Às vezes, demorava horas a fazer o percurso que de manhã fazia em cerca de 20, 25 minutos. Sem o saber, aprendi nessa altura o que era a solidão. E para me fazer acompanhado, o eu começou a falar comigo. Raramente, tinha companhia e menos ainda boleia. Podia ir por uma estrada alcatroada ou pela de terra batida, que era a minha predilecta. Portanto, foram dias e dias de percursos, quilómetros de completo pensamento comigo mesmo. Era eu e o mato. E isso fez de mim um solitário com dificuldades de comunicar o que sinto, visto que falando comigo, por que fazê-lo com os outros? Além disso, continua a ser-me custoso interagir. Nesses percursos, por vezes, apareciam alguns bichos, nevoeiro, chuva, trovoadas. Mas era tudo natureza pura e eu. Impossível esquecer.
Também poucas pessoas sabem destas coisas muito minhas, pois não têm de levar com o meu passado em cima e não gosto de o usar para me vitimizar/ chamar a atenção, et cætera. Algumas vezes, a minha mãe (ou o meu pai, quase sempre a minha mãe) corria para me ir buscar, sobretudo quando não me tinha prevenido de manhã com chapéu-de-chuva ou estava alguma trovoada impossível. Pequenas coisas de que não me esquecerei porque me borrava de medo (o qual tive de aprender a enganar). Portanto, estes foram uns 5 longos anos, de muitos quilómetros. Foi ainda o período mais longo que vivi com os meus pais (a escola primária fi-la em casa de meus avós, a minha primeira incursão no silêncio e na solidão, e depois segui para Castelo Branco, seguindo-se Lisboa). Isto não se passou assim há tanto tempo, mas faz parte de um outro mundo meu. Não sou especial por causa disto, mas diferente com certeza que sim: poucos terão experimentado o mesmo.
Não voltei a comer Nestum (ou seja, há mais de 15 anos). Um dia, só ao sentir-lhe o cheiro, veio de chofre a memória toda destes tempos: as saudades incomensuráveis, uma mistura de tristeza com alegria (porque era realmente feliz, ignorando-o), acrescentando-lhe a falta de meu pai e a necessidade de sentir também o cheiro da minha mãe. Indescritível. Foi uma ferida nunca sarada que se expôs violentamente. E chorei até esgotar as forças. Tudo por causa daquele cheiro. A cena voltou a repetiu-se, entretanto. Consequência: não vale falar ou oferecerem-me Nestum, ok!
Esta longa introdução vem por causa deste post da Monga, que me fez retroceder no tempo, impelindo-me às lágrimas. Por muita coisa, e porque «Temos alguns mortos de intervalo / a melancolia de quem muito / contemporizou / e saber, dos espelhos, o jogo» (Eduardo Pitta, Poesia Escolhida, p. 91). De facto, a Diana tem razão: temos a ferida dos pais ausentes, mais outro milhão de coisas. Por agora, fico por aqui. Ah, também eu tenho uma caixa cheia das tuas cartas generosas. Obrigado, Monga!
A Fernanda e o Pedro, muito felizes juntos, no dia do seu casamento muito pouco tradicional.
P.S.: Reparem bem nos olhos da Fernanda. São lindos e combinam com o vestido.
sexta-feira, 20 de julho de 2007
..:: falemos então de ::..
Sobre o mesmo assunto, a Duca salientou, e muito bem, o comentário da Ferónica.
Mais, eu decidi fazer o mesmo com o comentário que a minha amiga Fernanda, heterossexual orgulhosa, me deixou hoje. Cá vai:
«Amigo, tudo o que possas dizer a uma pessoa que sobrestima o casamento heterossexual, dito «tradicional» (como eu odeio esta palavra!) não vai servir de grande coisa. Os argumentos são sempre os mesmos: a reprodução, a tradição, a família e merdas que não passam de palavras soltas. O casamento é uma instituição tão diversificada como o resto do mundo - há de tudo, de todas as espécies e feitios. Colocar obstáculos aos gays é obstar a diferença, melhor, é nem sequer querer vê-la.
Como é que ainda existem pessoas no mundo que acham que o casamento é igual para todos, que se funde o cérebro, a gaja une a vida ao seu gajo (e à família do dito), vice-versa, depois filhos (que obviamente NÃO vão ser gays ou a família desmoronava!) e a velhice para depender dos filhos.
Há dias em que me sinto tão feliz por ser diferente, mesmo dentro da «sagrada» instituição do casamento. Amén!»
É por opiniões como estas e por outras que temos tanto orgulho nos nossos amigos (heteros ou homos). Viva a diversidade de cabeças pensantes!
Adenda: A propósito do comentário do Zé a este post, fica este vídeo, já amplamente divulgado, mas que cabe bem no contexto da educação dos filhos.
..:: beijo......3 + palavras que nos salvam ::.. Eugénio de Andrade
25
Cala-te, a luz arde entre os lábios
e o amor não contempla, sempre
o amor procura, tacteia no escuro,
esta perna é tua?, é teu este braço?,
subo por ti de ramo em ramo,
respiro rente à tua boca,
abre-se a alma à língua, morreria
agora se mo pedisses, dorme,
nunca o amor foi fácil, nunca,
também a terra morre.
Eugénio de Andrade, «Matéria Solar», in Poesia (2000), p. 319
..:: publicidade ::..
quinta-feira, 19 de julho de 2007
..:: anda cá, ouve esta ::.. UTE LEMPER
Lili Marleen »»
..:: as cores do dia ::.. Monga
Tratamo-nos por mongos desde não sei quando (há muito tempo, portanto). Esqueci-me de como e quando começou. Mas afastem ideias, pois só a Monga está autorizada a tratar-me assim, além da Frol que foi quem nos apresentou, ainda quando andávamos na licenciatura. É o privilégio de partilharmos tanto. Conheço a Monga desde o tempo em que eu namorava com o S., tendo por isso sabido de alguns dos novelescos episódios que experienciei - a maior parte é para esquecer (e alguns já foram, outros mantêm-se).
Há muito que não epistolamos longamente, mas de vez em quando almoçamos: carpimos mágoas, dizemos mal do estado das coisas, comentamos as pessoas que passam, contamos desgraças próprias e alheias. Hoje não foi muito diferente. Mas acho poder dizer que, apesar do vento, nos separámos mais coloridos.
Tenho tanto para dizer sobre a minha Monga que receio começar. Vou só fazer alguns traços. Primeiro, algumas afinidades. Aqui destaca-se uma: a propensão para a melancolia. Sem motivos explicáveis, ela vem, pega em nós, lança-nos contra o chão e fustiga-nos violentamente. Nem sempre sei reagir, a Monga idem. Trata-se de uma faceta que pouquíssimos me conhecem, porque eu aparento estar sempre bem-disposto e sorridente. É essa a imagem que os outros têm de mim e é essa a minha máscara, confesso, de que a maior parte das vezes nem o Zé se apercebe (e ainda bem). Mais: a Monga foi crescendo cheia daquelas qualidades que a tornam amiga para o resto dos dias.
Divergimos no modo de agir: eu sou mais expansivo (apesar da introversão) e a Monga é mais defensiva. Eu reclamo e ela engole. Eu corro e ela pára. Dou-lhe ordens e tendo a ser bruto e pragmático - eis a minha vertente rural e beirã a manifestar-se. Só ela para me aguentar as birras, ignorar e continuar a gostar de mim. Quando ela começou a namorar com o Pedro, senti que a estava a perder, mas bom mesmo é vê-la feliz. O ano passado fomos os quatro a Barcelona. Reconheço que fui demasiado déspota nas decisões, mas, se na altura soubesse algumas coisas, não teria agido da mesma forma (e o Zé atenua imenso a minha necessidade de mandar).
Avante. Eu continuei a apostar no ensino, ela na investigação. Esteve parada, demorou a aparecer uma resposta, mas a sua opção parece ter valido a pena. Está a menos de um ano de deixar o seu gabinete fechado e pequeno. Sei como vive instável, como se esforça e dedica e como a tratam. Fico feliz por saber que projecta o seu doutoramento no estudo sobre as mulheres, um pouco na continuidade do mestrado. Sinceramente, acho que elas merecem e a Monga sabe o que faz e o que faz é de grande qualidade. Admiro-lhe a constância e a regularidade!
Parabéns, Monga pelo teu trabalho, pelo teu casamento, pelo Pedro, pelas tuas capacidades de escrita (antitesesetransparencias dá um cheirinho, tenho o privilégio de ter lido outros textos teus), pela paciência para me continuares a aturar, et cætera.
..:: pérolas ::..
quarta-feira, 18 de julho de 2007
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2 # Como já devem ter reparado, está a decorrer em Óbidos o Mercado Medieval (termina a 22 de Julho), com a animação sob responsabilidade do Teatro Agita.
terça-feira, 17 de julho de 2007
~~ tempo ~~
Ora aí está um belíssimo dia de Verão! Para que não restem dúvidas, as fotografias foram tiradas no decorrer da minha viagem de comboio para o Porto, ontem, 16 de JULHO de 2007.
..:: as cores do dia ::.. Teresa
Um dia, a Teresa apareceu cabisbaixa, pouco sorridente, e disse-me que estava em baixo. Foi-me difícil acreditar. Ela, que tinha sido para mim um bordão na ausência do Zé, estava agora com o chão a fugir-lhe sob os pés. Já lhe disse como fico angustiado ao vê-la assim. Já lhe ofereci desenhos, palavras, ombros, olhos, ouvidos, beijos, abraços e sei que nada disto é suficiente. Cá está um caso em que gostava de ter a panaceia para lhe colorir os dias e aliviar as horas.
Ultimamente, temos falado muito pouco e sinto a sua falta. Where are you, dear?
..:: quem fala assim ::..
Já agora, ainda, Frederico Lourenço, na sequência de Amar não Acaba (a 20 de Abril 2005).
segunda-feira, 16 de julho de 2007
..:: um dia destes, ainda... ::..
Sei que não vale a pena, mas dói ler estas coisas. Dói, porque quem o escreve não faz ideia do que é o respeito. Já nem falo do respeito pela diferença, diversidade, liberdade. Simplesmente, o respeito pelo outro que vai ao nosso lado na rua, que sobe connosco o elevador, que se encosta ao mesmo balcão, que paga os seus impostos, que sonha com um mundo mais justo e feliz. Sei que não vale a pena, mas custa continuar a ler que sou diferente e que por isso não tenho o direito a aceder às mesmas coisas que um casal hetero tem.
Eis pois algumas pérolas que nos são hoje oferecidas no Público (p. 43, 16 de Julho de 2007), sob a pena inenarrável de Alexandra Teté, defendendo “o casamento e o bem comum”:
(se lhe for difícil ler as citações propositadamente inseridas a preto, passe o cursor por cima do texto)
«O que está em questão é sim outra exigência da equidade (e da justiça): a que recomenda que relações objectivamente desiguais sejam tratadas de modo apropriada e justamente diferenciado, em ordem ao bem comum.»
R.: Deve falar de equidade e de justiça quem sabe o significado de tais vocábulos. Configura, s.f.f.:
s. f.,
igualdade; rectidão;
«Ora, a união homossexual é algo radicalmente diferente do casamento (heterossexual monogâmico). É de outra natureza, de outra espécie. Antropologicamente diverso. Diferente quanto ao seu valor social. Em particular, o casamento é uma instituição singularmente valiosa - e como tal regulado e protegido pelo Estado - como lugar natural da renovação das gerações e da formação do carácter e primeira socialização dos futuros membros da sociedade; e como sinalizador da bondade e riqueza da dualidade sexual sobre que se estrutura a sociedade.»
R.: Devo perceber que o homossexual não é monogâmico? Que outra espécie? E que outra natureza? Não percebo, não continuamos a falar de seres humanos? Qual a minha natureza como homo? Qual é a minha espécie? É que a minha sexualidade não se dissocia do meu eu, ok! E “instituição singularmente valiosa”? Fique sabendo que não quero valores destes, só quero ter os mesmos direitos que os outros têm por a lei lhes permitir estabelecer um contrato. “Dualidade sexual sobre que se estrutura a sociedade”? Bom, vejam-se os casos de Espanha (2005), do Canadá (2005), da Bélgica (2004) ou da Holanda (2001), cujas sociedades ruíram moralmente, cujas gerações perderam a capacidade de se renovar, como lá reina a podridão e a falta de carácter. Todos os dias vemos notícias sobre isso, não é? Deus nos livre dos cegos de espírito!
«O casamento é, portanto, um bem público (em sentido lato), ao contrário de outras formas de união sexual.»
R.: Bem público é investir na educação para que opiniões destas se apaguem. Definitivamente!
«Aliás, se o estatuto jurídico de casamento fosse violentado de forma a albergar as uniões entre pessoas do mesmo sexo, isso significaria a imposição desse conceito bizarro - e profundamente hostil - de "casamento" a todas as outras a quem repugna essa assimilação. Implicaria uma injustiça ou discriminação contra aqueles que reivindicam poder verdadeiramente casar.»
R.: Violentado, sou eu que ainda me atrevo a ler este texto até ao fim. A mim, pessoalmente, repugnam-me as pessoas que cheiram mal. Não me repugna que outros queiram ser felizes.
«A recusa do "casamento" homossexual não é, portanto, uma discriminação ilegítima (que, por exemplo, infrinja o tão invocado art. 13.º da Constituição). Qualquer pessoa tem (igual) direito a casar. Simplesmente, o casamento é, por definição e natureza, uma aliança entre um homem e uma mulher.»
R.: Não é uma discriminação ilegítima defender o casamento homossexual (sem aspas)? Ok, já percebi. Quem é que o definiu? Oh, quão facilmente nos esquecemos da misoginia e do heterossexismo.
«Mesmo nas sociedades em que foi tolerada ou aceite, nunca se concebeu ou pretendeu fazer da homossexualidade uma instituição social dotada de estatuto público equiparável ao casamento. E ninguém é obrigado a casar...»
R.: Repito, vejam-se os casos dos países com casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Eu percebo que estão completamente enganados e vivem na ignorância pura e dura, mas, graças a deus, a Alexandra Teté sabe e resolveu tornar-se arauto da verdade.
«A campanha do lobby gay para a reconceptualização do casamento, de modo a incluir a união homossexual, não tem nada a ver com a igualdade de oportunidades. Visa antes a promoção da conduta homossexual e a desconstrução - não apenas semântica - do casamento e da família, tal como a esmagadora maioria das pessoas (com boas razões) os entende e preza.»
R.: Lobby gay? Este era o momento de humor? Era para eu me rir?
«Todavia, há em Portugal verdadeiros e graves casos de desigualdade, discriminação de facto e exclusão: pessoas com deficiências, jovens em situação de reinserção social, minorias étnicas, desempregados de longa duração, os sem-abrigo (para não falar da discriminação fiscal dos casados relativamente aos solteiros, ou da discriminação laboral das mulheres grávidas).»
R.: Acrescento: os elencados atrás merecem a nossa compaixão, os outros são do demo e devem incendiar-se instantaneamente no fogo dos infernos.
«Não seria melhor aplicar os dinheiros públicos na sensibilização e correcção destas formas de desigualdade de oportunidades, em vez de os investir no marketing da ideologia gay?»
R.: Não e NÃO. Investir na correcção de algumas desigualdades e ignorar outras não é o caminho. A pergunta retórica final fica tão bem. Sei que não exige resposta porque ela já está implícita. E por isso calo-me e cito José Augusto Mourão: «A conclusão poderia ser esta: em tempos de guerra contra a repressão justifica-se que a escrita seja cruz ou espada. Virá um tempo em que tudo desaguará na praia sem fragor, sem publicidade, sem agrura» (in CASCAIS, António Fernando, 2004. Indisciplinar a Teoria: Estudos Gays, Lésbicos e Queer. Lisboa: Fenda, p. 292).
Adenda: Há desenvolvimentos pela mão de Gonçalo Figueiredo Augusto e da Mente Assumida.
..:: rabiscos e garatujas ::.. Denise
Já agora, Denise, hás-de dar uma olhadela ao bicho bravo, que também se ocupa da criação de ficções (mais ou menos autobiográficas).
domingo, 15 de julho de 2007
~~ felizes juntos ~~
..:: artista da semana ::.. ANTHONY GAYTON
© Anthony Gayton, Narcissus da série Mythology