segunda-feira, 16 de julho de 2007

..:: um dia destes, ainda... ::..

... perco a cabeça e exijo ser europeu a sério.
Sei que não vale a pena, mas dói ler estas coisas. Dói, porque quem o escreve não faz ideia do que é o respeito. Já nem falo do respeito pela diferença, diversidade, liberdade. Simplesmente, o respeito pelo outro que vai ao nosso lado na rua, que sobe connosco o elevador, que se encosta ao mesmo balcão, que paga os seus impostos, que sonha com um mundo mais justo e feliz. Sei que não vale a pena, mas custa continuar a ler que sou diferente e que por isso não tenho o direito a aceder às mesmas coisas que um casal hetero tem.
Eis pois algumas pérolas que nos são hoje oferecidas no Público (p. 43, 16 de Julho de 2007), sob a pena inenarrável de Alexandra Teté, defendendo “o casamento e o bem comum”:
(se lhe for difícil ler as citações propositadamente inseridas a preto, passe o cursor por cima do texto)

«O que está em questão é sim outra exigência da equidade (e da justiça): a que recomenda que relações objectivamente desiguais sejam tratadas de modo apropriada e justamente diferenciado, em ordem ao bem comum.»
R.: Deve falar de equidade e de justiça quem sabe o significado de tais vocábulos. Configura, s.f.f.:

Equidade: do Lat. aequitate

s. f.,
igualdade; rectidão; imparcialidade; justiça.

Justiça: do Lat. justitia

s. f.,
conformidade com o direito; acto de dar a cada um o que por direito lhe pertence; equidade; alçada; magistratura; conjunto de magistrados e das pessoas que servem junto deles; poder judicial.

«Ora, a união homossexual é algo radicalmente diferente do casamento (heterossexual monogâmico). É de outra natureza, de outra espécie. Antropologicamente diverso. Diferente quanto ao seu valor social. Em particular, o casamento é uma instituição singularmente valiosa - e como tal regulado e protegido pelo Estado - como lugar natural da renovação das gerações e da formação do carácter e primeira socialização dos futuros membros da sociedade; e como sinalizador da bondade e riqueza da dualidade sexual sobre que se estrutura a sociedade.»
R.: Devo perceber que o homossexual não é monogâmico? Que outra espécie? E que outra natureza? Não percebo, não continuamos a falar de seres humanos? Qual a minha natureza como homo? Qual é a minha espécie? É que a minha sexualidade não se dissocia do meu eu, ok! E “instituição singularmente valiosa”? Fique sabendo que não quero valores destes, só quero ter os mesmos direitos que os outros têm por a lei lhes permitir estabelecer um contrato. “Dualidade sexual sobre que se estrutura a sociedade”? Bom, vejam-se os casos de Espanha (2005), do Canadá (2005), da Bélgica (2004) ou da Holanda (2001), cujas sociedades ruíram moralmente, cujas gerações perderam a capacidade de se renovar, como lá reina a podridão e a falta de carácter. Todos os dias vemos notícias sobre isso, não é? Deus nos livre dos cegos de espírito!

«O casamento é, portanto, um bem público (em sentido lato), ao contrário de outras formas de união sexual.»
R.: Bem público é investir na educação para que opiniões destas se apaguem. Definitivamente!

«Aliás, se o estatuto jurídico de casamento fosse violentado de forma a albergar as uniões entre pessoas do mesmo sexo, isso significaria a imposição desse conceito bizarro - e profundamente hostil - de "casamento" a todas as outras a quem repugna essa assimilação. Implicaria uma injustiça ou discriminação contra aqueles que reivindicam poder verdadeiramente casar.»
R.: Violentado, sou eu que ainda me atrevo a ler este texto até ao fim. A mim, pessoalmente, repugnam-me as pessoas que cheiram mal. Não me repugna que outros queiram ser felizes.

«A recusa do "casamento" homossexual não é, portanto, uma discriminação ilegítima (que, por exemplo, infrinja o tão invocado art. 13.º da Constituição). Qualquer pessoa tem (igual) direito a casar. Simplesmente, o casamento é, por definição e natureza, uma aliança entre um homem e uma mulher.»
R.: Não é uma discriminação ilegítima defender o casamento homossexual (sem aspas)? Ok, já percebi. Quem é que o definiu? Oh, quão facilmente nos esquecemos da misoginia e do heterossexismo.

«Mesmo nas sociedades em que foi tolerada ou aceite, nunca se concebeu ou pretendeu fazer da homossexualidade uma instituição social dotada de estatuto público equiparável ao casamento. E ninguém é obrigado a casar...»
R.: Repito, vejam-se os casos dos países com casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Eu percebo que estão completamente enganados e vivem na ignorância pura e dura, mas, graças a deus, a Alexandra Teté sabe e resolveu tornar-se arauto da verdade.

«A campanha do lobby gay para a reconceptualização do casamento, de modo a incluir a união homossexual, não tem nada a ver com a igualdade de oportunidades. Visa antes a promoção da conduta homossexual e a desconstrução - não apenas semântica - do casamento e da família, tal como a esmagadora maioria das pessoas (com boas razões) os entende e preza.»
R.: Lobby gay? Este era o momento de humor? Era para eu me rir?

«Todavia, há em Portugal verdadeiros e graves casos de desigualdade, discriminação de facto e exclusão: pessoas com deficiências, jovens em situação de reinserção social, minorias étnicas, desempregados de longa duração, os sem-abrigo (para não falar da discriminação fiscal dos casados relativamente aos solteiros, ou da discriminação laboral das mulheres grávidas).»
R.: Acrescento: os elencados atrás merecem a nossa compaixão, os outros são do demo e devem incendiar-se instantaneamente no fogo dos infernos.

«Não seria melhor aplicar os dinheiros públicos na sensibilização e correcção destas formas de desigualdade de oportunidades, em vez de os investir no marketing da ideologia gay?»
R.: Não e NÃO. Investir na correcção de algumas desigualdades e ignorar outras não é o caminho. A pergunta retórica final fica tão bem. Sei que não exige resposta porque ela já está implícita. E por isso calo-me e cito José Augusto Mourão: «A conclusão poderia ser esta: em tempos de guerra contra a repressão justifica-se que a escrita seja cruz ou espada. Virá um tempo em que tudo desaguará na praia sem fragor, sem publicidade, sem agrura» (in CASCAIS, António Fernando, 2004. Indisciplinar a Teoria: Estudos Gays, Lésbicos e Queer. Lisboa: Fenda, p. 292).

Adenda: Há desenvolvimentos pela mão de Gonçalo Figueiredo Augusto e da Mente Assumida.

8 comentários:

  1. Haveria muita coisa a comentar. Mas eu fervo com este tipo de raciocínio. E, por isso, não comento. Ou conhecerias uma Denise que eu espero nunca vires a conhecer!
    Mas acabei de ter uma ideia: vou fundar um país, um reinado, um império no meu blogue. E lá, garanto, não se é diferente por se ser homo. Ou hetero. Ou bi. Ou trans!
    Irra!

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  2. Minha linda, também eu fervo; mas apresentas boa ideia, pelo menos dará para limpar o espírito. Beijinhos

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  3. Paulo

    Vim dar ao teu blog quase por acaso.
    É que há um senhor que tem um blog, http://fado-alexandrino.blogspot.com/ onde podes ler duas verdadeiras pérolas de ignorância e estupidez onde ataca os LGBT em especial as lésbicas, em títulos como "Lésbicas e afins" e "É sobre fufas". Claro que recebeu comentários arrasadores. Numa dessas pérolas, esse senhor resolve, num comentário, falar nesse artigo da tal Tété e, quando o procurava, dei com o blog.

    Gostei do que por aqui li. Voltarei.

    Beijo

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  4. Duca, vieste por acaso e eu pude, assim, descobri o teu. Também gostei do que li, sobretudo do teu comentário ao senhor Alexandrino. Amei! É realmente longo! Também hei-de voltar ao teu blogue e com frequência.

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  5. Esta pessoa que escreve tais ideias não passa de uma infeliz, mais preocupada com o que se passa na casa dos outros do que na sua própria. Quem tem preconceitos contra os outros, é porque é incapaz de olhar para si. Senão, não tinha tempo de andar a atirar postas de pescada em relação às opções sexuais dos outros. Há assuntos tão mais importantes do que andar a perder tempo a questionar as opções sexuais dos outros. E, a seguir, vamos começar a ter preconceitos em relação às posições, aos jogos preferidos, ao uso da lingerie??

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  6. Brisa, claro que isto é de quem não tem mais nada que fazer! É, realmente, tão fácil atirar postas de pescada!

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  7. Amigo, tudo o que possas dizer a uma pessoa que sobrestima o casamento heterossexual, dito «tradicional» (como eu odeio esta palavra!) não vai servir de grande coisa. Os argumentos são sempre os mesmos: a reprodução,a tradição, a família e merdas que não passam de palavras soltas. O casamento é uma instituição tão diversificada como o resto do mundo - há de tudo, de todas as espécies e feitios. Colocar obstáculos aos gays é obstar a diferença, melhor, é nem sequer querer vê-la.
    Como é que ainda existem pessoas no mundo que acham que o casamento é igual para todos, que se funde o cérebro, a gaja une a vida ao seu gajo (e à família do dito), vice-versa, depois filhos (que obviamente NÃO vão ser gays ou a família desmoronava!)e a velhice para depender dos filhos.
    Há dias em que me sinto tão feliz por ser diferente, mesmo dentro da «sagrada» instituição do casamento. Amén!

    Fernanda

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  8. Good post and this enter helped me alot in my college assignement. Thank you on your information.

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