domingo, 30 de março de 2008

..:: auto-panegírico descarado ::..

Há dias em que me fecho na minha concha de rapaz-ostra e deixo de existir para os outros – para que saibam, essa é a maioria dos meus dias. Também há os outros, aqueles em que me orgulho de contrariar a minha vertente de bicho-do-mato fugidio, como nos últimos dias: além de ter falado com o marido de uma grande amiga (afinal também ele meu/nosso amigo), com um outro amigo que se foi abaixo e me deu por tabela, ou o confronto com uma situação particular tão delicada que nos sentimos pequeninos na condição de humanos. É nestes momentos que queria ser um super-herói e mudar o mundo, ter as palavras certas numa mão e a felicidade na outra para oferecer.
Resumindo, e desculpem o egoísmo, só espero ajudar-me, ajudando.




Agora, que batem à porta os dias normais, cerca-me a nostalgia e a neura. Deixarei de ter tempo para vir aqui regularmente, mas em compensação o Zé vai ficar cá o mês inteirinho. Nem tudo pode ser mau. Tenham uma boa semana, nós vamo-nos “vendo” com muitas intermitências.

..:: artista da semana ::.. NERO DE DEUS


[29 de Setembro, 1968]

"A arte vencerá e quando olharmos para trás perceberemos que caminhamos juntos"

























todas as obras pertencem a Nero de Deus

sábado, 29 de março de 2008

..:: uma Cantiga de Amigo para um Amigo ::..


Uxía, "Vou-me eu, fermosa", in Estou Vivindo No Ceo [1996]



Vou-m'eu, fremosa, pera'l-rei:
por vós, u* for, penad'irei
d'amor, d'amor, d'amor, d'amor;
por vós, senhor, d'amor, d'amor.

Vou-m'eu a la corte morar:
por vós, u for, hei a penar
d'amor, d'amor, d'amor, d'amor;
por vós, senhor, d'amor, d'amor.

E se vos non vir, que farei?
Cuidand'en vós, morrer-vos-ei
d'amor, d'amor, d'amor, d'amor;
por vós, senhor, d'amor, d'amor.


Pedr'Eanes Solaz (séc. XIII)



*****


Um dia, o acaso quis que nos cruzássemos, deu-me a filoxera e acabei por falar demais e criar um equívoco. O mesmo acaso, rapidamente, nos devolveu cada um ao respectivo mundo. Passados oito anos reencontro-o, noutro acaso feliz e só possível graças a este universo bloguístico. Lembrava-me d'"A Princesa Russa" de Mia Couto, mas não das Cantigas de Amigo, confesso.
Decidi escolher uma destas, mas também podia ter sido de amor ou de escárnio e maldizer **. Andei a basculhar na memória da estante e tinha várias hipóteses, acabei por escolher esta Cantiga de Amigo que não é muito conhecida (pois, não é de Dom Dinis, o trovador ou o agricultor, nem de Afonso X, o sábio, seu avô, nem de Martín Codax…), mas que é magistralmente cantada pela galega Uxía.
Não sei, mas acho que cada vez menos serão as pessoas que compreenderão a importância e o carácter único das Cantigas de Amigo na cultura, língua, história e sociedade coevas e posteriores. Já nem fazem parte do currículo de Português, senão lateralmente para se perceber de onde vem Camões.
Pessoalmente, prefiro as musicadas, mesmo com música contemporânea porque o poema ganha outra alma. Como bem saberão, ao contrário da lírica provençal, na galaico-portuguesa, poucas foram as cantigas que nos chegaram com pauta: de um total de cerca de 1680 textos profanos***, chegaram só 13 com pauta, através do Pergaminho Vindel, descoberto em 1913, e do Pergaminho Sharrer, descoberto em 1990, sendo que, na sua criação, poema e música eram absolutamente indissociáveis (e por isso mesmo se chamam cantigas, o objectivo era serem cantadas). Se nunca ouviram La Batalla sob a direcção de Pedro Caldeira Cabral no álbum Cantigas d'Amigo, façam favor de o fazer, perceberão melhor como a nossa melancolia é já antiga e enraízada.

Finalmente, o poema da donzela que lamenta ir para a corte, perdendo o contacto com o seu amado, a música e o vídeo montado com várias imagens vão direitinhos para ti.




* Quem sabe francês é fácil: "u" = "où" = onde
** As cantigas de escárnio virão noutro momento
*** Além das cantigas profanas, ainda existem as Cantigas de Santa Maria de Afonso X, que podem ser ouvidas e lidas aqui na íntegra (façam a experiência e se não conhecem Jordi Savall, Hespèrion XX ou La Capella Reial de Catalunya, ouçam em particular a cantiga 100)

sexta-feira, 28 de março de 2008

..:: palavras que nos salvam ::.. Alexandre O'Neill

[dedicado ao meu homem que hoje regressa a casa :)]


© Pierre et Gilles, Les amoureux (Johan et Léo), 1998 (há mais neste post)




O amor é amor


O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!

O amor é o amor - e depois?


Alexandre O'Neill »» in Poesias Completas: 1951/ 1986 ("Abandono Vigiado") »» 3ª edição (Lisboa) »» IN/CM »» 1995 »» p. 176

..:: venha mais uma ::..

Graças a um amigo, podemos colocar aqui estas pérolas em português do Brasil de pura inteligência loura. É de morrer a rir, sobretudo com a sublinhada a branco. Confiram se não é uma delícia!


POR QUE DAR CANTADAS EM LOIRA NÃO DÁ CERTO?

(VOCÊ) - Oi gata... Qual é seu telefone?
(LOIRA) - Nokia. E o seu?

(VOCÊ) - Uau! Isso aqui é uma calçada ou uma passarela de moda?
(LOIRA) - Hum, agora você me pegou... É que eu não sou daqui. Então, não sei te informar...

(VOCÊ) - Eu não tiro o olho de você!
(LOIRA) - Ainda bem, n'é? Senão eu fico cega!

(VOCÊ) - Nossa! Eu não sabia que boneca andava!
(LOIRA) - Sério? Nossa, você 'tá por fora, hein!? Já tem até Barbie que anda de bicicleta!

(VOCÊ) - Que curvas, hein!
(LOIRA) - Nem me fala... Eu bati o carro 7 vezes pra chegar nessa festa!

(VOCÊ) - Esse seu vestido vai ficar lindo jogado no chão do meu quarto!
(LOIRA) - Quer comprar um igual pra fazer um tapete? Eu te indico a loja....

(VOCÊ) - Meu coração disparou quando eu te vi!
(LOIRA) - Socorro! Alguém me ajude! O moço está tendo um ataque cardíaco!

(VOCÊ) - Eu quero o seu amor, gata!
(LOIRA) - Espera só um pouquinho... Amô-or! Tem um moço aqui querendo você!

(VOCÊ) - Quer beber alguma coisa?
(LOIRA) - Ai, que bom que você apareceu, garçom!

(VOCÊ) - Me dá seu telefone, vai!
(LOIRA) - Socorro! Um assalto!

quinta-feira, 27 de março de 2008

..:: as cores do dia ::.. Denise

Sigur Rós, Starálfur



Carneirada: temos tant@s amig@s deste signo que se fossemos dedicar um post a cada um, não nos sobraria tempo para mais nada (além destes, há os que vão chegando, onde se inclui o Pinguim e a Duxa, sim tu!). De qualquer modo, com a Denise é diferente, visto que a conheço há mais tempo e temos, já com o Zé incluído, uma ligação inexplicável que se traduz em admiração. Este post é para ela, mas também para @s carneir@s que connosco se cruzam e cujo fogo admiramos muito. Ok, podem complicar tudo, não se orientarem muito bem, mas não faz mal, todos nós gostamos de vós assim. Muito!



Sigur Rós, Samskeyti




PEQUENO POEMA

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu
nem houve estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

para que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha mãe.


Sebastião da Gama »» in Serra-Mãe



Montagem sobre uma música dos Sigur Rós


quarta-feira, 26 de março de 2008

..:: as reacções ::..

Sabem que mais, acho que os prémios lhes ficam muito bem. Curvamo-nos perante as reacções e comentários.

Agradecemos ainda aos que puserem o desenhinho na barra lateral e, aí, perdemos-lhes a conta...

Tenho de acrescentar a origem do desenho: foi feito sobre um texto das selecções Reader's Digest, quando devia eu andar no Secundário. Sabem o que versava o texto? Suicídio. Fiz questão de cortar essa parte nos prémios, mas o vestígio das letras dá um aspecto muito artesanal e de desenho mal feito (que, aliás, confirmo que está). O original está reproduzido aqui, confirmem, s.f.f.. Para os mais pessimistas, como vêem há esperança: a perspectiva de abismo não pode ser um permanente fantasma sobre nós. De repente, surge um sol cheio que preenche os dias e isso é tão belo, forte e feroz que a vida ganha outro rumo, não é verdade C?

(adenda: a minha reacção foi tardia, andava para publicar este post há muito tempo; finalmente, seguiu em frente)



terça-feira, 25 de março de 2008

..:: direito de imagem ::..

..:: memória fotográfica ::.. FLUL + Sérvia

Ontem (24.03.2008), deu-nos para ir almoçar à FLUL. Há imenso tempo que não púnhamos lá os pés: eu concluí que tenho saudades de carregar lá (e para lá) os livros, e fingir que estudava e pensava; o Zé confessou-me que saudades nem vê-las e eu compreendo muito bem porquê.

Em todo o caso, continua quase tudo na mesma e a meter água, o que é fantástico.

Decidi tirar algumas fotos de conveniência, mas, assim que cheguei à porta da fac., descobri logo umas quantas coisas para piscar o olho ao Pinguim (isto é que vai aqui um namoro, hein?). Isto não é um fotoblog (lá chegarei), mas à falta de inspiração e excesso de fotografias...
Bom, cá vão as fotos:






Hydra, eis um desafio: diz-nos lá o que está aqui escrito. Please!



Mutim quê? Lesbico?








Pinguim, agora é especialmente para ti. Lê lá bem:






Viste bem? Além da exposição (fraquinha), há na FLUL um Curso Livre de Língua e Cultura Sérvia que até é gratuito. Deixas de ter justificação para falares com o Déjan em inglês.
Fotos possíveis da exposição: