segunda-feira, 3 de março de 2008

..:: até à vista ::.. MARIA GABRIELA LLANSOL

[Lisboa, 24 de Novembro, 1931 † Sintra, 3 de Março, 2008]




Como, de resto, é evidente, não tive intenção de ser concebido. Dei comigo já sentado no quarto das sombras com uma perspectiva de descida aos infernos diante dos olhos, ninguém estava à altura de receber-me, nenhuma relação humana era exacta para tornar-me equilibrado e justo, ou útil; no quarto das sombras a luz entrava a jorros por duas grandes janelas de sacada mas eu habitava aí, não ultrapassava o limiar do corredor que possuía uma passadeira de oleado negro e brilhante porque, diziam, havia um fantasma acocorado à entrada e que, afinal, nada mais era do que, a certas horas do dia, o volume rutilante do sol no oleado; ficava, pois, limitado por uma proibição a essa sala.

Maria Gabriela LLansol »» in Depois de os Pregos na Erva »» Porto »» Afrontamento »» 1973 »» p. 7


8 comentários:

  1. Que pedaço tão bem escolhido!!!
    Sobre a morte... é a ordem natural e por essa razão detesto as frases que apelam ao que se perde em ocasiões destas. A obra fica, é património dos que cá andam. Pena que pouca gente repare nele e o use com seu.

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  2. Um belo excerto...
    Mas vamos ao que interessa: o Dancing Queen dos "Abbas" que toca aqui agora é alguma provocação porque eu não parava de dançar no Sábado?!?! Oh pá! Estou resmas de ofendido!
    ;)))

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  3. # Tongzhi e X, falar da chegada à vida é realmente falar da morte, daquela que nos acompanha desde que nascemos. Confesso que não sou grande fã da obra da Llansol, mas reconheço-lhe o mérito e a criatividade.

    # X, quanto à música... nada tinha a ver, mas, pronto, já que falaste, lembrei-me que se te pode aplicar, sim senhor e fica a saber que quando me vires dançar, te vais rir que nem parvo. Só não me perguntes o que é que eu tomei, ok! Já estou um bocado farto que o façam :))
    Ah, estou resmas de agradecido por te ter conhecido (agora com o F incluído)

    Abraços aos dois!

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  4. É triste, mas é uma realidade frequente; só quando alguém, que embora do domínio público, não seja personalidade citada por muitas vezes, como é o caso de Maria Gabriela Llansol, desaparece, nos dá realmente vontade de conhecer a sua obra; eu, pecador, me confesso...

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  5. Parabéns por esta homenagem a esta escritora quase desconhecida. Eu confesso que só li um livro dela mas tenho uma amiga que a adora.
    Um abraço.

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  6. # Pinguim, a obra da Llansol não é fácil nem tradicional. Da minha experiência pessoal, exige luta! A morte é sempre um bom pretexto para avivar a obra e nunca é tarde demais!

    # Special, também só li o livro que citei... Também me confesso! :)


    Abraços aos dois

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  7. este fragmento é excelente, mas será necessaário andar sempre a quantificar as lágrimas?

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  8. Firmina, não importa a quantidade, mas a qualidade.
    Abraço e obrigado pela visita!

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