quinta-feira, 6 de março de 2008

..:: via crucis ::..


I
servem-nos a rebentação das ondas à refeição
já não conseguimos comer

II
servem-me o prato cheio de espinhos que me enchem a boca e se cravam na garganta
já não consigo falar

III
prendem-me as pernas e os braços
já não consigo reagir

IV
com pregos, vazam-me os olhos
já não consigo ver

V
cortam-me não um, mas os dedos todos
já não consigo escrever

VI
fizem-me engolir lâminas e vidro esmagado
já não consigo sentir

VII
cortam-me os bofes aos bocados
já não consigo respirar

VIII
abrem-me o ventre, expõem-me as entranhas que enchem de vermes
e eu, impávido, sem conseguir reunir os meus pedaços e limpar as tripas

IX
o cutelo desfaz as minhas vértebras
já não consigo manter-me

X
arrancam-me o coração
já não consigo

XI
o martelo parte-me a cervical
vou-me

XII
cerram-me o crânio
mas quê? também já não conseguia pensar mesmo

XIII
aberta a jugular, acabam de me sangrar
esvaio-me

XIV
roubam-me o corpo
deixei de existir



e agora duas perguntas indiscretas? vou para onde? querem que eu faça o quê?




Paulo / VI.III.MMVIII


1 comentário:

  1. Não se preocupem, caríssim@s, que está tudo bem! Só há situações que não posso explicar. Ah, tudo isto é pura ficção. A sério! :)) Por isso mesmo, os comentários... caput! N'a pas. Só humor negro.

    Beijinhos e abraços

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