terça-feira, 29 de abril de 2008

~~ árvores ~~

Há amigos que às vezes nos saltam à memória por motivos tão simples! O M. foi um dos grandes responsáveis pela reviravolta que a minha vida levou aqui há uns anos. Com a sabedoria de quase oitenta anos de vida difícil, viu em mim um potencial que eu desconhecia ou não queria reconhecer. Acreditou e fez-me procurar outros caminhos. Lembrei-me dele por ter querido, sem sucesso, aqui há dias, referir um brejeiro soneto de Bocage que o M. decorara e recitava com muita graça. Encontrei aqui uma boa versão da peça que transcrevo:


XIII

É pau, e rei dos paus, não marmelleiro,
Bem que duas gamboas lhe lobrigo;
Dá leite, sem ser arvore de figo,
Da glande o fructo tem, sem ser sobreiro:

Verga, e não quebra, como o zambujeiro;
Occo, qual sabugueiro tem o umbigo;
Brando ás vezes, qual vime, está consigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro:

Á roda da raiz produz carqueja:
Todo o resto do tronco é calvo e nú;
Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!

Para carvalho ser falta-lhe um u;
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar metta-o no cu.


Bocage, Poesias eroticas, burlescas e satyricas, London, 1926.

..:: cantiga d'escarnho [II] ::..


Édouard-Henri Avril, Sappho (cf. aqui)


Mari'Mateu, ir-me quer'eu daquen, *
por que non poss'un cono baratar;
alguen que mi o daría nõno ten,
e algũ(a) que o ten non mi o quer dar.
Mari'Mateu, Mari'Mateu,
tan desejosa ch'és de cono com'eu!

E foi Deus já de conos avondar
aqui outros, que o non an mester,
e ar feze-os muito desejar
a min e ti, pero que ch'és molher.
Mari'Mateu, Mari'Mateu,
tan desejosa ch'és de cono com'eu!
**



Cantiga de escarnho (sátira contra homossexuais, neste caso femininas) de Afonso Eanes de Coton »» in Cantigas de Escárnio e Mal-Dizer »» comentários de Carlos Miranda, seguindo a proposta de Rodrigues Lapa »» Sacavém »» Palimpsesto »» p. 147



* [O poeta queixa-se que Maria Mateus desejava tanto as mulheres como ele, não podendo negociar com ela o cono]
** [Natália Correia adaptou esta cantiga na Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica »» 3ª edição »» Antígona/ Frenesi »» 2000 »» p. 43]

segunda-feira, 28 de abril de 2008

~~ Edson Cordeiro ~~

Confesso que não conhecia Edson Cordeiro. Mas isso não foi impedimento para aceitar o convite para o ir ver ao S. Luís. O palco quase vazio e envolto em negro abria espaço a tudo. E o que veio foi, realmente, muito. Edson tem uma voz incomum. Tem uma tessitura de quatro oitavas, ou seja, para os leigos, é capaz de cantar as notas de quatro escalas. Normalmente cantamos Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, não é? Pois o rapaz canta isso quatro vezes, ou seja: Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si, Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si. Vá, tentem lá e digam-me até onde chegaram antes de "perder o pio". Isto, só por si já seria um espectáculo. Mas Edson não fica por aí. Sabe escolher o reportório e, desta vez, muniu-se de temas para homenagear algumas cantoras. Admito que o que menos me impressionou foram os temas da Amália. Todavia, tiro-lhe o chapéu à coragem de reinterpretar aqueles fados à nossa frente. Piaf assumiu novas dimensões na voz de Edson. E Madonna também. Está bom de ver que estes foram os temas de que mais gostei, mas não foram os únicos.
O concerto aliou os dois instrumentos mais perfeitos: o piano e a voz humana. A tudo isto juntou-se um ambiente necessariamente intimista, pontuado, na medida certa, com momentos de humor e descontração. O desenho de luzes sublinhou perfeitamente a importância da voz, não criando focus de distração inúteis. Por tudo isto (mas não só!) Edson Cordeiro está de parabéns, assim como quem teve a iniciativa de o trazer até cá.
Vou ficar atento a novas oportunidades de o ver. E quem não foi, perdeu!




Este tema não foi cantado ontem, mas ilustra bem a capacidade vocal do rapaz. O concerto foi óptimo e o término da noite não lhe ficou atrás. Obrigado pela companhia!

..:: morte ::..










há uma morte boa doce nas tuas pernas quando transmigramos entre os nossos corpos em rebentação
foge-me o corpo. resvala-se-me a alma
morro numa morte de luz tão máxima
mais nada que morrer assim numa morte
muito branca contigo nos braços e nos lábios a explosão do teu corpo








Paulo // iii.iv.mmviii

domingo, 27 de abril de 2008

..:: cantiga d'escarnho [I] ::..

A un frade dizen escaralhado,
e faz creúd’a quen lho vai dizer,
ca, pois el sabe arreitar de foder,
cuid’eu que gaj’é de piss’arreitado;
e pois emprenha estas con que jaz
e faze filhos e filhas assaz,
ante lhe digu’eu ben encaralhado.

Escaralhado nunca eu diria,
mais que traje ant’o caralho arreite,
ao que tantas molheres de leite
ten, ca lhe pariron três en un dia,
e outras muitas prenhadas que ten;
e atal frade cuid’eu que mui ben
encaralhado per este seria.

Escaralhado non pode seer
o que tantos filhos fez en Marinha
e que ten ora outra pastorinha
prenhe, que ora quer encaecer,
e outras muitas molheres que fode;
(e) atal frade bem cuyd' eu que pode
encaralhado per esto seer. *



No seguimento da cantiga de amigo, uma de escarnho de temática brejeira de Fernand’Esquio »» in Cantigas de Escárnio e Mal-Dizer »» comentários de Carlos Miranda, seguindo a proposta de Rodrigues Lapa ** »» Sacavém »» Palimpsesto »» p. 121


* [Um frade fazia-se passar por impotente, mas três mulheres que dele tiveram filhos no mesmo dia provaram o contrário.]
** [Manuel Rodrigues Lapa, opositor do regime ditatorial, publicou Cantigas d'escarnho e de mal dizer dos cancioneiros medievais galego-portugueses na Galiza, em 1965]






sábado, 26 de abril de 2008

..:: o paraíso ::..

lanço o braço num movimento rápido e com o indicador em riste traço no céu limpo da madrugada o caminho: é para ali que eu quero ir contigo, meu amor. para o paraíso.






[vista da escola para o deserto coroado com um arco-íris, num destes dias de abril-águas-mil
]




Cerf, Mitiska & Jaren - Light The Skies

sexta-feira, 25 de abril de 2008

quinta-feira, 24 de abril de 2008

..:: + notas sobre 19.04.08 : concluindo ::..





Conclusão da saga.
Sou tendencialmente organizado: tenho uma certa mania pela ordem, que se pode manifestar também sob a forma de caos. Quem me conhece melhor sabe disso. Uma consequência do facto de me esquecer facilmente de tudo (ou só de algumas coisas) e de também me dispersar por vários interesses. Daí ter criado aquela lista que impingi ao João que foi obrigado a um upgrade nas aplicações informáticas. Sei que lhe criou problemas, mas como bom aluno aprendeu depressa. Ficámos com o contacto de quase toda a gente (excepto telefónico e email de poucos) e, portanto, também gostaria de partilhar essa pequena informação, visto que gostava que as pessoas prolongassem e aprofundassem o contacto que estabelecemos. Alargou-se o rol de amigos, conhecidos. Façam o mesmo, multipliquem contactos, prolonguem a corrente. Foi também para isso que pus a lista dos participantes num post anterior.



João, temos de pensar num próximo jantar! Duxa, estás metida ao barulho! Gostava que voltássemos a estar felizes juntos. Muitas vezes. Junho parece-me uma boa hipótese. Por todas as razões, mas também pelo Dejan por cá. Que acham?

Já agora, quando quiserem combinar alguma coisa, menin@s de longe, etc. quando vierem, apitem, dêem notícias, puxem por nós, desafiem-nos! O mais que pode acontecer é teremos já a disponibilidade comprometida. Como escrevi em Fevereiro, podemos não ter tempo para blogues e afins, mas não prescindimos de estar com @s amig@s, sobretudo se precisam especialmente de presença e atenção. E se precisarem de alguma coisa que possamos ajudar…





~~ parabéns ~~

24 de Abril já não é dia de festa. Há sete anos que deixou de o ser. Lembro-me da última vez que te dei os parabéns. Foi pelo telefone, e o tom da tua voz já deixava adivinhar que desistiras da vida. Que saudades tenho de te abraçar e me reconfortar no teu olhar cúmplice. Como lamento cada segundo que perdi da tua companhia. Para que saibas que estou feliz ainda assim, Mana, parabéns!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

..:: + notas sobre 19.04.08 : Pinguim dixit ::..




Ainda antes de encerrar o assunto: era só um comentário, agora é um post.


Julgavas que eu não aparecia, era? Não sei bem como começar, sabes, nem como vou acabar, pois sendo um carneiro genuíno, começo a falar sem um esquema previamente elaborado e às vezes perco-me... Outras vezes falo demais, daí ter perguntado ao segurança, à saída, de que blog era ele? Tudo isto para analisar um post grande em extensão e em "conteúdo", a história de um dia 19 de Abril, de 1996, de 1997 e de 2008. Comecemos pelo ano de 1996, o único dos três que te traz recordações tristes; mas a vida é isso mesmo, Paulo, e se não fossem os momentos maus, não dávamos o devido valor ao que de importante a vida tem; daí, passamos para o ano seguinte e uma nova vida calhou a aparecer na data da partida: é a renovação; e o sentimento que nutres por este afilhado-filho é como bem dizes (e tanto que eu penso da mesma maneira) a maneira de colmatar a ausência do filho natural, mas as opções existem para nós seguirmos o nosso destino. Finalmente, ontem! foi uma noite bonita, as coisas correram-nos bem, se calhar tivemos sorte...com os convivas; mas como apareceram eles, e exactamente aqueles? Porque nós os escolhemos; a eles e àqueles que não puderam estar presentes por razões diversas; e escolhemo-los porque os temos na nossa lista de blogs e se lá estão, é porque lhes reconhecemos valor para isso; e assim, afinal não tivemos sorte, estivemos com Amigos! E, com amigos, raramente as coisas correm mal, sabias? Finalmente, eu, o João... que te mereceu palavras que me deixaram um pouco confuso; acredita, Paulo, e Zé também, que se alguém pudesse duvidar de que através de um blog se poderia estabelecer uma já forte amizade, devemos dizer a esse alguém que olhe para nós: vocês foram entrando devagarinho, naquele número necessariamente não demasiado vasto, dos verdadeiros Amigos e isso dá-me um imenso prazer; este nosso empreendimento conjunto apenas resultou bem, por isso, porque não custou nada...foi tudo tão natural, o ir ali a ver o restaurante, o contactar este ou aquela, os constantes telefonemas dos últimos dias, foi tudo fácil. E pronto, já está; já está o jantar e o meu comentário acarneirado (bati o recorde?). Beijos para vocês, um obrigado imenso e um agradecimento a todos os que estiveram presentes, física, e espiritualmente.


Pinguim, o Urso, tinha mesmo razão quanto à conjugação astrológica favorável! Veja-se a cena que te aconteceu. Estás a ver a acontecer comigo, não estás?
Há um ponto no teu comentário muito importante, Pinguim, que bate na minha noção de acaso. Tens toda a razão quando escreves que fomos nós que escolhemos os convivas (os presentes e os ausentes). E isso não aconteceu por acaso, porque, simultaneamente, nós também fomos escolhidos. Não foi sorte, foi mesmo isso: corporizámos amigos.
Quanto a entrar devagarinho: os meus curtos anos e as demasiadas feridas ensinaram-me a prudência. Prefiro ir descobrindo e ir-me maravilhando com as pessoas, confirmando ou contrariando a imagem inicial, o retrato mental que elaboro à primeira vista. Raramente me engano (olha a certeza a subir-me à tola! Nada convencido). Tornei-me muito pragmático: tem de haver feedback, reciprocidade, empenhamento. Desisti de percorrer o caminho da amizade sozinho: sabes, aquele que tem dois sentidos… Não me posso sentir a caminhar sozinho numa relação. Por falta de tempo ou desmotivação existencial, posso ausentar-me, mas estou sempre aqui! Contigo, e com quem temos conhecido graças ao blogue, foi tudo muito natural, de facto. E continuará a ser, tenho a certeza disso.
Percebi o teu embriagamento. Eu fiquei inebriado!

Obrigado eu! Obrigado nós! Obrigado todos nós!

..:: + notas sobre 19.04.08 : comentários ::..



Se fosse responder na respectiva caixa de comentários do post sobre 19 de Abril, perder-me-ia. Resolvi perder-me num post (com links para o respectivo comentário e blogue). Espero que nos próximos dias consiga regularizar a situação e responder a todos os outros (emails incluídos).




1) aos presentes:
Catatau, menino bonito sem blogue, muito me alegra que aqui comentes! E comenta à vontade que nós, além de gostarmos muito de feedback, não temos por hábito censurar. Espero que o teu menino bonito também o faça ☺!
Não sabes do que te livras por não teres blogue! Já viste o tempo que perdes (ganhas!) ao correres tanto blogue interessante?


Luís V (V (quinto)), o jantar foi só um reforço, visto que o meu calendário familiar/pessoal já o tinha apontado como muito importante pela coincidência de datas, a par dos aniversários d@s man@s, dos pais, das mortes e, sobretudo, da data em conheci o Zé e que está quase aí (além do aniversário dele, claro).


Imperador (tong zhi), na impossibilidade de conviver com todos, fica a intenção (promessa?) de na próxima vez rodarmos as companhias de mesa e espero estar mais social, ou pelo menos mais falador que observador. Gosto da ideia das oportunidades! É isso mesmo! Espero ainda que queiram mais, até saciar “essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira” (Lispector).
Oh pá, não sei onde poderei encaixar este tipo de eventos na avaliação, mas, pronto, obrigado pela ideia.
E que cena te havia de acontecer!


Unfurry (O Blog de informações absolutamente inúteis!), acredita que conseguimos ser bem mais divertidos, sobretudo, quando o ambiente é mais intimista e entramos em despique de toleirices. Tu envergonhado? Ah, está bem! Já agora, tu tinhas tanta vergonha que no início, antes de te sentir bem o pulso, pensei que te tinhas de pôr no lugar… depois, constatei: o gajo tem mesmo piada! ta da da!


Sombra/Innersmile (À Sombra dos Palmares/ Um Voo Cego a Nada), bom trocadilho com seca e molha! Como já registei algures, a partir do momento em que a escrita ganha um rosto, um corpo, uma personalidade tridimensional, nada pode ser como antes. Passa a ser muito mais humana, logo, muito mais interessante! (ou fantástico, como tu registaste)


Importa que tenhas aparecido, Arms! (Reflection), que tenhas revisto caras tuas conhecidas e que tenhamos podido conhecer o rosto do menino desenhador.


Keratina (Vícios e Realidades), quis ter dançado escandalosamente, mas o meu homem para dançar está quieto (ele é mais cantar) e eu não tinha confiança suficiente para o fazer… pode ser uma ameaça ☺, mas se aceitares fazê-lo é só uma promessa. Com muito jeitosos por perto, claro. Naquele fufex todo, o teu gesto com os dedos junto à boca podia ter dado azo a tanto mal-entendido!


Special Kzinho (O Melhor dos Dois Mundos), meu homónimo, gostei de te conhecer o rosto. Até domingo!


Manuel (Memória Fracturada), não me faças rir: tu, campónio? Tu, tímido? Bem-hajas pela simpatia!


Simpático Ding Ling, repito a admiração pelo teu sorriso bonito, transparente, franco. Volta sempre, aparece sempre que te apetecer. És sempre muito bem-vindo!


Graduated Fool (Some Ridiculous Thoughts), ainda bem que te comovi. A minha intenção passava mesmo por aí, além de dar conta da data.
Arrasaste, sim senhor! (ou foste arrasado? Fiquei na dúvida)


MrTBear (Mr. Teddy Bear), obrigado nós pelos quilómetros em cima. Explicação aceite!


X (Comyxtura Blov), tu és mesmo engraçado: a culpa é sempre dos outros, está visto ☺
Quanto à anca, se calhar confundi-te mesmo, mas eu estava tão sóbrio (achava eu…). Tu sabes organizar jantares! Não venhas cá com histórias (só não tiveram sorte a escolher o sítio).


Oz (O Teorema de Oz), houve mais detalhes, mas nem todos são para ser verbalizados, registados aqui. Fico satisfeito por teres gostado e por te referires a esta etapa. Que sobreviva a curiosidade de conhecer mais! Eu por mim abri a porta a uma série de gente e intuo que não me arrependerei e esse é uma sensação muito boa.

Duxa, não tens blogue ainda… mas vais ter! A malta ajuda! E tens desde já um grupo de fãs. Também superou muito as minhas expectativas (achei que ia ficar no meu casulo…). Bocas foleiras? Quem é que é de bocas foleiras, hein?! ☺


Luís (Individual(mente)), sou de opinião que o jantar não deve terminar aqui, logo, aceitamos desafios desde que a agenda o permita! Teremos o maior gosto e alegria em transmitir-te alento!



2) aos ausentes
Denise (Rabiscos e Garatujas), pena mesmo. Ter-te-ias divertido. Quanto à coragem, devias ter visto os engasganços iniciais! Neste caso, não houve espaço para desilusões, só boas ilusões!


Mikael (Infinito Perdido), se gosto tanto de te ler, claro que tinha de me lembrar de ti! Todos nós gostaríamos de ter levado contigo!
Tens toda a razão: esta vida é a melhor forma de celebrar a outra. Não me esquecerei da tua criação: sobrinho-filho (já agora sobrinho-[a]filh[ado])


André (André Benjamim), muito obrigado, sobretudo pelas “cidades flutuantes”! (link)


SP (Sítio Peludo), claro que notámos a tua ausência. Estiveste em espírito, portanto!


Monga (antitesesetransparencias), também tu devias ter estado connosco. Ias adorar estar lá. Sabes como fiquei chateado quando soube da tua intenção acerca da data e quando percebi que não te era possível mudá-la. Minha amiga, não te imaginava numa disco gótica! As surpresas dos últimos tempos não param de me deixar boquiaberto!


Cristina (Um dia, uma Estrela disse...), também fizeste falta, mulher, mas sabendo-te distante nem falei do assunto, ainda por cima condenada ao trabalho.


Max (Devaneios Desintéricos), realmente, nem respondeste! Não está legal! Já tinha percebido que a vida real fazia andar ocupado… que da próxima vez arranjes uma brecha!


Sim, Socrates (Castelo d'Areia), estiveste em espírito e nas nossas palavras. O carinho mais não é que um reconhecimento que sentimos a tua ausência.


Hydrargirunzinho (Υδράργυρος), tu sabes que o qualificativo é esse mesmo. Ainda achei que podias aparecer depois, mas nada. É para te sentires bem e acredita que ter-te-ias sentido muito bem! Pessoas normais num jantar normal.


Sim, amigo Rato do Campo (Boa noite e um queijo!), sabemos e compreendemos a distância, mas longe, longe é a Austrália.


Brama (LavaFlow), viver nos extremos tem a desvantagem de te afastar da virtude do centro. O amigo Graduated arrasou também pela nórdica estatura!... até eu sou mais pequeno que ele! Não está certo!
Vê lá se da próxima vez te fazes à estrada e dás um ar de tua graça, ok?!


Kapitão Kaus (Kapital Kaos), não precisa de ser um mega(?) jantar, mas quando tiveres oportunidade e desde que seja com tempo e tenhamos agenda…


Algbiboy (minhaluz), obrigado eu pela tua simpatia!



[bolas, estou zonzo com tanto link!]

..:: palavras que nos salvam ::.. Pedro Sena-Lino

Interrompo a levitação dos dias para citar Pedro Sena-Lino (cf. também Companhia do Eu). No seu 31º aniversário, tinha de o fazer.



xli. [fim de amor]

tiveste um nome e era o meu

porque partiste tão cedo
palavra tão palavra
que para designar-te nada
nenhum deus te era linguagem
nenhum silêncio te gritava
e o meu corpo não chegava
para a vida me caber inteira

porque partiste ácida e vazia
como veneno como sangue
porque partiste como água
morta que só não corre mais
e o que fazer deste mundo
que assenta no morto que sou eu

tiveste o nome e eu era-o

como a natureza chama o seu contrário
os pulsos do ruído surdo
rasgam as paredes do tempo
digo o meu nome dentro da cabeça
e nem o eco me pertence

tive o teu nome e era o meu

partiste todas as palavras
partiste em todas as palavras
e os verbos nascem mortos na garganta
as palavras não dizem as palavras
e as palavras pensamentos sem corpo
agarram um horizonte negro
improferivelmente eu

já tive um nome
agora sou apenas eu




Pedro Sena-Lino »» Biofagia »» Vila Nova de Famalicão »» Quasi »» 2003 »» pp. 63-64

segunda-feira, 21 de abril de 2008

..:: levitação ::..

Caríssim@s, só para dizer que continuo sem tempo para responder aos últimos comentários que aqui foram deixando aos últimos posts... continuo sem tempo para nada, nem para ver/responder aos emails, também por isso, mais a onda de tanta positividade, sinto-me como se levitasse a alguns centímetros do chão. Desde já, um repetido obrigado pela vossa simpatia e compreensão!

[se quiserem comentem mais abaixo]

domingo, 20 de abril de 2008

..:: 19 de abril ::..

Este promete ser um post longo, cheio de memórias e impressões em dose tripartida. Espero que o consigam ler todo, mas em todo o caso, começo pelo fim, ou seja pelo jantar, e os mais curiosos e persistentes que cheguem até onde a paciência permitir.



parte 1 – 2008
Este ano, combinando o jantar com o João Pinguim, acabámos por escolher a data em função da disponibilidade de um casal que já o ano passado queria ter vindo ao primeiro que o João organizou sozinho (nessa altura, o felizes juntos nem sonhava em existir). Vieram neste. Torci o nariz por causa da data. Muito. Pela coincidência das datas no meu currículo pessoal de que falarei na parte II e III, além do jantar de aniversário da Monga. Mas era pegar ou largar. Peguei. Pegámos. Um dia que prometia ser grande.

Primeiro, tenho tanta pena que não tenham estado connosco pessoas importantíssimas que, assim de cor, enumero: a Anabela, a Celeste, a Denise, a Kika, a Monga (que estava à mesma hora no jantar dela), a Patrícia, o Rainha e o Graphic, a Vanessa, o Algbiboy, o Altares, o André, o Brama, o Bruno e o Miguel que afinal não puderam comparecer, o C, o Cristms, o Dário, o imprescindível Hydra!, o Kapitão, o Maurice, o Max, o Melões, o Mikael, o Paulo, o Rato, o Sítio Peludo, o Socrates, o wishes & heros e respectivos. E muitos outros que não nomeio… Tenho muita pena, mas espero que noutra oportunidade possam aparecer. Sentimos a vossa falta!

Segundo, sinto que devia ter circulado mais e conversado mais, mas apesar da máscara do sorriso, acabo por me sentir um bocado apertado no meio de conhecidos estranhos. Ainda pensei fazer o pino, mas não achei apropriado.

Terceiro, os agradecimentos especiais e personalizados:
Ao João, pela dedicação e empenho que pôs em todo o processo. Foi ele a força motriz, a razão e a concretização do jantar. Fez quase tudo, se não tudo. A noite não teria sido tão perfeita, se não fosses tu. Obrigado, meu Amigo, tenho a certeza que os nossos laços se aprofundaram. Adorei a experiência, quero repetir e não me importo nada de voltar a organizar outra coisa, já com a Duxa em força na blogosfera e com a sua experiência em acção (e, já agora, com o Dejan cá!). O meu (nosso) principal agradecimento vai muito especialmente para ti.
Como o João, também felicito as meninas. Adorei (adorámos) conhecer pessoalmente a Keratina que apareceu sem a rosa!, mas também pôr os olhos sobre a Duxa! Adorei termos ido para a Maria Lisboa e ver dançar a Keratina em euforia e de ainda nos termos roçado um pouquito. Da próxima vez será pior! Adorei o sotaque da Duxa e o sorriso.
O Graduated Fool veio para arrasar…
O Innersmile veio de Coimbra de propósito para jantar, esperemos que não tenhas apanhado uma seca.
Ao Jota-Jay, tenho de agradecer o cd que me ofereceu, que eu não conhecia e que por sinal inclui uma música que eu amo “As facas” com voz da Viviane. Também lhe agradeço os beijos e o abraço, eu que, já o tinha dito aqui, gosto tanto de contacto físico (ah, não mexi muito no cabelo da Duxa, quase nada, mas também não queria ficar com nenhuma extensão na mão). Ding Ling, é impressão minha ou és um tipo simpático! Gostei muito do teu sorriso.
Ao Kokas, agradeço o sorriso e a oportunidade de finalmente ter posto a vista sobre o príncipe sapo. Não perdoamos que não tenhas ido connosco até ao Maria Lisboa. Nem nos despedimos, rapaz!
Ao Luís e su muchacho, agradeço a simpatia e o sorriso.
Gostei muito de ver (e não lhes o disse, mas registo-o aqui) o amor do LittleTB e do MrTBear! Rapazes, sejam sempre muito felizes juntos! Obrigado também pela vossa simpatia e por também terem vindo de longe.
Ao Luís, agradeço o ter ouvido a nossa contida fúria e ter percebido a revolta. Muito obrigado pelo conselho! Não dançaste nada, mas da próxima vez…
Ao Luís e ao Gonçalo, agradecemos terem vindo, a simpatia e tudo o que não se agradece: a amizade.
Ao Luís V, a boa disposição, o sorriso malandro e não perdoamos que não tenhas ido directamente da noite para o trabalho!
Ao Special K, não conversámos muito, mas lá está, somos capricornianos e entendemos vem o que o corpo quer dizer. Espero que tenha valido a pena, rapaz!
Ao Manuel, pela atenção profunda, pelo sorriso malandro, pela alegria. Também devias ter vindo connosco!
Em conjunto com o Manuel, o The Unfurry Swear Bear foi o rapaz com quem mais trocámos palavras e cumplicidade. Rimo-nos muito, dissemos e inventámos disparates. Gostámos de ter conhecido alguém que faz crepes e tinha como promessa levar com o rolo da massa quando chegasse a casa. Esperemos que da próxima vez a cara metade dê a cara (e pode trazer o rolo, mas nós não comemos ninguém).
Ao Tales, agradecemos os pacotes de açúcar e o lixo que nos atirou em cumplicidade com o X. Ambos se fartaram de dançar, sobretudo o X. Oh pá, também quero dançar assim!, e F, tens de controlar o movimento de anca do teu gajo...
Ao TongZhi, pela excelente boa disposição. Rapaz, temos de trocar umas ideias sobre educação. Ah, ainda não fiz o prémio para a dita senhora, mas não me esqueci! Esperamos que tenhas chegado bem a casa.

Aos outros, agradeço a presença, lamento não termos falado mais do que cumprimentar e fazer a chamada, mas com tanta gente era impossível muito mais. No final, acho que todos ficámos a ganhar. O nosso mundo pessoal ampliou-se com a vossa presença!



parte II – 1996
Há doze anos, saímos para o Bairro, eu, o Esseme e uns quantos amigos. Estava em baixo e não me apetecia falar nem argumentar com o Esseme, muito menos esgrimir acusações. Foi uma noite terrível. Medonha. De madrugada, quando chegámos à residência universitária, tinha uma série de chamadas e mensagens no telemóvel que tinha deixado no quarto. Na última delas, e quase em desespero, a minha irmã-mãe, dizia-me que a nossa avó-mãe tinha partido de repente. Fiquei em choque. Senti-me culpado por não ter levado o telemóvel, por não me ter despedido devidamente daquela senhora pequenina, maternal, autoritária, de ferro, hipocondríaca, carneira, heroína que semeou traços físicos e psicológicos na minha mãe. Chorei que nem um perdido. Era a última do rol dos avós. Passei 5 anos da minha infância com ela e, como eu, todos os meus irmãos lá passámos muitas memórias importantes. Partiu numa viagem para a qual nunca se tinha preparado e ele própria mo disse em sonhos, pedindo-me que eu a agarrasse porque não se queria ir embora. Neste dia, lembro-a com lágrimas, saudades e a certeza de que um dia a encontrarei feliz.


parte III – 1997
Há onze anos, liga-me o meu cunhado: nasceu o JP. Já? Estava previsto vir duas semanas depois. Logo hoje, um ano depois da avó se ter ido. E logo o filho da minha irmã-mãe que tanto sofreu com a nossa avó-mãe. Achei que não podiam haver coincidências. Uma memória triste, suplantada por outra tão feliz, numa fase em que percebi que o meu futuro jamais seria o mesmo. Novamente, a minha irmã-mãe escolheu-me para ser o padrinho. Fiquei feliz. Depois, ajudei-o a crescer: mudei-lhe muitas fraldas, li-lhe muitas histórias, dei-lhe comida à boca com aviões, camiões, autocarros, motas, legumes voadores, até não ter mais imaginação e soltar um berro, porque sempre teve um problema com a comida e ainda hoje fica de castigo na mesa até acabar a refeição. Acho que se o deixassem só se alimentaria de ar. Dei-lhe várias palmadas bem dadas e ainda hoje me trata com um misto de deferência e desprezo que me parecem puro exagero. Gosto do garoto. Muito. Sempre que o vejo, fico com a alma cheia. Orgulho-me da educação que os pais lhe têm dado e da criatura fantástica que tem crescido tão bem. Tivesse eu coragem para conversar abertamente com os pais dele sobre o óbvio e ele poderia ser muito mais o filho natural que nunca terei. Carneiro, teimoso mas não inflexível, inteligente, despistado. Não gosta de letras, leva com livros atrás de livros que eu lhe ofereço. Disse-me que ontem não queria receber nem livros nem jogos. Ok, não recebeu nem uma coisa nem outra. Vim de lá feliz (e curioso sobre o jantar), os meus irmãos e demais sobrinhos restantes viriam depois.





Misturei tudo, mas tudo isto fez parte do meu dia. Também por isso, ontem foi um grande dia. Obrigado pela partilha! Obrigado por virem aqui! Também por isso, nunca poderei esquecer que o primeiro jantar que organizámos com o grande João foi num dia 19.

..:: obrigado! ~~



Obrigado aos 33 que se juntaram a nós os dois. Aos ausentes, deixamos a nossa impressão de que correu muito bem e esperamos que nas próximas iniciativas apareçam!
Como prometido, a lista dos ilustres presentes:


Catatau & Cia (ainda sem blogue?)
Duarte & Rich (ainda sem blogue!)
Duxa (ainda sem blogue, mas por pouco tempo :))
Graduated Fool
Innersmile
Jonsi & Cia
Jota-Jay & Cia
Keratina
Kokas
LisbonLG & Cia
LittleTB & MrTBear
Luís Galego
Luís & Gonçalo
Luís V.
Manuel Braga Serrano
Mozzart
Oz
Pinguim
Rui (ainda sem blogue!)
Special K
The Unfurry Swear Bear
TheTalesMaker
ThongZhi & Cia lda
Will
X & F
Zé & Paulo

E aos que se juntaram depois do jantar: Arms | Pedro | Rack




A todos eles, um prémio pelo convívio:

[p.s.: este post terá prolongamento]

sábado, 19 de abril de 2008

..:: um dia ~~




Um dia ainda juntamos uma porrada de malta dos blogues num jantar. Hoje é o dia!




Até logo!


..:: venha mais uma ::..

Enfureçam-se à vontade que isto é para rir do princípio ao fim. Uma preparação para a miscelânea do jantar de hoje. Ah, mas nós não temos culpa, mandaram-nos para o email... e rir é o melhor remédio! E Abril continua com águas mil :(



CARNEIRO
É entusiasta e energético, por isso só faz é merda. Leva tudo à frente até bater com os cornos na parede. E depois chora porque é um maricas de merda. Gostam de desporto mas têm mau perder como o caralho. A mulher Carneiro é bastante peluda na zona púbica. As crianças Carneiro são geralmente piolhosas e ranhosas.

TOURO
Calmos e tenazes, mas é só de aparência porque são invejosos e teimosos como os cornos que têm na cabeça (mas no verdadeiro sentido da palavra, porque são muitas vezes encornados por serem péssimos no sexo). Comem que nem umas bestas e de boca aberta. As mulheres Touro são umas vacas. As crianças Touro são geralmente feias e peidam-se muito.

GÉMEOS
Falam como o caralho mas não dão uma para a caixa. Babam-se e deitam 'perdigotos' para cima daqueles com quem falam. São uns filhos da puta que só pensam neles e nas gajas ou gajos que querem mocar... sim os gémeos papam tudo o que lhes aparece à frente, desde o padre da paróquia à velhinha com Alzheimer. A mulher Gémeos acaba geralmente em puta drogada. A criança Gémeos é manipuladora e gosta de enfiar o dedo no cu.

CARANGUEJO
São amorosos e sonhadores por isso metem nojo aos porcos. Sempre com cara de parvos são muitas vezes apanhados a masturbar-se em gabinetes de prova de roupas porque não arranjam ninguém que lhes queira tirar os 3. Vestem-se mal porque mesmo aos 40 são as mães que lhes escolhem a roupa. As mulheres Caranguejo têm mamas grandes e flácidas e usam pensos higiénicos ultra com alas (Reglex). As crianças caranguejo cheiram mal dos pés e gostam de mexer nos seus cagalhões com um pauzinho de fósforo.

LEÃO
Altivo e normalmente muito bonito, o que faz com que seja arrogante e petulante...mas tão petulante que só dá vontade de lhe arrebentar a tromba à chapada. Têm a mania que são bons mas são um merda cagada porque têm muitas vezes hemorróidas, o que lhes impede de fazer sexo anal (que adoram). Usam muitas vezes o cabelo estilo 'emigrante'. As mulheres Leão são sado-masoquistas e adoram que lhes dêem palmadas no cu com uma pá das obras. A criança Leão é estúpida e tem muitas vezes diarreia.

VIRGEM
Organizado e metódico, tem a mania de guardar os preservativos usados para não esquecer de quantas já deu. É apanhado muitas vezes nas dunas a masturbar-se com revistas da Mónica e do Cebolinha. Tem pavor de sexo oral pois receia engasgar-se. A mulher Virgem tem os lábios da 'snaita' bastante salientes e costuma rapar os pelos em forma de coração. A criança Virgem é medonha. Tem geralmente os dentes podres.

BALANÇA
Com ar simpático mas completamente desequilibrado. Tem ar de louco. Costuma falar sozinho nas esplanadas e tem tiques de bicha. Gosta de arte mas acha que a Mona Lisa é uma marca de desentupidor de sanitas... portanto é mesmo um burgesso... uma besta quadrada. Tem muitas vezes apenas um testículo. A mulher Balança é machona e costuma ter buço. A criança Balança tem frequentemente falta de cálcio nos ossos por isso é raquítica e mentirosa.

ESCORPIÃO
É dinâmico, mas falta-lhe ali qualquer coisinha. Geralmente falta-lhe o bom senso para perceber que não pode passar o dia a enfiar o dedo no cu e a cheirar. Costuma ter doenças venéreas porque prefere enfiar o preservativo nos pés enquanto faz sexo. É pálido e tem sempre aspecto cadavérico. A mulher Escorpião rói as unhas dos pés e assobia pela 'snaita'. A criança Escorpião aprecia geralmente o seu próprio ranho e pensa muitas vezes que é um cão com raiva. Uiva muito.

SAGITÁRIO
Divertido, faz muitas vezes figuras tristes por se despir em público com as cuecas habitualmente cagadas e mijadas. O seu vocabulário é limitado e tem olhos de carneiro-mal-morto. É bastante peludo e tem o hábito de fazer tranças nos pintelhos. A mulher Sagitário é pavorosa e tem as axilas com bastante pilosidade. A criança Sagitário é uma aberração da natureza mas é simpática.

CAPRICÓRNIO
Inteligente mas tem a mania que é mais que os outros. Por esta razão é muitas vezes espancado e violado. Gosta de gritar durante o sexo e de morder as bordas do cu do/da parceiro/a. É alcoólico e costuma ter sempre a casa que mete nojo.A mulher Capricórnio tem uma peida gigante e peida-se com frequência. A criança Capricórnio é uma cópia dos pais... bêbeda e mal-cheirosa.

AQUÁRIO
É um visionário. Mas não vê muito mais além que a ponta do seu nariz pois é muitas vezes um cegueta com óculos tipo fundo de copo 3. É um azarado de primeira e costuma pisar merda com frequência. O seu aspecto porco e sujo faz com que tenha poucos amigos. A mulher Aquário é maluca e arrota de boca aberta à mesa. A criança Aquário parece um macaquinho. Borra-se com frequência.

PEIXES
É amável... mas só quando lhe convém. É interesseiro mas sofre de consciência pesada. Devido aos nervos tem a pele escamosa a contrastar com o cabelo oleoso. Gosta de ser maltratado e abusado. Aprecia chuva dourada e 'spanking'. A mulher Peixes cheira a peixe e tem a paranóia de se masturbar com as unhas falhadas. A criança Peixes é porca e pensa que é um bolo de arroz.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

..:: contra-ordenação à falta de tempo ::..

1) Your Horoscope for APRIL 17, 2008
Today there are some intense energies at play, Paulo. And the best way to deal with them is to fight back with kindness. For the next 24 hours, make a concerted effort to be ten times more courteous and more polite than you usually are, to absolutely everyone. Observe the changes around you. You will be surprised at the effect you have on others, and how it will come back to you. You may wish to keep this practice long after the day is over!



2) Já está: terminou uma das minhas mais recentes e desde sempre dores de cabeça (e de barriga): aprovado no exame de código.
Acho que estou eufórico, mas ainda não tenho a certeza que preciso de descomprimir e ainda não chegou a oportunidade. Os últimos dias, foram de um corrupio inenarrável, com as brechas ocupadas a rever apontamentos e o início da leitura do código na terça-feira, que adiei até não poder mais. Lá tive de empinar medidas, velocidades, contra-ordenações, categorias e subcategorias de veículos e licenças. Sempre gostava de saber para que serve. Acho que não ficou nada!
E este desabafo pode parecer uma estupidez completa, mas para quem como eu sempre teve uma aversão a comandar um carro e um ódio visceral a livros de aprendizagem de código da estrada, é um enorme feito. Digo eu. Agora falta o resto.
Quem precisar de esclarecimentos, é só perguntar que isto agora ainda está fresquinho, posso é não responder já que tenho mais cinco mil coisas para preparar, sobretudo o aniversário do meu afilhado e o jantar que coincidem no sábado. Mas Deus é grande e estou quase a ganhar umas asas.

Espero estar desculpado por não ter comentado ninguém nos últimos dias!

Ai, as intermitências continuam e preciso de dormir antes de cair para o lado. Vá lá que o horóscopo diário diz que ando cheio de energia… valha-me isso (além de sugerir que sou um besta em andamento...).


podem substituir o ela por um ele, ignorem a parte da gravidez e têm o crime perfeito

terça-feira, 15 de abril de 2008

..:: nunc et semper, monga ::..










bela, cheia de uma graça tão especial que só os anjos ostentam, olha para nós, presenteia-nos com a tua companhia. aproxima-te. quero tocar o teu rosto, sentir a tua pele, pôr os dedos no teu cabelo encrespado e sussurrar-te o que já sabes. ofereço-te as minhas próprias ruínas. agarro-te ao colo e levo-te aonde nos disserem que é o fim do mundo. e se esse lugar for de uma aridez tal que os espinhos se nos cravem até aos ossos, imaginaremos um idílico éden, bem ao estilo de jeová e das suas testemunhas. aí, rir-nos-emos dos nossos deuses, isto é, de nós próprios, e falaremos todas as palavras possíveis e inventaremos as outras, de como somos felizes e infelizes, vomitaremos os demónios ao nosso redor e inventaremos os truques mais sagazes para contornar as tempestades e domar o mar em rebentação.

tenho saudades.

temos saudades. cá em casa. preocupamo-nos. perguntamo-nos: que será feito da Monga? temendo sempre que a fruta caia antes de amadurecer, quando te apunhalam o coração já antes em chamas.
há muito que não te escrevo nada e queríamos oferecer-te hoje um ramo cheio de flores da cor dos teus olhos e não temos mais nada para além de nós próprios.
na combustão destes dias, sobrevive o nosso apoio. sabes disso.
sabes ainda que somos teus como tu és nossa. nunc et semper. sê feliz, muito feliz. e parabéns!







Paulo // xv.iv.mmviii


segunda-feira, 14 de abril de 2008

~~ vamos aonde? ~~



Como nós, certamente já ouviram dizer que "muita gente junta não se salva". Como nós, responderão que "quem vai prò mar avia-se em terra". É aí que está o cerne da questão. No próximo Sábado, acabado o repasto e plenos de energia renovada e renovável, para onde segue o cortejo? Não vai dar para decidir à saída do restaurante e também nos parece difícil pôr toda a gente de acordo (ou talvez não!).
Aviso à navegação: a avaliar pelas previsões, o tempo não vai estar pelos ajustes (achamos que o Bentinho fez das dele!). Por isso, pedimos sugestões e propostas (honestas!) para os comensais prosseguirem o convívio, já que o pessoal, cá em casa, tem andado afastado dos centros de agitação nocturna. Ah, e vejam lá se cabemos todos... Seria uma pena ficar "apenas" pelo jantar, certo?
P.S. - Só faltam cinco dias!

domingo, 13 de abril de 2008

..:: palavras que nos salvam ::.. Joaquim Cardoso Dias

É estranho: estava guardado para meados de Junho, mas achei que devia pôr este post agora, já que agora era o momento. Há momentos para tudo e sinto a necessidade de agradecer a atenção. Singelíssima forma que eu tenho de o fazer, é verdade, e ainda por cima insistindo nas citações, mas espero que as minhas palavras (e intenção) o justifiquem.
Perguntam-se de que falo eu? Simples, este post é de agradecimento ao Joaquim Cardoso Dias com palavras e imagens dele próprio pelos comentários que nos deixou aqui e que mais luz tem posto sobre si e Al Berto. Obrigado, Joaquim!




Primeira Parte


de vez quando nascemos para o mundo
na terra de um outro corpo onde nos deixamos
mas se me pedires troco a varanda pelos teus braços
vigio as fotografias que não posso abrir num mapa
com as lágrimas avançando por dentro do amor
sei que a morte se inspira na carne
sei que uma criança é um espelho à janela
cercada pelas estrelas em plenos pulmões
no lado efémero dos figos quentes e dos intestinos


Joaquim Cardoso Dias »» "Em Cinco Dias", in Malcata 7 Geografias »» Coimbra/ Castelo Branco »» Alma Azul »» 2003 »» p. 17




© Joaquim Cardoso Dias, na série (queria dizer), in Malcata 7 Geografias





[qualquer problema com os direitos de autor, é só dizer que eu retiro!]

sábado, 12 de abril de 2008

..:: explicação ::..

Devo ter fases... já suspeitava: chegou-me em força a das citações. À falta de motivação intrínseca para falar de mim, de nós, para arranjar palavras para descrever o que têm sido estes dias e o que serão, deixo, finalmente, um poema que tinha prometido à Lili pôr aqui. Trata-se de um poema de 2005 de Joaquim Manuel Magalhães, em cinco andamentos, imenso em conteúdo, autobiografia, ficção, autoficção, revolta, desabafo, poesia, reivindicação. Está lá tudo. Até metapoesia. Tem de ser lido de um só fôlego. Ou não. Pouco mais haverá para dizer. Senti-me incomodado ao lê-lo. Triste. A realidade continua a negar tanta coisa, a assobiar para o lado. Sinto-me incomodado ao relê-lo. Andava eu de volta do Eduardo, quando o descobrir e pensei: há aqui matéria para muitas palavras... uma tese? Talvez. E quem sabe. Por agora, só o digitalizei para pôr aqui (é fácil encontrar a primeira secção, as outras nem por isso; se notarem gralhas, digam, please).
Tenham um excelente fim-de-semana. As intermitências continuam.

..:: palavras que... ::.. Joaquim Manuel Magalhães

Homossexualidade

para o Luis Muñoz



1

Numa nação de alternativa desolada
dificulta uma segura reivindicação.
Pouco nela frutifica.
A cabaça, o aroeiro, a arnica.
Pondero o alcance do tiro.
Quem encobre a sua natureza
acaba entaipado na janela.
A rejeição agrava
a presença camuflada.
Que germinará dela?

Inerte.

Se tivesse partido (pensei nisso
muito) perdia-te.
Não saí.
Enfrentei o prado que apedreja
e elegi
vincar a minha condição.

Indesejado.

Amanhã, o encantado aguardei.
Ameaçador e familiar, de sempre
e sempre comovente, beijo que dei
e que me deu.
Não o lôbrego entardecer.
Melhorar o presente.

Amplidão.

O aguaceiro recobria o corpo nu,
a sagacidade da ira. Uma agitação ardia.
Tu.

Ronda.

Era a minha décima oitava travessia de junho
e encontrei em dezembro o convite a tonalidade
o ombro no metal da coluna vizinha. Vinha.



2

Não vou seguir a prática actual da lírica.

Afirmo, homossexual. Silencia
o Código Civil a garantia
da pluralidade da orientação sexual.
Desacato e desamparo ao projecto
de uma relação perdurante.
Balança, não o percebe um conservador?,
do equilíbrio da integração
ao que desse modo a pretender.

Vivo com o João há quarenta e um agora,
um nada, Fevereiro 2005. A dignidade inteira
de cidadão por atingir. O par, uma caminhada,
não um exemplo. A vicissitude
cruza o habitual
oblíquo apaziguamento.

O sexo é a banalidade, obriga entre
adultos à licitude absolutamente comum.
A ossatura do usual necessita
para o temeroso do que fermenta
um apoio legal
para nítida harmonia e agasalho.

A partilha da Segurança Social,
do Serviço de Saúde, a protecção
da reforma ao sobrevivo
e uma herança intributável.
Durante a vida parece aguentar-se
a anomalia,
porém à morte do primeiro
logo intervém a felonia.

74 – interrogo-me – uma
revolução. Repudiou, na demanda
de aniquilar a economia, uma invenção
de pulso contrário ao continuado
precipício.
A um centro vital desinteressou o progresso
de um consenso que exigia a lentidão,
é tarde, para não forçar clivagem.
Lá reside a culpa, o incumprimento,
o atraso deliberado.

Um verso confronta uma ordem
enferma. Dissipará o seu sentido,
alheio à literatura, ao findar
a sua oportunidade.
Não o empenha convir à poesia.
combate um regime desavisado,
falho na educação gradual da maioria.

Mero comparsa do preconceito, o Direito
Civil, uma ética judicial mata-borrão
da inépcia civilizacional, da moral corrente.
A tortura vagarosa que daí resulta
promove-a por omissão um Código imoral,
torcionário inviamente,
torna-se Código de Direito Penal.

Oito ou nove por cento de povo inegável
não é um zero de humano.
A revolta com diálogo sucederá.
Insolúvel por referendo. Enraizável
pelo próprio decreto, caso promulgado
pela placidez e não pelo pregão
de um conjunto parlamentar isolado, ultrapassável
pela zanga de uma larga comunidade.

Não tombasse no desentendimento mútuo
nenhum grupo ou indivíduo homossexual.
Inadmissível a mínima razão
(creio que com mágoa se conviverá
com a homofobia, a misoginia, a xenofobia
e com a heterofobia, importará
a possibilidade de a lei erguer um contraforte).
A perfeição do encéfalo incompleta.
Unir-nos-ia a nossa realidade notarial.
A partir dela tente-se o acordo
com tudo o que não fomente o retrógrado.
Também com o poder, o que governa
e o da variedade partidária,
(qualquer que pressinta o renovar).

Não me dirijo ao como eu, sim
ao heterossexual. Cometê-lo à persuasão.
Conciliado, suponho que consegue
impelir para um senso de civilidade
o recuado.
Ao aceder, seria o motor assente
Do direito procurado.
Péssimo poema, já sei. Só me preocupa
A vontade de dizer.

Compreenda um conservador
que argumente o primado da pacificação
política ao vínculo cível do comportamento.
De novo: sem referendo.
De novo: para o sossego de morrer.
Pactuar com ele a confiança
em acareamento frontal.
e final.



3

Sento-me. Não longe
a velhice. Serei ainda eu?
O soluço da luminosidade adormeceu.

A mente ilude
o consolo. Asa
na nervura de um ninho,
voará quando a neve endurecer
no azevinho.

O agregado de gente sem cerne
um volume contra a porta,
proibição.
Rompimento que sente
a mão
uma por uma ausente.

A troça, uma teia indiferente
de que me ri.
Conflito com sinal de movimento
na permanente decepção.
O valor do seu augúrio
não cessa de apelar à negação
cuja derrota mal pressenti.

Uma claridade que me guia
para alguém que sofre.
Pavor de som que soterrado invade
e a felicidade fraudulenta finge
fundir na caserna da náusea.
Um rebentamento pedaço a pedaço.
Uma claridade que me guia
e calcina o meu cansaço.

Menos em clínica privada
não autorizariam que nos acompanhássemos
em situação concreta.
Até para conduzir a hora do fim
outrem o faria.
O que evidencia a diferença. Portanto,
quando usam essa noção
ocorre a forma global do interdito
e da recusa. Ao declarar
a prerrogativa da diferença
não concebo o grito
da gruta da igualdade.



4

EU

O pano da cadeira
um barco que nos embalava.
Premonição, lugar, luzeiro
passaram. A inquietação insubmissa
na cabeça encanecida.

Vogo no prazer que, de tanto, doía
e tu vês eu ver-te e reclina
o triunfo da memória antigo.
Persigo o ataque onde navegaria.
O imenso da sabotadora alegria.


ELE

No elevador o nosso calor subia,
era fácil arrumar o carro
no Outrora da cidade
que não dava a cidadania. Acusava
a ditadura como errava:
assim o que temos diante hoje em dia.

O volante num único braço,
o outro prendia o teu
aberto e entregue e a beira-rio
aumentava na rua o frio
roubado à euforia.
Teimava o halo do candeeiro.
Ao seu lume acordava
a pele do teu travesseiro.


EU

Atear a música.
A camisa enodoava no suor
e enlaçava-te e um barqueiro
brilhava na tua figura, um clamor
que cingia o fluxo nocturno. Golpeava
a negridão da neblina.
Perto, um vigor culmina.


ELE

Corria para a casa
fugia ao trabalho que maldizia.
O quarto envolvia
o aturdimento que metamorfoseava.
Lembras o horizonte? Eu
a ejaculação na madrugada. E guarda
contigo aquele bairro, apesar
de desabrigado.

A ribanceira flutuava na folhagem,
a humidade queimava.
Brandia o inacessível
que te incomodava.
O fogo, o seu fumo, o sol
a canção de cada telhado.
Ano a ano, o botão do colarinho.


EU

De súbito um medo. O atoleiro
cerrava, um nó derradeiro.
Morro. Que te acontece? (recíproca
a pergunta e impessoal) qual
a sombra de lei que te recolhe?
Enquanto eu parte de ti,
tu parte de mim?

Ter de pagar (haverá dinheiro?,
a governantes e a um povo que nos impediu)
pelo pertence difícil a difícil obtido.
O sobressalto do que continua
a não ser reconhecido.



5

Nunca separei um sorriso do amor.

Circula essa jornada confusa,
um afã não dito,
um amargo que muda

em ternura.

Tranquila vibração,
recôndita fugacidade, solta

o gemido que vai da língua à garganta,
semente de uma ave.

Enleia num alento o outro enleio.

O silêncio não precisa de provocar
o que não ouve, lá fora, na madressilva.



A glicínia a magnólia o cacilheiro
cada margem.

Um sorriso.



Joaquim Manuel Magalhães »» in Telhados de Vidro »» n.º 4 »» Maio de 2005 »» pp. 29-40

sexta-feira, 11 de abril de 2008

~~ operação de charme ~~

Vem aí o ESC. Veja-se até onde vai a operação de charme da Sérvia. Apetece dar já os parabéns! Pelo poema, pela pronúncia e pela aposta!




visto inicialmente no ......Vitamnina Y

..:: palavras que nos salvam ::.. José Luís Peixoto

LAVAR A LOIÇA


E destruir todas as provas de uma noite:
dois copos, dois corpos, garfos espetados

nas costas, facas como palavras repetidas.
E acreditar que o mundo recomeça na água.

A circunferência certa dos pratos, a cor
absoluta do branco. E esquecer outra vez.




José Luís Peixoto »» Gaveta de Papéis »» Vila Nova de Famalicão »» Quasi »» 2008 »» p. 74




ganhou o Prémio Daniel Faria 2008
acabadinho de sair

..:: alguma coisa vai ficar por fazer ::..

Hoje, SEXTA, 11 de Abril

Local: Teatro São Luiz
Hora: 15:00
O meu Pessoa: escritores/ poetas lêem poemas de Fernando Pessoa (Nuno Júdice, Fernando Pinto do Amaral, Gastão Cruz, Liliane Dutra, Rodrigo Bastos)


Local: Teatro São Luiz
Hora: 15:30
Poesia contemporânea: Pessoa pesa? (moderação de Carlos Vaz Marques, com Nuno Júdice, Fernando Pinto do Amaral, Gastão Cruz, Pedro Mexia).


Local: Teatro São Luiz
Hora: 19.00
Literaturas Pós-Coloniais: a lembrança de um futuro? (África, Brasil, Portugal; moderação de Carlos Vaz Marques com Luísa Coelho, Lídia Jorge, Eduardo Pitta, Paulo Nogueira).

*****

Amanhã, SÁBADO, 12 de Abril

Local: SMUP (Sociedade Musical União Paredense) da Parede
Hora: 16:30
Um Sonho de uma Noite de Verão, na VII Mostra de Teatro Amador do Concelho de Cascais | link


Local: Fnac Chiado (mas depois também na Fnac de Almada e de Cascais)
Hora: 18:30
Lollipop Boy | A crescente expansão da música electrónica e bandas dos anos oitenta tais como os Ultravox, Visage, Depeche Mode, New Order, The Cure, bem como projectos actuais como Underworld, The Chemical Brothers, Moby, Tiga e Fisherspooner, inspiraram este professor formado em Engenharia Informática. Aos comandos de um Commodore Amiga deu os primeiros passos na composição musical. Após liderar alguns projectos, apresenta Somewhere To Go, título do álbum de estreia de Filipe Garcia na pele de Lollipop Boy | link


Local: Igreja da Nossa Senhora da Consolação do Castelo, Castelo de Sesimbra
Hora: 22:00
Soprano Ana Paula Russo e o pianista Nuno Lopes na Temporada de Música da Casa de Ópera do Cabo Espichel | link

quinta-feira, 10 de abril de 2008

..:: palavras que nos inquietam ::.. 10 citações de/para Al Berto

Aqui estão: são dez citações de Dez Cartas para Al Berto/ Dez Cartas de Al Berto, mas poderiam ser muitas mais.
E ainda a voz do próprio Al Berto citando "Os Amigos" na Casa Fernando Pessoa, em Junho de 1995 (Wordsong ficará para outra altura).








«Entre duas datas: 30 de Julho de 1989 e 17 de Abril de 1997. Quase duas centenas de cartas, postais, poemas, textos, recados, convites, confidências, desabafos, conselhos e tanta solidão – Al Berto foi o irmão que não tive. Al Berto é o meu grande português.»
Joaquim Cardoso Dias, «Prefácio», p. 10

*****

«Que o tempo é matéria volátil, bem o sabemos – nós que somos feitos de tempo e de cinza.»
Fernando Pinto do Amaral, «Lugares do Coração», p. 46

*****

«Passam os anos, os amores, e caem os anjos num bairro de mesas vazias. Sim, a noite. As noites em que te vi e pouco falei, em que bebi, à entrada de algumas portas, o álcool muito puro das colheitas distantes, cactos de um deserto iluminado, centeio e cevada das terras altas. Todas partiram.»
José Agostinho Baptista, «Al Berto», p. 59

*****

«Foi aí que ele contou a sua doença; e apesar do lado terrível dessa descoberta de uma morte que o habitava, o que lembro foi o modo que encontrou para a vencer, personificando-a e entregando-se a um combate permanente contra essa imagem que, muitas vezes, por ele passara, e com quem ia jogando ao gato e ao rato.»
Nuno Júdice, Al Berto, «Solar e Dionisíaco», p. 69

*****

«Não. Tudo continua, neste momento, na minha vida, como nos últimos tempos. Um terror! – uma merda! – e não me apetece nada. Absolutamente nada. Dá-me a impressão que tenho andado entretido a falhar coisas, não sei. Nada funciona comigo e parece que a alma e o corpo estão em suspenso, entorpecidos até à medula. Que fazer? Não sei!
Sinto falta de tudo, de afectos, de ternura, de tudo, de amor, de paixão, de gestos que me indiquem que estou aqui, que estou vivo e, apesar de tudo, vale a pena ir celebrando a vida. Dentro do possível. Dentro do que me parece justo.»
Al Berto, Sines, 13 Fev. 92, pp. 72 e 73

*****

«O silêncio que me rodeia pesa como chumbo. O dia está cheio de sol mas que me importa isso se dentro de mim escorre uma cinza, um escuro espesso, uma treva onde mergulho o pensamento e tudo se turva.
Apetecia-me dar-te a mão e fechar os olhos – e pelos bosques imaginados ir, noite adiante, esquecendo tudo…»
Al Berto, Sines, 18 Jan. 93, pp. 83 e 85

*****

«Ando a tentar cicatrizar feridas e cinzas, mas estou bem, embora tenha a alma como um saco roto e sem arranjo.
(…) Continuo a viver – ao contrário do que se possa pensar – numa grande e incompreensível inquietação.
Suponho que são os 50 a aproximarem-se. Já não faltam assim tantos, não é? E vermo-nos tão sozinhos como há 30 anos atrás. Só que há 30 anos havia, penso eu, algumas perspectivas, alternativas à minha frente – Hoje não há nada. Uma espécie de vazio escuro, onde não se consegue vislumbrar luz nenhuma, sinal nenhum…
(…) Parece-me que tenho cumprido esse destino que não desejei: viver, e viver aquilo que me apeteceu viver – já não é nada mau, nos tempos odiosos que correm.»
Al Berto, Sines, 18 Set. 95. pp. 93-94

*****

«Preciso tanto de ti e não te posso lembrar. Preciso tanto das tuas palavras e não as consigo ler. Restam-me os excessos, porque os excessos não são de ninguém. Excedem-nos e, por isso mesmo, porque os teus excessos sempre existiram para além de ti, é-me muito fácil apropriar dos teus excessos e transformá-los nos meus excessos. Excedo-me por ti e para ti. Sou capaz de beijar a tua boca agora! E de sentir nos teus lábios as palavras que nunca me disseste. Sou capaz de me vir sobre os teus versos e esperar que, ao secar, o meu esperma evapore um bocadinho da poesia que nos deixaste. O gozo é o mais próximo que eu consigo chegar da poesia. Por isso amo excessivamente. Por isso, me amo excessivamente. Por isso, diariamente, me ofereço o momento supremo da poesia que, de imediato, não é mais que uma recordação nostálgica e algumas marcas que o amor deixa sempre nos lençóis, mesmo o amor solitário.
e é o mar que vem lavar essas marcas. Só o mar. O mar que te faz companhia agora que te fizeste oceano. O mar que me faz companhia agora que me ensinaste o oceano. Agora, abro a janela. Agora, pouso os meus olhos no mar e, através das longas horas deste silêncio que me desespera, escuto o rumor das ondas que eternamente se desmancham sob os olhos da poesia. Elas falam. Elas dizem
o teu nome
o teu nome (...)»
Tiago Torres da Silva, «A Caso», pp. 98-99

*****

«O que eu queria era enviar-te um sms a combinar um jantar logo, onde seria certo acabarmos a rir e a concluir que já não havia poetas e que somos todos artistas de variedades. Uns melhores e outros muito piores, claro. Mas não cheguei a saber o número do teu telemóvel.
Escrevo esta carta e não sei como a enviar, não sei a tua morada no tempo do mundo.»
Nuno Artur Silva, «Devolvida ao Remetente», pp. 107-108

*****

«Nada do outro mundo. Apenas uma imensa necessidade de silêncio. Apenas o silêncio… depois da barafunda. Olhar para dentro e limpar… limpar – apenas o silêncio.»
Al Berto, Lisboa, 22 Out 96, p. 111