Édouard-Henri Avril, Sappho (cf. aqui)
Mari'Mateu, ir-me quer'eu daquen, *
por que non poss'un cono baratar;
alguen que mi o daría nõno ten,
e algũ(a) que o ten non mi o quer dar.
Mari'Mateu, Mari'Mateu,
tan desejosa ch'és de cono com'eu!
E foi Deus já de conos avondar
aqui outros, que o non an mester,
e ar feze-os muito desejar
a min e ti, pero que ch'és molher.
Mari'Mateu, Mari'Mateu,
tan desejosa ch'és de cono com'eu! **
Cantiga de escarnho (sátira contra homossexuais, neste caso femininas) de Afonso Eanes de Coton »» in Cantigas de Escárnio e Mal-Dizer »» comentários de Carlos Miranda, seguindo a proposta de Rodrigues Lapa »» Sacavém »» Palimpsesto »» p. 147
* [O poeta queixa-se que Maria Mateus desejava tanto as mulheres como ele, não podendo negociar com ela o cono]
** [Natália Correia adaptou esta cantiga na Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica »» 3ª edição »» Antígona/ Frenesi »» 2000 »» p. 43]
** [Natália Correia adaptou esta cantiga na Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica »» 3ª edição »» Antígona/ Frenesi »» 2000 »» p. 43]
Esta cantiga/obra teve de facto uma adaptação inconfundível de Natália Correia, associando à mais jocosa crítica de costumes uma seríssima erudição. Ao mesmo tempo, a Antologia é um documento mental, revelando-nos como a liberdade de expressão se foi alterando ao longo dos séculos, e não necessariamente no sentido progressivo que poderíamos conceber.
ResponderEliminarOntem, como hoje, a cantiga é uma arma. ;)
ResponderEliminarUma delícia, desde o real minete da ilustração à desilusão do Coton. Este Coton não enganava, estava desenganado.
Tenho a antologia da Natália Correia. Aliás, guardo tudo o que apanho dela. Grande Mátria!...
# Luís Galego, bem na adaptação a cantiga até parece outra... muito mais legível e entendível. Em todo o caso, acho muito mais exótico o "original". Meu caro, não imaginas como me espanto como as coisas às vezes regridem! A Antologia é uma obra fundamental!
ResponderEliminarAbraço
# Catatau, é isso mesmo: uma arma. As palavras, aliás, são armas, "punhais", certo? O Coton, e toda a outra malta torvadoresca, tinha cá uma lábia! Também gosto muito da Natália, essa Mátria.
Abraço
A Antologia é um dos livros mais preciosos que possuo, é de 1970, penso que é da 1ª. edição.
ResponderEliminarAbraços.
Sim, amigo Pinguim, a 1ª edição é antiga... de 1965. A que eu tenho é bem mais recente... em 65 nem sonhava em existir, meu caro! :)
ResponderEliminarAbraços
Por acaso já há uns tempos que eu penso adquirir esta antologia mas ainda não a encontrei nas lojas.
ResponderEliminarRealmente às vezes parece que andamos mesmo para trás.
Um abraço.
Tb tenho a mesma antologia: a que gosto mais é uma descrição maior dos encontros de um bispo de beja com o seu "vassalo" (cheguei a masturbar-me!)
ResponderEliminarObrigado Paulo, ontem estava com a gémeas e foi engraçado abrir(-vos)!
Abraços aos dois!
# Special K, acho que a comprei há uns anos na feira do livro, portanto não sei se é fácil ou não adquiri-la, mas vale muito a pena! Olha, serve, por exemplo, para constatar isso mesmo: como já fomos arrojados e como em algumas coisas regredimos!
ResponderEliminar# Moi, tenho de ir a essa parte! Deve ser inspirador :)
Quem são as gémeas? Gostaram da gravura, foi?
Abraços, gajos!