§ 1. Detestamos Domingos à tarde. Suspeito que eu mais do que o Zé. Fico mais melancólico e tendo a deambular sem fazer nada que se aproveite. Com calor, então, a preguiça exponencia-se drasticamente. Odeio o calor como o destes dias. A única coisa que me motiva a algum movimento é saber que amanhã é o último dia de trabalho.
§ 2. Férias. Ei-las, chegando. A seguir a elas, para mim, será a ausência de trabalho. Mais do mesmo, desde 2000, quando fiz o estágio. Havia a hipótese de Macau, de Estrasburgo e de um colégio: de Macau nunca recebi notícias, para Estrasburgo não fui por uma unha negra e desisti do colégio porque era longe (quer dizer, Macau e Estrasburgo ficam mais longe, mas nos dois casos a motivação era outra).
Ainda não planeámos nada: sabemos para onde, como, ± quando, e durante quanto tempo vamos. Como de costume, vamos à descoberta e temo-nos surpreendido significativamente. É uma chatice eu só poder tirar férias em Agosto (porque odeio o calor e viajar para sítios quentes e cheios de gente). Não gosto de frequentar lugares com muita carneirada e as viagens organizadas estão completamente fora de questão (Algarve, idem).
§ 3. Soube por email as datas dos concursos de professores. Falo dos destacados por ausência de componente lectiva, dos afectos a QZPs e dos contratados. A data parece-me uma piada: de 1 a 7 de Agosto. Acho que a tutela deve achar que estes professores todos (não são assim tão poucos) não têm férias, não trabalham e têm de estar sempre disponíveis. Acho que sim.
Eu pertenço aos contratados. Até quando? Pelos vistos, durante muito tempo. Não fosse o Zé e teria partido. Não tenho carreira, nem sei quando terei ou se terei a hipótese de a ter. Toda a gente me diz o mesmo e eu insisto: é o que gosto de fazer, gosto de ensinar e ver crescer @s miúd@s. Além disso gastei 6 anos da minha vida a preparar-me para o ensino e abandonava-o assim do pé para a mão?
§ 4. Praia e areia. Ontem fomos pela segunda vez este ano à praia. Como eu também detesto areia, o Zé nem insiste muito. Há dois anos que não íamos. Ontem correu muito bem: estava calor e a água gelada, uma boa combinação. Ah, odeio areia colada ao corpo, no cabelo, nas orelhas, nas partes, nos objectos que levo para me distrair (a monotonia sufoca-me). As filas de trânsito também não nos agradam. Fomos cedo e para o sítio do costume. O Zé faz nudismo e eu comecei a fazer por simpatia. Nunca apanhamos muita gente, portanto. Dá para respirar e limpar as vistas (ou não). Às vezes, como ontem, aparecem aquelas famílias-maravilha que chegam ao meio-dia (que é quando eu começo a dizer ao Zé que já estou farto) e abancam. Não fazem nudismo e das duas uma: ou vêm para ver os outros ou para fugirem à multidão da Fonte da Telha. De qualquer modo, há ainda os pais que fazem nudismo e os filhos adolescentes e pré-adolescentes envergonhados. Finalmente, os mirones:
Ao redor das dunas
mais do que vitelos
eram raposos diurnos.
Entregues a obstinadas
pulsões de morte: eles
e nós.
Tudo por um sol assim
e um comboio de brinquedo.
Eduardo Pitta »» Poesia Escolhida (Círculo de Leitores) »» p. 117
[ler mais aqui]
§ 2. Férias. Ei-las, chegando. A seguir a elas, para mim, será a ausência de trabalho. Mais do mesmo, desde 2000, quando fiz o estágio. Havia a hipótese de Macau, de Estrasburgo e de um colégio: de Macau nunca recebi notícias, para Estrasburgo não fui por uma unha negra e desisti do colégio porque era longe (quer dizer, Macau e Estrasburgo ficam mais longe, mas nos dois casos a motivação era outra).
Ainda não planeámos nada: sabemos para onde, como, ± quando, e durante quanto tempo vamos. Como de costume, vamos à descoberta e temo-nos surpreendido significativamente. É uma chatice eu só poder tirar férias em Agosto (porque odeio o calor e viajar para sítios quentes e cheios de gente). Não gosto de frequentar lugares com muita carneirada e as viagens organizadas estão completamente fora de questão (Algarve, idem).
§ 3. Soube por email as datas dos concursos de professores. Falo dos destacados por ausência de componente lectiva, dos afectos a QZPs e dos contratados. A data parece-me uma piada: de 1 a 7 de Agosto. Acho que a tutela deve achar que estes professores todos (não são assim tão poucos) não têm férias, não trabalham e têm de estar sempre disponíveis. Acho que sim.
Eu pertenço aos contratados. Até quando? Pelos vistos, durante muito tempo. Não fosse o Zé e teria partido. Não tenho carreira, nem sei quando terei ou se terei a hipótese de a ter. Toda a gente me diz o mesmo e eu insisto: é o que gosto de fazer, gosto de ensinar e ver crescer @s miúd@s. Além disso gastei 6 anos da minha vida a preparar-me para o ensino e abandonava-o assim do pé para a mão?
§ 4. Praia e areia. Ontem fomos pela segunda vez este ano à praia. Como eu também detesto areia, o Zé nem insiste muito. Há dois anos que não íamos. Ontem correu muito bem: estava calor e a água gelada, uma boa combinação. Ah, odeio areia colada ao corpo, no cabelo, nas orelhas, nas partes, nos objectos que levo para me distrair (a monotonia sufoca-me). As filas de trânsito também não nos agradam. Fomos cedo e para o sítio do costume. O Zé faz nudismo e eu comecei a fazer por simpatia. Nunca apanhamos muita gente, portanto. Dá para respirar e limpar as vistas (ou não). Às vezes, como ontem, aparecem aquelas famílias-maravilha que chegam ao meio-dia (que é quando eu começo a dizer ao Zé que já estou farto) e abancam. Não fazem nudismo e das duas uma: ou vêm para ver os outros ou para fugirem à multidão da Fonte da Telha. De qualquer modo, há ainda os pais que fazem nudismo e os filhos adolescentes e pré-adolescentes envergonhados. Finalmente, os mirones:
Ao redor das dunas
mais do que vitelos
eram raposos diurnos.
Entregues a obstinadas
pulsões de morte: eles
e nós.
Tudo por um sol assim
e um comboio de brinquedo.
Eduardo Pitta »» Poesia Escolhida (Círculo de Leitores) »» p. 117
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