quinta-feira, 19 de julho de 2007

..:: as cores do dia ::.. Monga


Hoje acordei encoberto, cinzento. Nos últimos tempos, vinha a acordar tão ensolarado... Tinha combinado almoçar com a minha amiga do antitesesetransparencias. Lá fui ter com ela à Católica. Nem o número impressionante de polícias junto à Embaixada dos EUA me impressionou. A Monga também estava com dor de cabeça.
Tratamo-nos por mongos desde não sei quando (há muito tempo, portanto). Esqueci-me de como e quando começou. Mas afastem ideias, pois só a Monga está autorizada a tratar-me assim, além da Frol que foi quem nos apresentou, ainda quando andávamos na licenciatura. É o privilégio de partilharmos tanto. Conheço a Monga desde o tempo em que eu namorava com o S., tendo por isso sabido de alguns dos novelescos episódios que experienciei - a maior parte é para esquecer (e alguns já foram, outros mantêm-se).
Há muito que não epistolamos longamente, mas de vez em quando almoçamos: carpimos mágoas, dizemos mal do estado das coisas, comentamos as pessoas que passam, contamos desgraças próprias e alheias. Hoje não foi muito diferente. Mas acho poder dizer que, apesar do vento, nos separámos mais coloridos.
Tenho tanto para dizer sobre a minha Monga que receio começar. Vou só fazer alguns traços. Primeiro, algumas afinidades. Aqui destaca-se uma: a propensão para a melancolia. Sem motivos explicáveis, ela vem, pega em nós, lança-nos contra o chão e fustiga-nos violentamente. Nem sempre sei reagir, a Monga idem. Trata-se de uma faceta que pouquíssimos me conhecem, porque eu aparento estar sempre bem-disposto e sorridente. É essa a imagem que os outros têm de mim e é essa a minha máscara, confesso, de que a maior parte das vezes nem o Zé se apercebe (e ainda bem). Mais: a Monga foi crescendo cheia daquelas qualidades que a tornam amiga para o resto dos dias.
Divergimos no modo de agir: eu sou mais expansivo (apesar da introversão) e a Monga é mais defensiva. Eu reclamo e ela engole. Eu corro e ela pára. Dou-lhe ordens e tendo a ser bruto e pragmático - eis a minha vertente rural e beirã a manifestar-se. Só ela para me aguentar as birras, ignorar e continuar a gostar de mim. Quando ela começou a namorar com o Pedro, senti que a estava a perder, mas bom mesmo é vê-la feliz. O ano passado fomos os quatro a Barcelona. Reconheço que fui demasiado déspota nas decisões, mas, se na altura soubesse algumas coisas, não teria agido da mesma forma (e o Zé atenua imenso a minha necessidade de mandar).
Avante. Eu continuei a apostar no ensino, ela na investigação. Esteve parada, demorou a aparecer uma resposta, mas a sua opção parece ter valido a pena. Está a menos de um ano de deixar o seu gabinete fechado e pequeno. Sei como vive instável, como se esforça e dedica e como a tratam. Fico feliz por saber que projecta o seu doutoramento no estudo sobre as mulheres, um pouco na continuidade do mestrado. Sinceramente, acho que elas merecem e a Monga sabe o que faz e o que faz é de grande qualidade. Admiro-lhe a constância e a regularidade!
Parabéns, Monga pelo teu trabalho, pelo teu casamento, pelo Pedro, pelas tuas capacidades de escrita (antitesesetransparencias dá um cheirinho, tenho o privilégio de ter lido outros textos teus), pela paciência para me continuares a aturar, et cætera.

3 comentários:

  1. Olá, Mongo, tb estou a escrever um texto para ti, mas acho que está tão parecido com o teu em algumas coisas!!
    Barcelona correu muito bem, ainda agora perguntei ao Pedro e ele tb gostou, e como te disse, estou habituada à tua faceta beirã, selvagem, cortante, que me manda atravessar ruas e andar mais depressa.
    De resto, claramente tenho paciência para ti (há gente mto mais difícil que aturar e de quem n gosto tanto como de ti!!), e adoro falar contigo sobre todas as coisas. Sobre nós, o que somos, o que filosofamos, a nossa melancolia...

    Um beijo cheio de carinho e amizade.

    MONGA

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  2. Gostei da viagem! Afinal nasci em 1975 e ganhei um bilhete de graça para entrar na Fundação Miró...

    Pedro

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  3. Caríssimos Monga e Pedro, continuo a achar que fui rude, bruto e mais não sei quê. Não te esqueças que tb nasci nesse ano, temos dias de diferença :) Foi um belo presente (fora de época, mas foi). Monga, tenho de ser mais calmo, eu sei e respeitar mais a vontade dos outros e os seus ritmos, mesmo a atravessar ruas (às vezes, esqueço-me), mas acho que estou a fazer o que é certo e entusiasmo-me. Enfim, compenso com outras coisas... espero eu! Beijos e abraços para os dois!

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