Ontem (sábado) foi dia de festa. Há oito anos que não comemorava o meu aniversário desta forma por me trazer recordações tristes (em 2000, por esta altura, o meu pai já estava realmente muito mal) e por não gostar de envelhecer. Ainda hoje, quando, neste dia, falo com a mamã e com uma das minhas
irmãs, acabo por chorar. Acho que não lhes traz recordações tristes, mas a verdade é que se emocionam e eu acabo por mergulhar numa espécie de saudade misturada com culpa (sim, apesar de estar bem resolvido, ainda me sinto em falta por ter uma orientação sexual diferente da maioria).
Tenho pormenores em que sou muito inseguro: organizar um jantar com tanta gente cria-me imensa ansiedade, visto que muitos não se conheciam e parecia-me arriscado. Além disso, estou sempre com dúvidas de que se dêem bem, pois os meus amigos são muito, mas muito heterogéneos. Ganhei-os ao longo de vários anos, em contextos tão diferentes que uma boa parte nunca se tinha cruzado. Muitos deles foram somados aos que já tinha por virem com o Zé e adoro-os como se os conhecesse desde sempre.
Resolvemos reuni-los nesta altura não só por causa do meu aniversário, mas também para divulgarmos a novidade nas
nossas mãos. Acabámos por não fazer nada de especial, embora as gajas tenham logo visto na mão de um e procurado na mão do outro, além de repararem que eu não parava de mexer no dedo (ok, ainda não estou completamente habituado), notando assim o
upgrade simbólico de
NAMORADO 2.0 para 3.0 (tinha falado dele
aqui). Houve quem ainda perguntasse se tínhamos mesmo casado, mas não, continuamos só unidos de facto. Mais: a escolha das mãos que devem estar a passar no
sidebar não foi involuntária e prende-se com este
upgrade.
O Zé sabia que eu nunca tinha ido muito à bola com a ideia (ou a possibilidade) de usar aliança. Aliás, houve um tempo anterior à fase Zé em que eu ficava com urticária só de pensar em usar uma, porque achava que não tinha de ostentar um símbolo exterior de pertença/posse tipicamente heterossexual. Evitava o que pudesse remeter para esse universo e recusava-me a ceder. Acontece que até eu mudo de opinião e, quase a fazermos 7 anos juntos e 5 de vida em comum, acabei por ponderar em usarmos um anel igual.
Afinal, era um desejo do Zé, do qual eu, distraído todos os dias, nem me tinha apercebido. Começámos a pensar no assunto, entrámos em várias ourivesarias, sem aprofundar nada. Até que ficámos fartos e pedimos ajuda, primeiro nos anéis. Nada de jeito, todos de fugir. O ourives ia-nos mostrando até que sugeriu que víssemos alianças, ficou baralhado pois não percebeu para qual de nós era a aliança. Era para os dois! Pois o senhor nem pestanejou, eu devo ter corado; a verdade é que durante o processo todo foi sempre muito profissional e impecável, sem nunca termos notado uma única mudança no humor ou no olhar.
Nas alianças, começou a fazer-se luz e a delinear-se a decisão. Os preços também serviram para excluir algumas hipóteses. Entre medidas, indecisões, gramas, orçamentos e prazos, excluímos o ouro branco, as mais comuns e rococós. Ficou esta, que fomos buscar no dia 8. Eu que nunca tinha usado nada no anelar, não paro de olhar para a mão. Estamos os dois radiantes, orgulhosos. De facto, já o poderíamos ter feito antes, assim como podíamos esperar pela nossa data, contudo, como há um tempo para tudo, foi agora. No final, por causa do tamanho da minha aliança, tive a confirmação de que tenho uma mão enorme, quiçá gigante.
Finalmente, obrigado a todos os que estiveram connosco ontem e por se terem portando tão civilizadamente (estou a brincar que eu não temos amigos incivilizados, ok!). Como devem imaginar, orgulhamo-nos imenso de vós. Vós sabeis!