terça-feira, 18 de novembro de 2008

..:: pausa ::..


Con qué la lavaré, curta-metragem de animação de María Trénor, passou em 2004 no ainda Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa (8ª edição), mas só agora a vi e ouvi no Pé de Duende. Vale bem a pena!


Sinopse: «Um travesti regressa a casa ao amanhecer, depois do trabalho como prostituta nas ruas do Barrio Chino de Valência, e recorda a sua noite enquanto tira a maquilhagem e se despe. Esta curta-metragem de animação é um poema visual que homenageia os artistas homossexuais de culto do século XX, acompanhado de uma belíssima peça de música vocal do século XVI intitulada "Con Qué La Lavaré?", pertencente ao Cancioneiro do Duque de Calabria (1526-1554). As quatro vozes desta canção - soprano, contratenor, tenor e baixo - são interpretadas por personagens que representam diferentes realidades do mundo homossexual. O imaginário está centrado nos finais da década de 70, época da transição espanhola, depois da ditadura franquista, época que, para além de uma maior liberdade política, trouxe uma grande visibilidade às diferentes expressões sexuais. Esta curiosa mescla de épocas, o Renascimento e os anos 70, mostra-nos que os sentimentos e o desejo não se alteram com o passar do tempo.»

..:: mudando de assunto : no futuro será assim ::..

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

≈≈ vozes que se erguem ≈≈

Primeiro ouçam as declarações de Keith Olbermann* e "leiam" a emoção com que as profere:


* - Keith Olberman é um jornalista desportivo e comentador político americano.
[vídeo visto inicialmente aqui]



Depois, ouçam as declarações do Presidente da Câmara de San Diego. Reparem no que diz e na emoção com que o diz.

Ou estou muito enganado ou estes são dois Homens GRANDES.

[vídeo visto inicialmente aqui]

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

..:: carta a meus colegas sobre as saudades do futuro ::..

No silêncio da casa, escuto as paredes que me lembram como o ano passado foi um ano difícil. Provavelmente, o mais difícil na minha imberbe experiência docente. Talvez pela dificuldade, a entrega foi diferente até porque sempre joguei na defensiva e no resguardo dos sentimentos, técnica de salvaguarda. No ano passado, os acontecimentos propiciaram que fosse diferente e dei-me a oportunidade de deixar que os colegas chegassem à minha beira, lá está, porque os alunos e os contextos o permitiram. Afinal, até vou ter saudades deles; no entanto, este email é para vós e para confessar que é sobretudo de vós que vou sentir falta.
Não me peçam para vos visitar porque em princípio não o farei: custa-me demasiado o contexto: ver-vos, rever os alunos que foram meus e que me chamam professor mesmo já não o sendo, sentir que aquele espaço que durante um ano foi o meu já não o é (nunca foi, mas apropriei-me dele como pude para que o fosse), que aqueles professores já não são os meus colegas com quem deixarei de trocar desabafos, resultados e sensações de quase trauma.
No início, achei que não aguentaria, mas cheguei ao fim; contudo, se tal foi possível é porque vos tive como colegas. Ao fim de tanto tempo a acontecer-me o mesmo (todos os anos, escola, colegas e alunos diferentes), é com alguma satisfação que me vejo a integrar-me bem, embora muito tenha contribuído a vossa simpatia, o vosso acolhimento e os vossos sorrisos. Não sei se estive à altura dos acontecimentos (agora também já pouco interessa), mas tentei não desiludir nenhum de vós, ser profissional e responsável, e ainda poder contagiar-vos com o meu sorriso, uma máscara como qualquer outra (mas uma máscara sincera).
Gostei demais de vos conhecer e de convosco me ter cruzado e partilhado 10 meses de trabalho. Apesar de ser só um professor de BOM, gostei muito de trabalhar convosco; perdoem-me a imodéstia, mas espero que tenha sido recíproco, e que, embora indelevelmente, vos tenha marcado. Ter saudades deve ser isto: acordar e saber que não vou ter convosco. Em todo o caso, continuamos todos por aqui e não me esquecerei de vós e, ao contrário dos sete anos lectivos anteriores, se a memória ameaçar falhar-me, tenho a poesia e o filme feito sobretudo para vós e, como bem perceberam, uma despedida comovida. Até poderei esquecer-me dos vossos nomes, mas nunca dos rostos e das experiências, de como foi um ano para mim tão intenso e cheio de antíteses e oximoros.
Votos de bom trabalho, muita paciência, os alunos exigem e precisam do melhor de vós (de nós) – a ministra não! –, sempre com o objectivo do sucesso, sempre no encalço da felicidade (noutro patamar, a avaliação do desempenho veio para semear justamente a infelicidade, mas isso é outra história). Nós vemo-nos por aí! Isto não é uma despedida!

[texto enviado num dos dias de Setembro a uma selecção de colegas da escola onde estive o ano passado. só acrescento que este também não é um ano lectivo fácil, não por causa dos alunos mas de uma ministra autista que inundou e inunda as escolas de burocracia e aparece na comunicação social a afirmar que a culpa é dos professores ou que só têm de preencher duas folhas. repito: autista! e mentirosa, é que ela sabe bem o que pede com as ordens que envia para as escolas. a falta de tempo seja para o que for já se nota e faz mossa na minha vida pessoal e não tenho horário completo.]



[visto inicialmente aqui]




quarta-feira, 12 de novembro de 2008

..:: palavras que nos salvam ::.. Amy Tan

Há muito tempo li O Clube da Sorte e da Alegria, best-seller de Amy Tan. Lembrava-me de que tinha gostado muito. Voltei a encontrá-lo e a emocionar-me com o regresso ao passado: basicamente, o meu desejo era o de ser encontrado. E fui-o. Facto que me devia deixar em paz. De qualquer modo, todos os dias sinto que sou eu que preciso de me encontrar a mim mesmo.




YING YING ST. CLAIR
A DAMA DA LUA

Durante todos estes anos mantive a boca fechada para não deixar escapar nenhuma vontade egoísta. E porque me calei durante tanto tempo, agora a minha filha não me ouve. Senta-se à beira da sua piscina toda elegante e só tem ouvidos para o walkman da Sony, o telefone sem fio, o marido, enorme e todo emproado, que lhe pergunta por que é que vão fazer o churrasco com carvão e não com combustível líquido.
Durante todos estes anos mantive a minha verdadeira personalidade escondida, fugindo como uma sombra para que ninguém me apanhasse. E porque fui sempre tão discreta, agora a minha filha não me vê. Só vê a lista das coisas que é preciso comprar, a conta no banco que está a ficar sem saldo, o cinzeiro que não está bem centrado em cima da mesa.
Mas eu tenho de lhe dizer isto: estamos perdidas, nós as duas, invisíveis e cegas, sem ouvir e sem que ninguém nos oiça, sem que ninguém nos conheça verdadeiramente.

Não me perdi de repente. Ao longo dos anos, esfreguei a cara para a limpar da minha dor, como as marcas das pedras desaparecem com o vaivém das águas.
No entanto, lembro-me agora de a certa altura da minha vida ter corrido e gritado, de não poder ficar quieta. É a minha recordação mais antiga: quando fui pedir um desejo à Dama da Lua. E porque me esqueci do desejo que pedi, essa recordação permaneceu apagada durante todos estes anos. (p. 66)


Mas agora que já estou velha e, ano após ano, me aproximo cada vez mais do fim da minha vida, sinto-me também cada vez mais perto do princípio. E lembro-me de tudo o que aconteceu naquele dia, porque tudo voltou a acontecer muitas vezes ao longo da minha vida. A mesma inocência, a mesma confiança, a mesma inquietação; o deslumbramento, o medo, a solidão. Foi assim que me perdi.
Lembro-me de todas estas coisas. E esta noite, no décimo quinto dia da oitava lua, consigo lembrar-me também do que foi que pedi à Dama da Lua há tantos anos atrás. O meu desejo era ser encontrada. (p. 82)


Amy Tan »» O Clube da Sorte e da Alegria »» tradução de Ana Maria Chaves, Ana Gabriela Macedo e Maria de Graça Alves Pereira »» Lisboa »» Dom Quixote »» 1993

terça-feira, 11 de novembro de 2008

domingo, 9 de novembro de 2008

..:: não ouvi bem, importa-se de repetir, s.f.f.? ::..

Maria José Nogueira Pinto ataca: «coitadinhos dos velhotes». Era para rir? Mas só ouvindo! Lendo nem dá para acreditar!


«... dar 80 euros a um idoso é um ultraje, é um insulto. Em vez de dar os serviços que eles precisam, seja o apoio domiciliário, seja o Lar ou o Centro de Dia, isso é que eles precisam. Eles não precisam de 80 euros para ir beber cervejas, para ir comer doces que são diabéticos e ficam doentes, para serem roubados pelos filhos...» [cf.]

≈≈ é um artista ≈≈

Trata-se de um rapazinho canadiano de 21 anos, Corey Vidal, que presta aqui homenagem ao trabalho do compositor John Williams para o cinema. Ora vejam (e ouçam!):


sábado, 8 de novembro de 2008

≈≈ não faltará muito... ≈≈



Com jeito, vai! Hoje a senhora autista já admitiu que uma manifestação desta dimensão assusta Alinhar ao centroqualquer um. Pois, eu sempre ouvi dizer que quem tem cu tem medo. Todavia, reconheço-lhe o mérito de ter feito mais para unir a Classe dos Professores do que qualquer outr@ ministr@ antes.
Foi, outra vez, uma tarde inesquecível. Senti-me novamente a fazer História e comovi-me (ah pois comovi) com o "ensurdecedor" minuto de silêncio. Parabéns, Professor@s, a "coisa" já treme!

..:: e esta? ::..



bem, ESTA tem de CAIR e ESCACAR-SE TODA com as suas REFORMAS!



FANTÁSTICO: acabei de ouvir que a polícia recebeu instruções para não divulgar o número de participantes na manifestação de hoje! É por estas e por outras que eu gosto tanto desta democracia! Restam dúvidas?


[obrigado, Tongzhi, pela ilustração tão adequada ao momento]

sábado, 1 de novembro de 2008

..:: palavras que nos salvam ::.. Ana Luísa Amaral

[músicas: 1# Sigur Rós, Samskeyti || 2# Yann Tiersen, Summer 78 - Goodbye Lenin]



UMA BOTÂNICA DA PAZ: VISITAÇÃO


Tenho uma flor
de que não sei o nome

Na varanda,
em perfume comum
de outros aromas:
hibisco, uma roseira,
um pé de lúcia-lima

Mas esses são prodígios
para outra manhã:
é que esta flor
gerou folhas de verde
assombramento,
minúsculas e leves

Não a ameaçam bombas
nem românticos ventos,
nem mísseis, ou tornados,
nem ela sabe, embora esteja perto,
do sal em desavesso
que o mar traz

E o céu azul de Outono
a fingir Verão
é, para ela, bênção,
como a pequena água
que lhe dou

Deve ser isto
uma espécie da paz:

um segredo botânico
da luz (pp. 67-8)




Ana Luísa Amaral »» Entre Dois Rios e Outras Noites »» Porto »» Campo das Letras »» 2007