Finalmente o prazer. Farrapos de fantasias eróticas de toda uma vida, numa espiral onde rodopiavam emoções, sensações, esquecimento próprio, loucura, aceitação do animal em mim, do grito, da fome, da liberdade de ser e saber que se é. Apesar. Mau grado. Não obstante. Que se lixe.
Finalmente o prazer. Tantas vezes sonhado, imaginado, desejado, pressentido. Puro e irracional. Irresponsável. A fúria da descoberta e depois a paz. Essa paz desconhecida, completa, apaziguadora. Pela primeira vez na vida, a plenitude.
Dormi sobre isto e acordei feliz.
Rosa Lobato de Faria » A Alma Trocada (Porto: Asa) » 2007 » p. 7
Cheiravas a feno e não sabias que o coração é um barco no tempo. Quando as aves do Verão demandarem o Sul virás devagar, abrirás a porta verde-escura e esperarás em vão pelo frémito do meu corpo. Não voltarei a passar o renque das azáleas, o muro onde o sol nasce, a chuva, para morrer nos teus braços.
Rosa Lobato de Faria » A Alma Trocada (Porto: Asa) » 2007 » p. 164