Subi para o meu quarto e deitei-me a ler em cima da cama.
Quando estava embrenhado na leitura bateram à porta do quarto. Pancadas leves, delicadas, e interroguei-me quem poderia estar batendo assim.
- Entre, disse um pouco a medo.
Era o Tinito, que entrou e fechou a porta à chave.
- Mas?...
- Cala-te, patrão. Não digas nada se não queres ser violado à bruta. Pensas que podes andar todos os dias em cima de mim com esses cabrões desses olhos azuis?
Quando acabou de dizer estas palavras já estava nu, o seu esplendoroso corpo moreno já tinha avançado para cima do meu que tremia de urgência e que, sem resistir, se entregava, as roupas atiradas para o chão, os pés descalços a acariciá-lo.
Ia a dizer amo-te, mas ainda pensei que não devia pronunciar nenhuma palavra que me comprometesse para além das coisas do corpo, isso quando ainda estava lúcido, porque logo perdi a noção do conveniente, do tempo, do espaço e das palavras e cedo compreendi que amo-te é uma palavra bem pobre, bem pequena no incêndio devorador da paixão, e tudo deixou de ter importância nos braços daquele impetuoso, avassalador amante, doce nos gestos e brutal nas palavras.
Soube, sem dúvida nenhuma, que, desde os doze anos, estava apaixonado por aquele cigano maldito, por aqueles olhos, aqueles caracóis negros, aquelas mãos morenas, perfeitas, sensuais.
Há uma linha que divide o amor da paixão? Não sei. Só sei que lhe gritei uma vez e outra e outra vez, amo-te estúpido, amo-te animal, amo-te cabrão, filho da puta, cigano de merda, meu amor.
Rosa Lobato de Faria » A Alma Trocada (Porto: Asa) » 2007 » pp. 70-71
Quando estava embrenhado na leitura bateram à porta do quarto. Pancadas leves, delicadas, e interroguei-me quem poderia estar batendo assim.
- Entre, disse um pouco a medo.
Era o Tinito, que entrou e fechou a porta à chave.
- Mas?...
- Cala-te, patrão. Não digas nada se não queres ser violado à bruta. Pensas que podes andar todos os dias em cima de mim com esses cabrões desses olhos azuis?
Quando acabou de dizer estas palavras já estava nu, o seu esplendoroso corpo moreno já tinha avançado para cima do meu que tremia de urgência e que, sem resistir, se entregava, as roupas atiradas para o chão, os pés descalços a acariciá-lo.
Ia a dizer amo-te, mas ainda pensei que não devia pronunciar nenhuma palavra que me comprometesse para além das coisas do corpo, isso quando ainda estava lúcido, porque logo perdi a noção do conveniente, do tempo, do espaço e das palavras e cedo compreendi que amo-te é uma palavra bem pobre, bem pequena no incêndio devorador da paixão, e tudo deixou de ter importância nos braços daquele impetuoso, avassalador amante, doce nos gestos e brutal nas palavras.
Soube, sem dúvida nenhuma, que, desde os doze anos, estava apaixonado por aquele cigano maldito, por aqueles olhos, aqueles caracóis negros, aquelas mãos morenas, perfeitas, sensuais.
Há uma linha que divide o amor da paixão? Não sei. Só sei que lhe gritei uma vez e outra e outra vez, amo-te estúpido, amo-te animal, amo-te cabrão, filho da puta, cigano de merda, meu amor.
Rosa Lobato de Faria » A Alma Trocada (Porto: Asa) » 2007 » pp. 70-71
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