O Zé vai-se embora e eu fico aqui sozinho a remexer no passado. Cresci no campo, num meio muito rural, humilde e sub-desenvolvido. O MDA escreveu o seguinte: Tenho a sólida convicção que toda a gente se lembra da sua própria infância como o momento mais deprimente da sua vida. Ao fim e ao cabo, a infância foi mesmo o período mais calmo e pacífico, ao passo que a adolescência foi o mais conturbado e difícil.
Era um selvagem, metido comigo próprio, descobria as coisas sozinho, sem companheiros com quem partilhar as coisas. Levava raspanetes, claro que sim, mas nunca senti o peso de uma mão no meu rosto. Nunca. Não compreendo como conseguiram (os meus pais e os meus avós maternos). Que infinita paciência e sabedoria; claro que já tinha cinco irmãos que tinham amaciado o terreno, mas eles também não se podem queixar. As minhas duas irmãs, mais próximas na idade, por exemplo, nunca foram recriminadas pelos meus pais pela roupa que escolhiam ou pelos namorados que tinham. Sempre tive mais liberdade do que a que reclamava ou merecia. Tive de crescer à pressa, como sabia e era capaz. Aos 15 anos, comecei a trabalhar para ajudar a suportar as despesas em Castelo Branco. Na verdade, vivi pouco tempo com os meus pais, como escrevi aqui: primeiro foi com os meus avós (a primária), depois sozinho e com a minha irmã e novamente sozinho quando ela casou (o secundário), depois praticamente sozinho já em Lisboa (universidade). Não me importo de ficar comigo próprio, mas há dias em que sinto muita falta do Zé. Ontem foi um deles.
Era um selvagem, metido comigo próprio, descobria as coisas sozinho, sem companheiros com quem partilhar as coisas. Levava raspanetes, claro que sim, mas nunca senti o peso de uma mão no meu rosto. Nunca. Não compreendo como conseguiram (os meus pais e os meus avós maternos). Que infinita paciência e sabedoria; claro que já tinha cinco irmãos que tinham amaciado o terreno, mas eles também não se podem queixar. As minhas duas irmãs, mais próximas na idade, por exemplo, nunca foram recriminadas pelos meus pais pela roupa que escolhiam ou pelos namorados que tinham. Sempre tive mais liberdade do que a que reclamava ou merecia. Tive de crescer à pressa, como sabia e era capaz. Aos 15 anos, comecei a trabalhar para ajudar a suportar as despesas em Castelo Branco. Na verdade, vivi pouco tempo com os meus pais, como escrevi aqui: primeiro foi com os meus avós (a primária), depois sozinho e com a minha irmã e novamente sozinho quando ela casou (o secundário), depois praticamente sozinho já em Lisboa (universidade). Não me importo de ficar comigo próprio, mas há dias em que sinto muita falta do Zé. Ontem foi um deles.
Curiosamente, também sinto que as recordações da minha infância não têm nada de deprimente... foi uma etapa tão feliz :)
ResponderEliminarAinda bem, Will. Eu acho que a infância é o tempo mais mágico que vivemos. É cliché: por causa da inocência e porque as coisas verdadeiramente complicadas ainda não nos atormentam.
ResponderEliminarSabes uma coisa? Sinto que és muito especial e que o Zé tem muita sorte em te ter ...:)))
ResponderEliminarEu imagino que ele saiba disso mas diz-lhe isso da minha parte sff...
Beijinhos com carinho
Tens razão, habituamo-nos (alguns de nós) a viver sozinhos, mas mesmo assim às vezes cansa e temos saudades. Agora me lembrei disso! Deve ser porque vou viajar e viver sozinha por uns bons dias...
ResponderEliminarBeijos da Monga
(beijinho à Denise, que no outro dia solicitou «as melhoras do meu problema» sem me conhecer pessoalmente...mongo, desculpa deixar beijinhos a amigas tuas que não conheço sem ser por palavras!!)
Sónia, minha linda, muito obrigado. Sabes que eu acho que somos todos especiais. Pronto, uns mais que outros. E, sim, temos uma sorte danada em nos termos cruzado. Ah, como o amor é lindo!
ResponderEliminarEle lê os comentários todos, acho que já sabe, mas imagino que ficará contente por reconheceres isso mesmo. Beijinhos
Monga, vou continuar a falar da minha infância (mais dois textos, pelo menos agora). Claro que temos saudades, acho que ninguém saudável gosta de viver sozinho sempre, nem por longos períodos.
ResponderEliminarSinto um aperto por saber que partes, sabias? Enfim, monguices.
Vou reenviar o teu comentário à Denise, não vá escapar-lhe ler o teu comentário.
Milhões de beijos com saudades antecipadas!
Caro Paulo
ResponderEliminaré muito bom recordarmos as nossas aorendizagens da vida, quer pela (boa) educação que recebemos, quer pelos passos que aorendemos a dar sózinhos; é nisso que muitas vezes camos buscar a força para vencer no dia a dia; nos dias, como o que hoje referes que sentes mais a falta do teu Zé...
Ninguém melhor te percebe nisso do que eu, acredita, pois ainda há pouco, acabei de falar e ver o Déjan no MSN, e hoje as palavras não saíam, deram lugar às lágrimas da saudade e da carência, mas amanhã estaremos melhor eu e ele, e tu e o Zé, pois como bem disseste, ambos tivemos uma sorte danada, não achas?
Abraço grande e amigo.
Paulo e Monga,
ResponderEliminarE aqui a fã deixava lá escapar o comentário! :)
A net, tem destas coisas, de permitir a aproximação virtual de pessoas que na vida real não se conhecem. E, por isso, ouso desejar uma boa viagem.
Quanto aos teus textos, Paulo, embora nem sempre os comente, gosto muito de os ler,mas isso tu já sabes (não sabes?)
Pinguim, de facto, a memória também nos pode salvar. Acho que é o caso, mas com a minha tendência para a melancolia, às vezes, nem isso chega!
ResponderEliminarNem sei que te diga acerca das distâncias. Talvez que são corajosos e se não fosse o amor, nem o msn, nem os sms, nem o telefone, aguentariam a relação. As lágrimas, a carência, as saudades serão um mal necessário? Espero que em compensação, a presença, nos dê energia suficiente para os momentos de ausência. Sim, temos uma sorte danada!
Um grande abraço, Pinguim.
Denise, ainda bem que lês os comentários! Eu faço o mesmo com o teu espaço, também nem sempre comento, mas gostei que tivesses falado da tua experiência em relação à homossexualidade. Ainda vou comentar, prometo!
ResponderEliminarUm abraço grande e bom fim-de-semana!