«TOUT EST ILLUMINÉ - TOTALIDADE»
«LÁGRIMA ATRÁS DE LÁGRIMA O CORPO TODO»
lágrima atrás de lágrima o corpo todo
ondeia repete-se chora parte chega
balança-se canta desespera submerge mais fundo
no fundo enterra-se grita geme contorce-se
esperneia voa despedaça-se arrepia-se
transpira ri lágrima atrás de lágrima
convulsão sim! não! uma mão o corpo
todo arrebate-se bate-se desaparece
meneia-se ondula rebenta gesticula
aflige-se arde serena-se agita-se
desiste resiste insiste subsiste existe
chora parte vai desaparece lágrima
ergue-se vem levanta o rosto sobe a voz
impõe o timbre acena o dedo
afoga-se evapora cinzefaz-se grita
adeus / adeus /adeus / chora lágrima
atrás de lágrima sem motivo com todos
os motivos possíveis e desmedidos
reais subcutâneos intrínsecos entranhas
desventradas estranhas os olhos rasos
de olhos e água hipérbole de dor ainda mais
e mais e mais grita não aguenta mais
estilhaça-se fragmenta-se reúne-se sorri
ondula espiralondula espiralondeia ondivagueia
o corpo todo serpente de repente ausente
presente carne esqueleto e tudo baixo baixo
sobe um pouco levanta-se grita ao mundo permanece
hirta-se estatua-se pedra-se granita-se cristaliza
cristal gema antena o grito a lágrima
nos lábios no início e no fim da boca
não resiste não desiste não existe não persiste
sublima-se extasia esvazia-se esvai-se
num voo numa nota musical numa onda via-se
num som num piscar de olhos o beijo
de despedida o dia a vida o pó a cinza
a recordação o coração as lembranças a memória
o sal o azeite pena aceite adeus /
adeus / adeus lágrima atrás de lágrima
sem sim nem não não há razão há vidas
há partidas há chegadas e há lágrimas
e alegrias há sol e há luz mas também há o oposto
e o oposto é continuar a ser o que se foi
é ser-se um pouco mais um pouco
menos ser-se demais enganar as lágrimas
embarcar navegar viajar sonhar
profundamente sem bom nem mau
torce-se contorce-se estende-se tende-se
inspira expira sístole diástole vai vem
chora e ri fica e parte com saudade ou sem ela
toda a melancolia da primavera da desvida
que cresce e atrofia vive-se pacifica-se
pontapeia mutila-se arrepende-se avança
cansa-se importa-se cai estende-se adormece
dorme docemente arrepela-se arrisca-se
abisma-se luta cavalga pára lágrima
enganar a tristeza respira pensa salta escada-se
caminha pula circunda-se solidifica-se
engole-se come-se antropofoga-se circula
acalma-se estica-se expande-se imagina
não imagina o fim finaliza-se conclui-se
arrebate-se resume-se brilha entranha-se
brilha gela congela degela anima-se inventa
agita-se descobre interioriza exteriorizando
centrifuga-se centripta-se ama odiando
mascara-se de alegria imita assume evapora
liquidifica-se o corpo todo espasmos
cada dedo cada milímetro de pele cada pêlo
cada sim e cada mão cada extremo
cada partícula de verniz euforia disforia
o sorriso transforma-se em lágrima
o sorriso e/ou a lágrima à tempestade
segue-se a bonança a balança lança-se
em frente para cima para trás para baixo
para os lados expande-se encolhe-se
ajoelha-se grita não reza chora não chora
retrai-se dispõe sobrepõe não impõe
e outros derivados com rima em –õe
já não aguenta desalenta atenta evita-se
degela nivela flutua ondeia espirala-se
centripta-se rebenta benta lentamente
desmembra-se conjunta-se antes depois
assim e assado relaxa-se… a calma…
a angústia silenciosa… música… está tudo
iluminado e belo veemente esfuziante
silencia-se o corpo todo lágrima após lágrima
totalidade ausência recolhe-se e de repente
apresenta-se anticorpo antídoto veneno sereno
fustiga-se mistura-se mescla-se de entusiasmo
e aflição porque é o sim e é a mão perde-se
encontra-se e assim sucessivamente
há um grito no olhar silente uma dor nas mãos
fechadas foge perde-se deserta-se sei lá por onde
floresta-se o cântico multicolor preto-e-branco
alegria-e-dor eis que surge mas não é
partirá já de seguida antes de chegar completamente
não tem tempo de ser perde-se no verde da bruma
na memória do que foi e do que nunca foi mas
sempre quis ser na memória do que foi
saudade de nunca ser / ser ou não ser? – perder
rever com a luz toda tudo iluminado
vazio
gemido bramido com o corpo todo em convulsão
possessão propulsão pulsação de vida tormento
do norte de dentro da morte lágrima após lágrima
chora com o corpo todo no mesmo movimento
desistir ser insistir perder batalha desigual
sem bons nem maus agora e na hora talvez
não torce-se contrai-se dobra-se reduz-se mínimo
diminui-se máximo dolente o acto sacode-se
envolve-se dispersa-se submerge renasce recolhe-se
interioriza-se revolve-se confunde-se orbita
sobre si com o corpo todo e os sentidos e as sensações
corpo tanto belo tudo luzidamente esplendor… dor…
irrompem as lágrimas uma após outra
tem de partir mascara-se arranja-se finalmente
botoa-se maquilha-se arroza-se polvilha-se
cal os olhos estuque rimela-se sombreia-se
cabela-se com os caracóis todos grita
«FINALMENTE, EIS-ME AQUI, CHEGUEI, NÃO VI,
DESISTI E VOU SEM BEM NEM MAL, SOU SIM SOU NÃO,
DE ONDE VIM DESCONHEÇO, ONDE VOU IGNORO, PARTO.»
a luz serena o corpo tremeluzente seca as lágrimas
últimos retoques a janela do mundo à espera
da derradeira actuação anjo ave asa partida
dizem «é assim a vida…» merda! porque
assim é que não devia ser!!!
voar e pronto sem cerimónias o corpo todo
lágrima atrás de lágrima a alma toda TUDO
Paulo 11 / Mar. / 2000
Amigo Mongo, lembro-me do texto, sim!! De momento não o releio porque não tenho tempo, estou a confirmar pela 90ª vez se tenho tudo na mala.
ResponderEliminarHoje a nossa chamada ficou cortada por um ruído estranhíssimo, mas creio que foi por eu ter dito a palavra «Papa».
Beijos para ti e para o Zé.
Fiquem bem.
Monga
Amiga, a esta hora já deves estar em Roma, na tua nova cama dos próximos tempos. Espero que não te tenhas esquecido de nada e que o Papa não volte a interferir em nada, nem no teu trabalho nem na tua vida cruzes credo!
ResponderEliminarUm grande, grande abraço e até breve!