sábado, 20 de outubro de 2007

..:: 3º rosto do políptico Nanda ou os vários rostos de deus ::..

Sei que não será fácil ler isto tudo, nem perceber o que diz. Pode ser mau, Fernanda, mas espero que faça bem, acho que te deves lembrar: o 3º rosto do político que te dediquei há 7 anos:

«TOUT EST ILLUMINÉ - TOTALIDADE»

«LÁGRIMA ATRÁS DE LÁGRIMA O CORPO TODO»

lágrima atrás de lágrima o corpo todo

ondeia repete-se chora parte chega

balança-se canta desespera submerge mais fundo

no fundo enterra-se grita geme contorce-se

esperneia voa despedaça-se arrepia-se

transpira ri lágrima atrás de lágrima

convulsão sim! não! uma mão o corpo

todo arrebate-se bate-se desaparece

meneia-se ondula rebenta gesticula

aflige-se arde serena-se agita-se

desiste resiste insiste subsiste existe

chora parte vai desaparece lágrima

ergue-se vem levanta o rosto sobe a voz

impõe o timbre acena o dedo

afoga-se evapora cinzefaz-se grita

adeus / adeus /adeus / chora lágrima

atrás de lágrima sem motivo com todos

os motivos possíveis e desmedidos

reais subcutâneos intrínsecos entranhas

desventradas estranhas os olhos rasos

de olhos e água hipérbole de dor ainda mais

e mais e mais grita não aguenta mais

estilhaça-se fragmenta-se reúne-se sorri

ondula espiralondula espiralondeia ondivagueia

o corpo todo serpente de repente ausente

presente carne esqueleto e tudo baixo baixo

sobe um pouco levanta-se grita ao mundo permanece

hirta-se estatua-se pedra-se granita-se cristaliza

cristal gema antena o grito a lágrima

nos lábios no início e no fim da boca

não resiste não desiste não existe não persiste

sublima-se extasia esvazia-se esvai-se

num voo numa nota musical numa onda via-se

num som num piscar de olhos o beijo

de despedida o dia a vida o pó a cinza

a recordação o coração as lembranças a memória

o sal o azeite pena aceite adeus /

adeus / adeus lágrima atrás de lágrima

sem sim nem não não há razão há vidas

há partidas há chegadas e há lágrimas

e alegrias há sol e há luz mas também há o oposto

e o oposto é continuar a ser o que se foi

é ser-se um pouco mais um pouco

menos ser-se demais enganar as lágrimas

embarcar navegar viajar sonhar

profundamente sem bom nem mau

torce-se contorce-se estende-se tende-se

inspira expira sístole diástole vai vem

chora e ri fica e parte com saudade ou sem ela

toda a melancolia da primavera da desvida

que cresce e atrofia vive-se pacifica-se

pontapeia mutila-se arrepende-se avança

cansa-se importa-se cai estende-se adormece

dorme docemente arrepela-se arrisca-se

abisma-se luta cavalga pára lágrima

enganar a tristeza respira pensa salta escada-se

caminha pula circunda-se solidifica-se

engole-se come-se antropofoga-se circula

acalma-se estica-se expande-se imagina

não imagina o fim finaliza-se conclui-se

arrebate-se resume-se brilha entranha-se

brilha gela congela degela anima-se inventa

agita-se descobre interioriza exteriorizando

centrifuga-se centripta-se ama odiando

mascara-se de alegria imita assume evapora

liquidifica-se o corpo todo espasmos

cada dedo cada milímetro de pele cada pêlo

cada sim e cada mão cada extremo

cada partícula de verniz euforia disforia

o sorriso transforma-se em lágrima

o sorriso e/ou a lágrima à tempestade

segue-se a bonança a balança lança-se

em frente para cima para trás para baixo

para os lados expande-se encolhe-se

ajoelha-se grita não reza chora não chora

retrai-se dispõe sobrepõe não impõe

e outros derivados com rima em –õe

já não aguenta desalenta atenta evita-se

degela nivela flutua ondeia espirala-se

centripta-se rebenta benta lentamente

desmembra-se conjunta-se antes depois

assim e assado relaxa-se… a calma…

a angústia silenciosa… música… está tudo

iluminado e belo veemente esfuziante

silencia-se o corpo todo lágrima após lágrima

totalidade ausência recolhe-se e de repente

apresenta-se anticorpo antídoto veneno sereno

fustiga-se mistura-se mescla-se de entusiasmo

e aflição porque é o sim e é a mão perde-se

encontra-se e assim sucessivamente

há um grito no olhar silente uma dor nas mãos

fechadas foge perde-se deserta-se sei lá por onde

floresta-se o cântico multicolor preto-e-branco

alegria-e-dor eis que surge mas não é

partirá já de seguida antes de chegar completamente

não tem tempo de ser perde-se no verde da bruma

na memória do que foi e do que nunca foi mas

sempre quis ser na memória do que foi

saudade de nunca ser / ser ou não ser? – perder

rever com a luz toda tudo iluminado

vazio

gemido bramido com o corpo todo em convulsão

possessão propulsão pulsação de vida tormento

do norte de dentro da morte lágrima após lágrima

chora com o corpo todo no mesmo movimento

desistir ser insistir perder batalha desigual

sem bons nem maus agora e na hora talvez

não torce-se contrai-se dobra-se reduz-se mínimo

diminui-se máximo dolente o acto sacode-se

envolve-se dispersa-se submerge renasce recolhe-se

interioriza-se revolve-se confunde-se orbita

sobre si com o corpo todo e os sentidos e as sensações

corpo tanto belo tudo luzidamente esplendor… dor…

irrompem as lágrimas uma após outra

tem de partir mascara-se arranja-se finalmente

botoa-se maquilha-se arroza-se polvilha-se

cal os olhos estuque rimela-se sombreia-se

cabela-se com os caracóis todos grita

«FINALMENTE, EIS-ME AQUI, CHEGUEI, NÃO VI,

DESISTI E VOU SEM BEM NEM MAL, SOU SIM SOU NÃO,

DE ONDE VIM DESCONHEÇO, ONDE VOU IGNORO, PARTO.»

a luz serena o corpo tremeluzente seca as lágrimas

últimos retoques a janela do mundo à espera

da derradeira actuação anjo ave asa partida

dizem «é assim a vida…» merda! porque

assim é que não devia ser!!!

voar e pronto sem cerimónias o corpo todo

lágrima atrás de lágrima a alma toda TUDO

Paulo 11 / Mar. / 2000

[Com base na música “TOUT EST ILLUMINÉ» de Wim Mertens, na trilogia INTERGER VALOR]

2 comentários:

  1. Amigo Mongo, lembro-me do texto, sim!! De momento não o releio porque não tenho tempo, estou a confirmar pela 90ª vez se tenho tudo na mala.

    Hoje a nossa chamada ficou cortada por um ruído estranhíssimo, mas creio que foi por eu ter dito a palavra «Papa».

    Beijos para ti e para o Zé.

    Fiquem bem.

    Monga

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  2. Amiga, a esta hora já deves estar em Roma, na tua nova cama dos próximos tempos. Espero que não te tenhas esquecido de nada e que o Papa não volte a interferir em nada, nem no teu trabalho nem na tua vida cruzes credo!
    Um grande, grande abraço e até breve!

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