Não a conhecia. Não sabia quem era, apesar da Vânia ter tido aulas com A Professora (durante a licenciatura) e a ter achado fantástica nas aulas, embora distante no tratamento.
Andava numa fase má, faltei ao primeiro seminário e no segundo ainda consegui chegar atrasado. Levei um raspanete que até andei de roda. As coisas foram evoluindo bem, até que fui confrontado com a necessidade de apresentar um projecto. Delineei em algumas linhas um projecto babilónico que levou A Professora a olhar-me como se fosse louco. Claro que percebi o motivo. Noutro encontro, levei dois nomes: foi peremptória e, assim, o objectivo do meu estudo passou a ser a obra de Eduardo Pitta, que não conhecia pessoalmente. Eu só queria a poesia, mas A Professora conseguiu convencer-me a analisar também a ficção, que na altura se limitava a Persona (contos, entretanto, reeditados pela QuidNovi).
Aproveitei pouca coisa do projecto anterior (que era sobre O Medo de Al Berto), porque o objecto de estudo era o corpo e em Pitta era a vida e a sexualidade. Apesar de contíguos, os assuntos exigiram-me uma parafernália bibliográfica absolutamente distinta: tinha de avançar mais sobre os estudos GLQ, antropológicos e sociológicos que sobre os filosóficos dedicados às várias perspectivas sobre o corpo, para não falar dos estudos da área da autobiografia. Preciso de ser exacto: nunca houve nenhuma imposição! Tudo o que me pediu, considerei-o como informação bem-vinda, afinal eu estava a aprender e A Professora ensinou-me tanto que nunca conseguirei pagar a minha dívida de gratidão que lhe tenho. Trata-se de admiração pura e bem argumentada. Foi pela sua mão, por exemplo, que entrei no grupo do intimismo do CEC e apresentei, inclusive, uma comunicação sobre a vivência da (homo)sexualidade na obra autobiográfica de Frederico Lourenço.
Deverão ser poucos os académicos do seu calibre, com a sua exigência, capacidade de trabalho, ética e deontologia (sim, isto também existe nos estudos sobre literatura) e coragem. Quantas vezes me dei conta que bebíamos as suas histórias sobre a infância e adolescência, episódios que A Professora nos garantiu fixar nas memórias quando fosse grande. Vibrei com as suas histórias sobre o período pré-25 de Abril, sobre as investidas da PIDE e dos gorilas sobre os alunos da FLUL e sobre a defesa heróico-inconsciente-das-consequência de alguns professores que recusaram pactuar com as atrocidades e ingerências.
Intimida-me (melhor: intimida-nos, acho que posso falar por alguns colegas de quem fiquei amigo) a sua capacidade de trabalho e a respectiva exigência que fez de nós pessoas melhores e não simples pessoas com mais um canudo (é, por exemplo, largamente famoso o seu complexo sistema de correcção com cores, de que fiquei parcialmente adepto).
Por falta de tempo e inspiração, raramente cumpria os prazos que me impunha. A sua compreensão surpreendeu-me e fez com que ficasse ainda mais grato. Digamos que me orientou exactamente como deve ser. Acho que posso orgulhar-me do resultado, bem como A Professora e o Eduardo. Claro que podia ter sido mais arrojado em algumas leituras: faltou-me alguma coragem, a inteligência e o raciocínio certeiro, o tempo e o espaço – mais umas páginas e passava por tese de doutoramento (já me bastou ter fintado as regras com o Arial Narrrow, tamanho 11).
Isto tudo porque hoje almocei com A Professora: não a via há alguns meses. Encontrei-a como é seu hábito: assoberbada de trabalho, mas foi terapêutico, mais não seja porque me despertou o bichinho adormecido da investigação feita por amor à camisola. Ok, Denise, pode ser que não tenha desistido, mas por enquanto é melhor ir com calma: doutoramento só quando a estabilidade laboral for efectiva (e quando será isso, ó meu bom senhor?); enquanto tal, não posso andar aos saltinhos com quilos de bibliografia atrás.
Hoje não ilustro as cores com uma fotografia, mas com três ilustrações que fiz para acompanhar um poema tríptico que lhe dediquei. E está combinado: tem de vir cá conhecer a Victoria. Cedências só na data!
Aproveitei pouca coisa do projecto anterior (que era sobre O Medo de Al Berto), porque o objecto de estudo era o corpo e em Pitta era a vida e a sexualidade. Apesar de contíguos, os assuntos exigiram-me uma parafernália bibliográfica absolutamente distinta: tinha de avançar mais sobre os estudos GLQ, antropológicos e sociológicos que sobre os filosóficos dedicados às várias perspectivas sobre o corpo, para não falar dos estudos da área da autobiografia. Preciso de ser exacto: nunca houve nenhuma imposição! Tudo o que me pediu, considerei-o como informação bem-vinda, afinal eu estava a aprender e A Professora ensinou-me tanto que nunca conseguirei pagar a minha dívida de gratidão que lhe tenho. Trata-se de admiração pura e bem argumentada. Foi pela sua mão, por exemplo, que entrei no grupo do intimismo do CEC e apresentei, inclusive, uma comunicação sobre a vivência da (homo)sexualidade na obra autobiográfica de Frederico Lourenço.
Deverão ser poucos os académicos do seu calibre, com a sua exigência, capacidade de trabalho, ética e deontologia (sim, isto também existe nos estudos sobre literatura) e coragem. Quantas vezes me dei conta que bebíamos as suas histórias sobre a infância e adolescência, episódios que A Professora nos garantiu fixar nas memórias quando fosse grande. Vibrei com as suas histórias sobre o período pré-25 de Abril, sobre as investidas da PIDE e dos gorilas sobre os alunos da FLUL e sobre a defesa heróico-inconsciente-das-consequência de alguns professores que recusaram pactuar com as atrocidades e ingerências.
Intimida-me (melhor: intimida-nos, acho que posso falar por alguns colegas de quem fiquei amigo) a sua capacidade de trabalho e a respectiva exigência que fez de nós pessoas melhores e não simples pessoas com mais um canudo (é, por exemplo, largamente famoso o seu complexo sistema de correcção com cores, de que fiquei parcialmente adepto).
Por falta de tempo e inspiração, raramente cumpria os prazos que me impunha. A sua compreensão surpreendeu-me e fez com que ficasse ainda mais grato. Digamos que me orientou exactamente como deve ser. Acho que posso orgulhar-me do resultado, bem como A Professora e o Eduardo. Claro que podia ter sido mais arrojado em algumas leituras: faltou-me alguma coragem, a inteligência e o raciocínio certeiro, o tempo e o espaço – mais umas páginas e passava por tese de doutoramento (já me bastou ter fintado as regras com o Arial Narrrow, tamanho 11).
Isto tudo porque hoje almocei com A Professora: não a via há alguns meses. Encontrei-a como é seu hábito: assoberbada de trabalho, mas foi terapêutico, mais não seja porque me despertou o bichinho adormecido da investigação feita por amor à camisola. Ok, Denise, pode ser que não tenha desistido, mas por enquanto é melhor ir com calma: doutoramento só quando a estabilidade laboral for efectiva (e quando será isso, ó meu bom senhor?); enquanto tal, não posso andar aos saltinhos com quilos de bibliografia atrás.
Hoje não ilustro as cores com uma fotografia, mas com três ilustrações que fiz para acompanhar um poema tríptico que lhe dediquei. E está combinado: tem de vir cá conhecer a Victoria. Cedências só na data!
Ah, agora percebo... melhor. e percebo exactamente quando te referes à Professora. É, sem dúvida, marcante quando se tem um Professor. Abraço.
ResponderEliminarÉ realmente uma Senhora Professora e também eu estou muito grata por ter tido a oportunidade de aprender com ela. Fez-me crescer intelectualmente e fez-me acreditar em mim. Extremamente rigorosa no trabalho e tão afável nas relações que connosco foi tendo!
ResponderEliminarQuando voltares a estar com ela, diz-lhe que todos nós temos saudades. Bem que podias voltar a organizar um jantarinho num restaurante fixe, não?
Beijo,
D
Falaste-lhe do teu blogue?
ResponderEliminarDário, esta é mesmo A Professora. Tive outros que me marcaram muito, mas nenhum desta forma, em intensidade e amizade. Foi essencial para que seja o que sou.
ResponderEliminarAbraços
Denise, deve haver quem não lhe ache muita piada, mas desses não reza a história :))
ResponderEliminarAcho que A Professora também tem saudades, ainda por cima agora que está afastada da malta - o ensino está-lhe no sangue.
Tens razão, podia organizar um jantar... mas eu sou um desastre a fazer isso: aliás deves imaginar como é uma tarefa difícil conseguir conciliar vontades, agendas, horas, dias... Ai que gente complicada.
Mas vou pensar no assunto!
Sim, falei-lhe do blogue (aliás, mandei-lhe o texto que escrevi sobre ela) e esqueci-me de lhe falar do teu. Ele já conhece o teu?
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminara) Quanto ao jantar, ficar-te-ia grata se calhasse a um fim-de-seamana, como deves calcular. Não foste tu qye organizaste o último a que fui, num restaurante com muita pinta ao pé do Hospital dos Capuchos? Estava magnífico.
ResponderEliminarb) Quanto ao blogue, não, não lhe falei. Por vergonha, sobretudo. Já viste a responsabilidade de a ter como leitora? De qualquer maneira, se A Professora te vier aqui visitar, apanha o link para as minhas garatujas :)
Denise, fins-de-semana também são o melhor para mim. Olha, se fui eu... terei sido? Se calhar, ai cabecinha oca a minha.
ResponderEliminarO Psi é giro, sobretudo, quando há pessoal que não come carne. Mas há outros sítios possíveis.
Denise, vergonha de quê? Olha, falo eu. Não sei se A Professora tem tempo para estar a descobrir links, portanto o melhor é dize-lhe e pronto.
Abraços
Boca de trapo
ResponderEliminarObrigadinho pelo elogio :)))
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