segunda-feira, 22 de outubro de 2007

..:: palavras que nos salvam ::.. Mia Couto

Para encerrar o capítulo dedicado à infância:

Lições

Não aprendi a colher a flor
sem esfacelar as pétalas.
Falta-me o dedo menino
de quem costura desfiladeiros.

Criança, eu sabia
suspender o tempo,
soterrar abismos
e nomear as estrelas.
Cresci,
perdi pontes,
esqueci sortilégios.

Careço da habilidade da onda,
hei-de aprender a carícia da brisa.

Trémula, a haste
me pede
o adiar da noite.

Em véspera da dádiva,
a faca me recorda, no gume do beijo,
a aresta do adeus.

Não, não aprenderei
nunca a decepar flores.

Quem sabe, um dia,
eu, em mim, colha um jardim?

Maputo, 2006


Mia Couto » Idades Cidades Divindades (Lisboa: Caminho) » 2007 » pp. 27-28

4 comentários:

  1. Vim aqui agora porque me apetece ir dormir com um sorriso nos lábios... :)

    Beijinhos especiais para uma pessoa especial : TU

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  2. Obrigado, Sónia! Espero que tenhas o tal sorriso!
    Boa noite e sonha com anjos bons! Beijinhos

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  3. Parabéns pelo post! Mia Couto é ótimo!!!

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  4. Olá Ricardo, obrigado pela visita e pelo comentário. Simplesmente, Mia Couto, é fantástico. Adoro-o e este poema veio ao meu encontro!
    Abraços

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