Para encerrar o capítulo dedicado à infância:
Lições
Não aprendi a colher a flor
sem esfacelar as pétalas.
Falta-me o dedo menino
de quem costura desfiladeiros.
Criança, eu sabia
suspender o tempo,
soterrar abismos
e nomear as estrelas.
Cresci,
perdi pontes,
esqueci sortilégios.
Careço da habilidade da onda,
hei-de aprender a carícia da brisa.
Trémula, a haste
me pede
o adiar da noite.
Em véspera da dádiva,
a faca me recorda, no gume do beijo,
a aresta do adeus.
Não, não aprenderei
nunca a decepar flores.
Quem sabe, um dia,
eu, em mim, colha um jardim?
Maputo, 2006
Mia Couto » Idades Cidades Divindades (Lisboa: Caminho) » 2007 » pp. 27-28
Vim aqui agora porque me apetece ir dormir com um sorriso nos lábios... :)
ResponderEliminarBeijinhos especiais para uma pessoa especial : TU
Obrigado, Sónia! Espero que tenhas o tal sorriso!
ResponderEliminarBoa noite e sonha com anjos bons! Beijinhos
Parabéns pelo post! Mia Couto é ótimo!!!
ResponderEliminarOlá Ricardo, obrigado pela visita e pelo comentário. Simplesmente, Mia Couto, é fantástico. Adoro-o e este poema veio ao meu encontro!
ResponderEliminarAbraços