Dustin O'Halloran, Opus 23 (animação de Marco Morandi)
GABRIELA CANAVILHAS
DISCURSO NA CERIMÓNIA DE HOMENAGEM - 20-06-2010
JOSÉ LUIS RODRÍGUEZ ZAPATERO
EL PAÍS - 19-06-2010
MARIANO RAJOY
EL PAÍS - 19-06-2010
(...) Era uma vez um homem, que quando morreu, partiram 2 pessoas: saiu ele, de mão dada com a criança que foi – tal como o próprio José Saramago previu, nas suas próprias palavras.
Era uma vez e tantas outras vezes, o respeito à terra e aos homens, a luta contra as injustiças, a defesa dos direitos humanos, a denúncia contra a guerra do Iraque ou contra a ocupação palestiniana, as causas dos Sem Terra, do movimento anti-globalizante, da preservação do ambiente, ou do anti-clericalismo desassombrado.
Estas e tantas outras, foram as histórias com que o ateu místico, religioso laico, interrogador de Deus e dos homens, José Saramago, “comunista hormonal” nas suas palavras, questionou Portugal e o mundo incessantemente, directa ou metaforicamente.
A liberdade do pensamento define o criador: Saramago foi voz lúcida, inconformada, firme, insubmissa na luta contra a desigualdade entre os homens – esta sim “a verdadeira miséria”, dizia.
(...) Fiel ao seu compromisso com a consciência, usou a escrita para uma reflexão sobre as grandes causas da humanidade, edificando uma obra coerente, ousada, sólida, moldada pela ética, visando, sempre, a dignificação do Homem.
E fê-lo por vezes subvertendo normas - quer de narrativa (o seu estilo é inconfundível, nas suas frases longas e de pontuação singular), quer enfrentando dogmas - não tinha fé em Deus (mas certamente Deus teve fé nele). (...)
JOSÉ LUIS RODRÍGUEZ ZAPATERO
EL PAÍS - 19-06-2010
Tu abuelo, nos contaste, intuyendo el final de su existencia en la Tierra, fue diciendo adiós a los amigos, a su familia, a la naturaleza, porque quería estar lúcido y presente cuando la muerte llegara. Por eso, se abrazaba a los árboles que guardaban las páginas escritas de su vida.
Me llega la triste noticia de tu muerte y te evoco, el verano pasado, en la biblioteca de tu casa de Lanzarote. Vuelves a ser el perfecto anfitrión, el hombre cortés, inteligente, generoso, al que le gusta compartir la amistad. Me honra ser tu invitado. Pilar, tu compañera, tu cómplice, parece señalar en silencio a todos y cada uno de tus personajes en ti: al Ricardo Reis que se compadece de la soledad de los poetas y ayuda a no temer la memoria, a los inventores de artefactos angélicos que quieren enseñar a los seres humanos a volar "aunque les cueste la vida", a aquel alfarero que libra a los esclavos de una nueva caverna porque se niega a aceptar ciertas cegueras que imponen desigualdad y dolor.
Tú, que has sido también todos los nombres, no terminas aquí. 2010 es ya, para siempre, el año de la muerte de José Saramago, pero tus libros forman un maravilloso bosque de dignidad. Y yo me abrazo al árbol para mantener tu memoria.
MARIANO RAJOY
EL PAÍS - 19-06-2010
Con José Saramago desaparece un novelista enérgico, comprometido con la fuerza de la palabra. Sus libros son testimonio de ello. Intensos, arrebatados, desvelan la precisión visionaria de quien escribía desde dentro, invocando una pasión íntima que surgía de la imaginación, pero que no renunciaba a tener los pies en la tierra, palpando sus contradicciones y sus injusticias. Sé que no compartíamos el mismo horizonte político. Él creía en unos ideales que no son los míos, pero eso no impide que aprecie en su obra la convicción compartida de que la dignidad del hombre, más allá de las diferencias, siempre cuenta. Sus personajes mostraban esta forma de pensar. En ellos latía un aliento pesimista que dejaba abierta una puerta a la esperanza, a la espera de que el lector sacara sus propias conclusiones acerca de su conducta: de lo que hacía con su vida y de cómo lo hacía. El año de la muerte de Ricardo Reis, Memorial del convento o Ensayo sobre la ceguera son ejemplos de este proceder literario. Saramago fue uno de los grandes escritores del siglo XX y un gran amigo de España. El reconocimiento internacional que mereció su obra fue, también, un homenaje esperado al portugués: una lengua portentosa, bella y fértil desde sus orígenes; una lengua próxima, íntima, hermana, como el pueblo que la habla y que siente a través de ella.
DUARTE PIO
EXPRESSO - 19-06-2010
Falando em Viseu, na sessão de encerramento do XVI Congresso da Causa Real, sem nunca referir o nome de José Saramago, Duarte Pio, disse ser "simbólico que o país neste momento esteja a homenagear como um grande herói nacional um homem que é contra Portugal, que quis que Portugal deixasse de existir como país, que tem um certo ódio até à nossa raiz e que esse seja considerado o símbolo atual do nosso regime".
MANUEL ANTÓNIO PINA
JN- 21-06-2010
O oficioso "Osservatore romano", que o Vaticano costuma usar para atirar pedras escondendo a mão, achou que a morte de Saramago seria boa altura para o apedrejar, tanto mais que, agora, ele já não pode defender-se. O apedrejador de serviço meteu, por isso, mãos à vaticana obra e, mesmo não percebendo por que motivo terá Deus deixado Saramago viver até à "respeitável idade de 87 anos" e andar por aí a exibir uma "crença obstinada" não nos dogmas da Igreja mas nos do materialismo histórico, condenou-o às chamas do Inferno (infelizmente a Igreja já não tem poder para condenar gente como Saramago à fogueira na Terra). Também Cavaco tem queixas de Saramago mas, no seu caso, só protocolares pois, ao contrário do Vaticano, Cavaco não é rancoroso. Saramago não teve, de facto, o cuidado de acertar a data da morte com a agenda da Presidência, o que impediu o presidente de ir ao funeral. Saramago devia saber que Cavaco "gosta de cumprir promessas" e que prometera "à família que no dia 17 partiria com eles para a ilha de S. Miguel". Ora regras de concordância gramatical podem interromper-se, férias não.
Pessoas como Duarte Pio, Sousa Lara e Cavaco esquecem-se, na sua pequenez, que daqui a umas décadas ninguém falará deles.
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