quinta-feira, 9 de outubro de 2008

..:: uma visão muito ₥ṅᵷⱥ da realidade ::..

O texto que se segue não é meu, mas da nossa querida Monga, heterossexual orgulhosa e que nos conhece bem. Tenho-me lembrado dela e deste texto a roçar o humorístico que, posso dizer, nos foi "oferecido" por causa desta entrada (respondendo a cada uma das alíneas). O texto é longo; quis truncar algumas partes, mas acho que não, segue inteirinho mesmo que, entretanto, eu tenha vindo a perder o humor. Espero que tenham paciência para ele e reconheçam o mérito da Monga.
Agora, mongo, mas muito mongo mesmo, espantem-se, é este texto de opinião que o C reproduziu (só lendo... doutra forma ninguém acredita - cf. ainda a resposta de Manuel António Pina). Pelos vistos, já não bastava este... raispartam estas alimárias (e tenho que confessar - a um padre, já agora - como e quanto adoro esta palavra).



A homossexualidade

Tema sempre quente em debate, a homossexualidade já não espanta ninguém (excepto a minha avó), todavia a grande maioria das pessoas, pelo menos em Portugal, sobretudo aquelas que se dizem «abertas» a tudo, aceitando as semelhanças e diferenças, defendem muito pouco os direitos dos homossexuais. Sim, porque homossexualidade é uma coisa, direitos dos homossexuais é outra muito diferente, e até aquelas pessoas que sacodem o capote, que são as que dizem «o que os outros fazem e gostam não me diz respeito» (como se isso fosse possível…) não sabem bem com que linhas se cosem as reivindicações dos homossexuais.

Antes de mais, para aceitar o diferente como igual é preciso ser-se inteligente. E a seguir corajoso.
Se estudarmos a história do mundo, das mentalidades, a homossexualidade sempre existiu (a minha avó garante a pés juntos que no tempo do Salazar não havia homossexuais). Há no entanto que distinguir que mesmo aqueles que aceitam isto como um dado adquirido são patetas ao ponto de neglicenciarem os direitos dos homossexuais como um assunto a pôr na mesa. Sim, uma coisa é dizermos que nada temos a ver com os hábitos sexuais do vizinho, outra é dizermos que o vizinho tem os mesmos direitos que nós.
Como sempre, os mitos sobre a homossexualidade obedecem a uma visão estreita, dogmática, às vezes muito parva. É como falar das outras raças, da cor da pele ou dos direitos da mulher. Tudo muito bonito até ao dia em que se exige que as coisas passem para o papel. É ver os tipos e tipas que aceitam a diferença a reclamar.
Vamos aos mitos, visto que ando numa de listagens:

1) A homossexualidade é uma doença.
Em primeiro lugar, qual será a pertinência da questão? Se fosse uma doença, a pessoa tornar-se-ia menos digna? Em segundo, não há de facto provas de que o seja. Imensas espécies animais praticam a homossexualidade. Se Deus é perfeito certamente não terá criado essas espécies por «erro». Mas já vamos à religião…

2) Os homossexuais são pervertidos e poligâmicos.
Vamos lá… os heteros não ficam atrás, pois não? No outro dia vi um programa sobre sado-masoquismo que me deixou maldisposta. Um velho gordo pagava a duas mamalhudas para lhe porem um açaime e o colocarem numa casota de cão. O velho ladrava, obedecia, era queimado com velas, entre outros rituais perversos, como lhe cuspirem na boca. Bastou-me para perceber que cada um tem os seus hábitos e alguns são bastante estúpidos. Outros são indignos porque violam o bem-estar das outras pessoas (como apalpar senhoras no autocarro ou metro).
A questão da poligamia até me dá calafrios. Os números indicam que, nos casamentos heteros, os pares de cornos proliferam. Como diria uma amiga minha, monogamia na teoria, poligamia na prática.

3) Legalizar o casamento homossexual é desvirtuar a validade do casamento heterossexual.
Agora os heteros deram em palhaços invejosos. Ai que os gays querem direitos e estragam os nossos casamentos! Este é um argumento filho-da-puta. Como se o casamento hetero não fosse uma instituição falida, fora de moda, completamente acabada. Deixem lá os homossexuais tentarem fazer melhor, já que nós, os heteros casadoiros, não fomos capaz.


4) Os homossexuais são pedófilos (não podem, por isso, adoptar).
Toda a gente sabe que uma grande fatia dos pedófilos são homossexuais que nunca se assumiram como tal e fingem que são heteros. A outra parte compõe-se de heterossexuais (casados ou não) perversos que se estimulam sexualmente com crianças. Isso é doença. Molestar seja quem for é sempre doença.

5) Uma criança precisa de um modelo masculino e outra feminino para ser saudável.
Sim, houve teorias que disseram isso, algumas freudianas. Pai e mãe são também modelos afectivos e sexuais. Mas quando alguém não tem um deles, que faz? Enlouquece? Considera-se amputado, do ponto de vista afectivo e sexual, para sempre? Não creio. Qualquer pessoa, quando não tem um modelo em casa, procura fora de casa. Já agora era muito bom que questionássemos que nem sempre pai e mãe são bons modelos. Às vezes uma das partes (ou ambas) carregam um belo par de cornos e ninguém vem questionar se isso é bom ou mau para as crianças…

6) Os gays vão estimular na criança um comportamento homossexual.
Amei! Agora ser gay é pertencer a uma seita divina! Se eu, papá, sou gay, ele, filho, tem de ser gay! Entendo porque se diz isto, é fácil perceber. Os heteros desde sempre que estimularam na criança comportamentos heteros, alguns bem estúpidos. Carrinhos para os meninos, bonecas para as meninas. Perguntar onde está a pilinha. Perguntar quem é a tua namorada ou o teu namorado? Incitar a criança a responder quantas namoradas/namorados tem, etc. Mas nunca vi um gay dizer a uma criança «quando cresceres vais ser igual a mim, gostar de pilinhas, brincar com elas». Já agora porque é que um gay, sabendo que faz parte de uma minoria, gostaria que um filho fizesse parte da mesma minoria, sofrendo discriminações constantes e dificuldades? Agora ser gay é ser cruel, não? Só nos faltava mais esta…

7) A Igreja não concorda com a homossexualidade.
É um facto. Agora a Igreja tem pena, já não discrimina, só tem compaixão e anda cheia de perdão. Coitadinho do gay… Como coitadinhos dos pobres, das putas, dos drogados, etc. Para a Igreja mais vale contrariar o que somos e fingir o que não somos, sob a capa de um casamento hetero falsificado. Mentir e ser um impostor já pode ser. Ser gay é que não.

8) O casamento hetero é válido porque se destina à reprodução, ao contrário da união homossexual.
Numa época em que, devido ao stress, à alimentação, às doenças, a fertilidade tem decrescido em larga escala, este argumento é uma patacoada. Nem todos os casais hetero querem filhos, já agora. Outros querem e não os podem ter. Portanto, esses casamentos são o quê? Falsos porque não há filhos? Olha que treta! Este argumento reduz a união homem-mulher a um único objectivo: procriar. E reduz a união homossexual a um outro objectivo: sexo.


9) Legalizar o casamento gay estimula comportamentos homossexuais.
Adoro! Olha as gajas cheias de medo que os seus gajos dêem em bichas! «Maria, o meu amigo Manuel casou-se com o Jacinto. Também quero! Vou tornar-me gay!». Mas isto é verosímil? Mais uma vez estamos a balizar as coisas pelo ponto de vista hetero, neste caso feminino, que é o de «se as minhas amigas casam, eu também quero casar!». E depois dá asneira da grossa. Agora nunca ouvi «se ele é gay também quero ser». Parece o clube do tupperware!


10) Os gays têm comportamentos show-off, femininos, exuberantes.
É uma ideia que ainda prevalece das paradas gay, de alguns gays mais berrantes, os ditos «maricas». Mas se formos comparar, anda muito hetero por aí igual ou pior, e não adoptam, pasme-se!, têm mesmo filhos e ninguém os proíbe de se reproduzirem!


14 comentários:

  1. Muito bom mesmo!
    Não podia ser exposta mais crua e nua a verdade!
    Ha mentalidades que chocam quando tocam o ridiculo.
    Habituem-se....nós estamos cá...esta frase veio para ficar!!!

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  2. Li até ao fim e gostei!
    Mas muito mais fica por dizer e por refutar!

    Beijinhos aos dois!

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  3. O texto mongo do senhor padre é uma aberração pura e a única resposta que merece é a de Manuel António Pina.

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  4. Se eu não conhecesse a Monga, e tenho esse prazer, devido a vocês, queria-a conhecer agora, para lhe dar um beijo muito afectuoso por este magnifico texto.
    Quanto ao artigo do "Diário do Minho", a exemplo do caso de Portalegre que referi, como é que eu "adivinhei" no comentário que deixei ao C, que "aquilo" me cheirava a Igreja????
    Abençoado M.J. Pina...
    Abraços.

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  5. upsssss... tou preocupado...tenho que avisar os meus pais que têm um casal de cadelas boxer lésbicas em casa... n podem sair à rua...
    um abraço amigo Paulo***

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  6. Todos os argumentos são rebatidos na lucidez desta vossa Grande Amiga - é bom ler provas de sanidade mental (e das outras para nos rirmos um bocado - este Norte é do c...!; fechado como a p...!)para sentirmos a possibilidade de mudança!

    Abraços Felizes!

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  7. É a tal coisa, tudo o que vem aqui expresso é real e nada que já não tivesse pensado.

    Bem, um auto de fé já para aquele padre à boa maneira da Santa Inquisição ... que herege!!!

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  8. Um texto simples e directo. Inatacável.

    Quando se pensa que só há ainda sete países no mundo que aceitam o casamento entre pessoas do mesmo sexo, até parece que Portugal pode esperar, mas c'um raio!, não somos nós que andamos sempre a gabar-nos de termos sido (d)os primeiros a abolir a escravatura?

    Quanto ao texto do Padre Carlindo, o ideal é não se chatear muito o homem, para ver se ele escreve mais! Eu perdia lá uma pérola humorística daquelas???

    P.S. - Citando a autora do texto e como "hetero casadoiro", sem querer endeusar os "homo casadoiros", tenho que admitir que os casais homo que conheço são estatisticamente mais estáveis e equilibrados que os hetero. Certos padecimentos talvez caldeiem emoções e amadureçam as pessoas...

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  9. Desculpem, mas roubei-vos uma foto aqui do blog e usei-a no meu... Se calhar deveria ter pedido antes :-S

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  10. Este texto da tua amiga é brilhante. Parabéns, tens uma amiga fora-de-série! ;)
    De facto a heteronormatividade da mentalidade portuguesa é atroz. :|
    É difícil mudá-la, pois somos um povo que preza muito as aparências, por isso frases como "o que é que os outros vão dizer!" são uma constante no quotidiano. Somos todos uma cambada de fariseus e de ratos e ratas de sacristia! :@
    O preconceito em relação ao casamento e adopção por parte de casais homossexuais radica no complexo de culpa judaico-cristão, o qual assenta na finalidade procriadora do casamento. Por isso, o cristianismo está desfasado da realidade contemporânea.
    Só quem não conhece a comunidade LGBT é que a teme...
    O importante é ir-se levantando ondas relativamente a esta questão, pois, como diz aquele ditado popular, água mole em pedra dura...

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  11. Também já ouvi que os gays jamais devem poder adoptar porque as criancinhas depois ficam gays, filhos de gays ficam gays... ahhhhhh... pois... foi aí que então fiquei a saber que os meus pais devem ser gays, pois. Ou então eu sou eu heterossexual e ainda não dei por isso. Devo andar enganado, armado em rapaz moderno, pronto, é isso.

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  12. Dos melhores textos que alguma vez li sobre este tema...eu tenho é cada vez mais vergonha deste país que continua comezinho, tacanho, pré-histórico....fantástica demosntração de puro bom-senso desta vossa amiga!
    Beijos mil para os 2.

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  13. Ora aqui está uma pessoa que sabe do que está a falar e o faz de forma directa e esclarecedora para todos, segundo penso.

    Haverá mais que se possa dizer sobre este tema mas dificilmente seria melhor dito.

    Um grande beijinho para a monga.

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  14. Amigo Mongo e consorte, so agora vi que colocaram aqui o meu texto (na verdade ando or terras romanas, muito distraida...). Normalmente nem gosto do que escrevo, mas com este meu texto ri muitas vezes as gargalhadas. Excelente terapia para quem,como eu, trabalha no Vaticano.

    Obrigada pela divulgaçao e todas as palavras de quem comentou. Beijo grande ao Pinguim.

    Beijo muito grande ao Mongo.

    Monga

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