domingo, 25 de maio de 2008

~~ ainda Bruxelas ~~

Viajar sozinho é uma chatice. Viajar com quem se ama, um prazer. Viajar num misto de trabalho e lazer, em grupo, pode ser ... divertido.
Vem isto a propósito da minha viagem à Bélgica sobre a qual queria escrever mas que afazeres diversos e a preguiça dos dias têm vindo a adiar. É hoje!
Antes do relato convém dizer que a viagem foi feita com um grupo de antigos alunos meus. Ninguém se atrasou para o encontro no aeroporto. Não nos víamos há algum tempo, pelo que o último café em terras lusas soube a reencontro e memórias revividas. Não avançámos para o check-in sem lembrar as restrições ao transporte de líquidos na cabine do avião. Na segurança, antes da porta de embarque, uma senhora ficou retida. Faltam 20 minutos para o voo. Vemos, intrigados, aquela senhora voltar para trás e desaparecer na curva do corredor. Somos informados que, numa mala de mão, traz frascos de champô e cremes diversos que foi, a conselho dos seguranças, tentar, ainda, enviar para o porão. A senhora reaparece. Faltam 10 minutos para o voo. Suspiro de alívio, ou talvez não. A dita senhora, do alto dos seus mais de sessenta anos, achou que tinha experiência de vida suficiente para contornar a situação. Os frascos voltam a aparecer no filme pois haviam sido transferidos da maleta para ... os bolsos do casaco! Perante o pânico generalizado vemos a senhora desaparecer novamente do nosso campo de visão. Onde terá ela ido? Do mal, o menos, a demora foi pouca e lá veio ela ter connosco, sem os frascos, portanto. Soube mais tarde que tinha ido enviar os "seus" artigos para casa pelo correio! Há prioridades, certo?
Bom, estamos em cima da hora de partida e eu, armado em follow me, abro alas corredor afora até à porta de embarque. No respectivo balcão está uma senhora que, quando me aproximo, me pergunta:
- Voo XXX para Bruxelas?
Respondo timidamente que sim e a minha interlocutora pega no telefone com o ar mais enfastiado deste mundo (e arredores!) e ouço-a dizer:
- Os passageiros que estão em falta, não sei por onde andaram, mas, estão agora a chegar.
Confesso que não tive coragem nem para emitir o mais tímido dos sons. Limitei-me a contar os elementos do grupo, não fosse o diabo tecê-las.
- Onde é que está a XXXXX?
- Não sei. Se calhar foi em frente no corredor!
- Ora essa! Ó SSSSS, deixe-me o seu BI e o cartão de embarque e vá ali acima ver se a vê.
Segundos depois lá chegaram a XXXXX e o SSSSS. Ufa!
Lá veio um autocarro para nos conduzir até ao avião que nos esperava. O que qualquer pessoa faria, pensava eu, seria apressar-se a abandonar o autocarro e entrar no avião, certo? Errado. Mais uma vez, outras prioridades se impunham, como tirar fotografias, alinhar golas e ajustar saias.
Tentei fingir que não conhecia aquela gente de lado nenhum mas vi-me obrigado a empurrar umas quantas para a escada do avião.
O voo decorreu sem outros incidentes dignos de registo, para além do rebentamento de uma caneta nas mãos da Sra. Frasco de Champô que ficou com as ditas mais azuis do que o céu que nos rodeava.
(...)
Ficámos instalados no que tinha sido um hotel de cinco estrelas recentemente despromovido para quatro, e como percebo agora porquê!
Como era muita gente, a Recepção deu-nos as chaves em envelopes com o número dos quartos. Subi, acompanhado por uma colega com quarto no mesmo piso. Antes de ela fechar a porta, ouvi-a quase gritar que o quarto não estava limpo. Eram 19.00 horas. Não, isto eu tenho que ver. Voltei para trás e confirmei o facto. Enquanto ligávamos para a Recepção, entrou a funcionária tão desfeita em desculpas quanto embaraçada com a situação. Situação resolvida, vou para o meu quarto pensando no azar da minha colega e em como, afinal, tudo se tinha resolvido. Pensando, disse bem. Meto a chave à porta, abro e ... ouço vozes lá dentro. Peço mil perdões, confirmo o número do quarto no envelope e na porta, uma vez, duas vezes ... Está certo! Sem perceber o incidente, dirijo-me (com a mala!) para o elevador a caminho da Recepção.
- Olhe que este quarto já está ocupado!...
Poupo-vos os detalhes do diálogo e da troca de impressões entre tudo o que era recepcionista de serviço. Finalmente entregam-me a chave de outro quarto, tendo eu o cuidado de, meio em gozo, meio a sério, perguntar se tinham a certeza de aquele quarto estar livre.
- Mais, oui, Monsieur!
Pronto, então lá vou eu. Elevador, corredor interminável, porta do quarto. Assim como assim, deixa-me cá confirmar o número do quarto. Olho para o envelope, olho para a porta. Está certo! Meto a chave, abro a porta ... ouço vozes. O quarto está ocupado! Desfaço-me em desculpas. Senti-me no ensaio de uma qualquer peça de teatro do absurdo. Afinal, tinha feito a cena há menos de nada.
Corredor, elevador, Recepção.
- O quarto que me deu também está ocupado!...
Desta vez, o cansaço da viagem e de um dia em que grande parte do programa oficial fora cumprido, aliado à natural irritação que uma situação destas provoca em qualquer mortal, estava (senti-o eu) bem estampado no meu rosto.
Foi novamente reunido o séquito de recepcionistas mas, desta vez, complementado por alguém com ar de chefe. Discute aqui, investiga acolá, papel para cá e para lá...
- Un moment, Monsieur.
Estava realmente cansado, mas o ar aflito com que tentavam perceber e resolver o problema divertia-me.
- Para compensar pelo incómodo vamos atribuir-lhe a suite do último andar do hotel.
Ri por dentro e respondi um lacónico e cerimonioso:
- Merci.
(...)
Houve outras peripécias nesta curta viagem, como aquela em que, ao sair do Metro nos deparámos com o Gay Pride. Ena, que animação!
Bruxelas é uma cidade de serviços que vive à sombra das instituições da União Europeia, nomeadamente do Parlamento, mas tem o seu encanto e recantos que vale bem a pena visitar. Já para não falar de Bruges, cidade que muito me surpreendeu.

21 comentários:

  1. O episódio do hotel dava um folhetim...
    Quero notícias e fotos de Brugges, s.v.p.
    Abraços.

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  2. Bruges é uma cidade de postal ilustrado. Linda. Até deve fazer esquecer as desventuras passadas.

    "Ay Marieke, Marieke, le ciel flamand
    Pleure avec moi de Bruges à Gand...
    "

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  3. Eu exigia a suite principal e de borla! (talvez por passar metade da vida em hoteis)
    Abraco

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  4. que aventura!

    adorei Brugges e Liège. e os côte d'or

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  5. Viagens destas valem a pena, tédio é coisa que não existe.
    Um abraço

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  6. que confusão! enfim, só não há remédio para a morte haha

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  7. Minha Imaculada Senhora dos Pastéis! Que salsada! Ah ah ah a ah...
    Eu tinha tirado as estrelas que sobravam à porta do hotel e tinha-as dado @os orgulhosos m@nifestantes para fazerem uns broches ou umas tiaras. :D

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  8. Ah tantos palavrões que eu diria nessas situações!!...
    Tanto que deves ter reclamado!...dasse! Ainda dizem mal de Portugal!

    Beijos

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  9. LOL

    Isso é que é uma viagem inusitada, eheheh!

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  10. Bem...se acontecesse isso a uma menina que eu conheço, seria giro de assistir, a cena!

    Tens de me dar o nome do hotel, para eu evitá-lo!
    E olha que a senhora dos champoos é uma verdadeira figurinha!

    Beijinhos.

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  11. Da Bélgica só conheço mesmo Antuérpia, que não me canso de visitar. Prefeita para compras e jantaradas.

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  12. Pinguim, como o menino está exigente. Está bem, eu dou notícias e fotos mas a seu tempo, esta bem? Abraço.

    Paulo, obrigado pela dica do Brel. Não conhecia este tema e acho que nunca tinha ouvido o Brel cantar em flamengo. Quanto às desventuras, agora até têm graça! Abraço.

    Melões Melodia, se estivesse com o meu menino ainda pensava nisso, agora sozinho... A cama king size pareceu-me maior do que era! Abraço.

    Isabel, bota aventura nisso! E Bruges é um sonho. Só faltava lá o meu Paulinho. Beijo.

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  13. Special K, tédio? E não contei da missa a metade! Ah pois não!... Abraço.

    The Unfurry Swear Bear, remédio houve, mas lá tive que fazer cara feia (a rir por dentro, claro!) Abraço.

    Catatau, confesso que não me lembrei dessa dos broches e das tiaras, mas registo a solução para uma próxima oportunidade. O menino é pior que eu! Abraço.

    Fercris77, tu a dizeres palavrões? Ainda por cima é uma rede de hotéis espanhola e os funcionários falam francês (e inglês) com aquele siótiaque, sabes? Beijo GRANDE.

    Will, foi muito divertido, acredita. E quando eu contei ao pessoal? Abraço.

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  14. Keratina, eu depois digo-te qual é a cadeia de hotéis. Houve mais figurinhas para além da Sra. Frasco de Champô. Beijo (e as melhoras!)

    Denim&shoes, de facto Antuérpia estava ali bem perto, mas o tempo é finito. Além disso é uma das razões para voltar. Abraço.

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  15. Pelo que percebo foi dose!!!
    Já me aconteceu chegar a um quarto já "ocupado" mas, felizmente, só estavam as malas!!!

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  16. Palavrinha de honra... essa situação é irreal!

    Beijo grande :)

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  17. Imagino o teu ar entre fleumático e trocista e acho uma delícia! Pois ainda bem que não é só na Tugolândia que se passam coisas surreais! Ainda assim compensou amigo. Suitaste certamente em grande! Beijos

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  18. Tongzhi, lá dose foi, mas, a esta distância, (já) é divertido. Abraço.

    Cristina, na altura também achei. Beijo.

    Kika, só me faltou lá o meu Paulinho para suitar à grande. Beijo.

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  19. A Sra do Champô não tem juizo nenhum. Já tinha idade para saber melhor! Se tivesse, digamos 30 anos e tentasse passar um boião de pasta para modelar o cabelo ainda percebia ;)
    Quanto à cena no hotel, parabéns pelo auto-controle. Tinha-me saltado a tampa de certeza.
    E fotos? Queremos fotos!
    Beijo

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  20. X, a Sra. do Champô até tem uma certa piada. Tem é que aprender que a inteligência não é proporcional à idade. Quanto ao auto-controle, acho que não foi bem isso; foi mais cansaço e divertimento interior. As fotos hão-de chegar. Prometo. Abraço.

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