quarta-feira, 24 de setembro de 2008

..:: palavras que nos salvam ::.. António Gedeão

Mais do que a «Lágrima de Preta», a «Pedra Filosofal», a «Calçada de Carriche» ou o «Poema da Malta das Naus», é a «Lição sobre a Água» que me ficou no ouvido. Claro que todos os que enumerei, assim como muitos outros poemas de Gedeão, foram importantes, cada um pelos seus motivos. Para quem pense que a água é só para peixinhos, o poema que hoje aqui trago é de tirar o fôlego (o quadro de Millais também).

[imagem vista aqui]





Lição sobre a água

Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.

É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, ácidos, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.

Foi neste líquido que numa noite cálida de verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão. (p. 202)



António Gedeão »» Obra Completa »» notas introdutórias de Natália Nunes »» Lisboa »» Relógio D'Água »» 2004



© John Everett Millais, Ophelia, 1851-52 (detalhe; original)

4 comentários:

»» responderemos quando tivermos tempo
[se tivermos tempo] »» se os
comentários de algumas entradas estiverem bloqueados é porque não estamos cá, não há tempo para olhar para o lado, ou essas entradas não têm nada para comentar.

»»
obrigado pela visita!