sexta-feira, 17 de abril de 2009

..:: o meu lado rural ::..




Por alguns textos mais confessionais que aqui publiquei em tempos idos já deu para perceber que tenho um lado rural forte. Mas poucos conhecem essa minha face e o que envolve. O Zé conhece e participa realmente dela. A Monga e a Lina também já conheceram e já estão prevenidas. E o resto da família. Os outros, quando muito, podê-la-ão intuir na minha delicadeza típica de um qualquer elefante.
Quem me conhece o lado rural sabe que não há nada a fazer: que nem a urbe consegue mais do que disfarçar a rusticidade que me enformou. Não me envergonho disso. A verdade é que quando vou à aldeia penso em como quase ninguém conseguirá sequer aproximar-se do que este corpo esconde, nomeadamente em termos de experiências. Suspeito que essa deve ser uma das características que faz cada um de nós seres únicos: o incomunicável, a exclusividade das experiências, o que reservamos só para nós. Este ano não me apeteceu revisitar os rituais da semana chamada Santa e fiquei a curar uma neura excessiva (os horóscopos dizem-me que por culpa de mercúrio e da lua entrei numa fase de grande silêncio e introspecção - ah, que bom... quem sou eu para os contrariar). Além disso, ainda que com saudades, prefiro ficar com o Zé e o silêncio cá de casa.
E por mais que desenterre o lado rural, que às vezes me descubram na língua o requebro e a aspereza, reconheço que nem encontro palavras à medida nem imaginação para traduzir o que sinto aquando do meu encontro com as montanhas, que é, como quem diz, comigo e com o meu passado, às vezes, cheio de uma amargura misturada com uma imensa alegria e felicidade. Eis outra característica que nos torna únicos: sermos paradoxais. Retornar continua a ser, ainda, o acto de nascer, e nascer e nascer, outra vez e outra e outra. Ad infinitum. Mesmo quando os olhos já não forem capazes de ver, mas o coração ainda por cá deambular.
Este ano não [re]nasci e, portanto, enquanto finjo que não me dói a ferida do lado, vou ali ver se consigo fechar o capítulo deste livro.
E bom fim-de-semana!




Isabel Silvestre, A gente não lê


16 comentários:

  1. A minha "ruralidade" sempre foi urbana (se isto pode ter alguma lógica...); mas por vezes gostaria de mergulhar um pouco na ruralidade de que falas: aldeia, montanha, vales, ribeiros...VIDA!
    Abraço.

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  2. A minha ruralidade não é litúrgica de todo, mas é assumidamente indisfarçável em tudo o resto.
    Quanto mais próximo estou do elemento terra, mais me sinto todos os restantes, mais me sinto completo.
    Tenham um óptimo Fim-de-semana!

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  3. É essa tua "ruralidade", esse teu lado frontal, directo que, por vezes pode ser-te inconveniente, que também faz de ti a pessoa que és e que gostamos.
    Sendo uma faca de dois gumes, éesse "corte" que te rasga em dois que faz de ti o ser humano lindo que és.
    E por muito que nos doa, no fundo é bom sermos confrontados com algumas verdades proferidas por uma boca prenhe de "ruralidade".
    Espero que consigas (re)nascer em ti, acredito que sim, tens em ti todas as tuas respostas para que isso aconteça, lindo.
    Beijos mil.

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  4. Ah Paulo,como eu te li com agrado e me reconheci em muito daquilo que dizes.
    Ainda ontem, numa reflexão muito minha, me questionava o porquê de uma certa maneira de ser mais pragmática e provavelmente singular (pelo menos a avaliar pelos companheiros que, todos os dias, labutam lá na empresa...) e tinha concluído que o problema só poderia ser de fabrico, i. é, daqueles que já não adianta nada reclamar pois o prazo da garantia já caducou e não vale a pena devolver, já que ninguém o aceita mais. Mas, agora, ao ler o teu post, tive uma luz: só podem ser as raízes da ruralidade, já que esta minha característica é partilhada por outros que também habitam o mesmo espaço.

    Um bom fim-de-semana também para vós!:)

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  5. não considero a "ruralidade" um defeito, muito pelo contrário é uma virtude que as gentes da cidade transformaram em cinismo, hipocrisia e falsas aparências...a ruralidade de que falas parece-me ser digna de espontaneidade, frontalidade, nobreza e carácter...isso é de louvar. Assim considero as pessoas rurais. :-) mas é só uma ideia vá...
    bom fim de semana.

    P.S. o Personare é um excelente site de horóscopos;-) nunca falha, é uma dica. Ou então podes sempre ingressar na seita que estou a organizar por sugestão do enGine, a Igreja Escorpiónica, em que o lado bom do mundo, o lado escorpião portanto, é adorado...;-) ficas convidado a aparecer numa reunião:-D

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  6. Vivi muito tempo no campo e não quero voltar a fazê-lo, lá sinto-me distante do mundo. Mas de vez em quando, tenho saudades de ouvir os pássaros a chilrear, de apanhar uma fruta e comer e de ver o pôr do sol no vasto horizonte onde se vê o castelo de Palmela bem ao longe...
    Abraço

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  7. Só para mandar um beijinho!
    Beijinhos e bom fim de semana :)

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  8. Confesso que nunca pensei muito no meu "lado rural".
    Do teu texto, que como sempre gostei muito, desejo que nunca percas essa tua ruralidade. És autêntico, genuíno e isso é que fará de ti a pessoa sensível que és.

    Só mais uma coisinha:

    Isabel Silvestre SEMPRE!!!

    Bom fim-de-semana!

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  9. Se eu tenho um lado rural, já foi embora agorinha mesmo.

    À bocado tive a provar leite de cabra...e é Horroroso!!!!!

    abraço

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  10. O Rural faz parte de todos nós, água, fogo, ar e terra. Aquilo que nos faz ser genuinos e integros. Mas com a pressa de viver o dia-a-dia na cidade, esqueçemo-nos daquilo que somos.

    Podes consultar um site super interessante: astro.com

    Mas se quiseres uma consulta mais personalizada, o preço é de 75 euros, lol, brincadeira, pois quem percebe destas coisas, não pode cobrar..

    Abraços
    Miguel

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  11. Bem, foi óptimo recordar aquele vídeo dos Enigma. Ainda me lembro da 1.ª vez que o vi. Simples e genial.
    Quando à 2.ª música: também gostei mas alguèm devia dar um tiro à senhora porque me parece que estyá a sofrer imenso.

    O teu lado rural não é assim tão forte porque não tens a música das meninas da ribreira so Sado. Mas não se pode se perfeito! ;)

    Agora, e finalmente a sério) o lado rural, que eu também tenho (quem não tem?) ajuda-nos a ter raízes fortes à nosa cultura, e a saber quem somos e para onde vamos. Mas tão, ou mais, importante do que raizes urbanas ou rurais é darmos frutos no meio onde estamos e tu, acima de tudo, tens ar de quem sabe estar bem aonde quer que esteja!
    Abraço

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  12. Vivo numa aldeia do Ribatejo, e estou tão farto... O curioso é que estar um mês afastado das origens me deixa com uma imensa vontade de regressar!!!
    Não percebo se mesmo estando farto disto, trocava a terriola por Lisboa, como "ambiciono" já à algum tempo.
    Abraço

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  13. Ai Paulo, que tb és do Credo pá! :)

    Já não estou lá, mas ele está sempre em mim. Numa forma de estar desprendida de certos subterfugios mais refinados da mente humana. Algo de primário, um instinto de sobrevivência, talvez.

    Mas agora ouve lá... não há nada que substituia a experiência radical de fazer ##"$&/ no mato e depois limpar à couve, é ou não é carago? Qual bungee jumping, qual quê...

    :)

    Beiji**

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  14. O meu lado rural é estar sempre com vontade de regressar às origens, o que é sintomático.
    Ter saudade de tudo e de todos, até daquilo que me causava enfado e incomodo.
    Ser rural sem ser campónio, viver no campo com a cidade por perto, com esta dualidade, o paraíso pode estar em qualquer lado.
    Ouvir Isabel Silvestre cria-me uma nostalgia e umas saudades de tudo o que de melhor tem o campo.
    Sou um privilegiado pois conheço as duas realidades, a rural e a urbana, e hoje, ao conhecer estes dois mundos não tenho dúvidas de qual seria a minha escolha se pudesse voltar atrás.
    Nunca iria trocar o genuíno pelo falso.
    A cidade para mim foi e é uma grande desilusão.
    Ninguém é amigo de ninguém e a falsidade e não só são enormes.
    Continuem a ser felizes de preferência juntos, seja na cidade, seja no campo, são os meus votos sinceros.

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  15. Não tinha ainda lido este teu texto, Mongo, mas o que me chamou a atenção não foi o mesmo do que a grande maioria dos comentadores. Até porque a tua ruralidade eu conheço-a bem e a delicadeza de um elefante também.
    Chamou-me a atenção que dissesses que ninguém suspeita o que o teu corpo esconde e que o que faz de nós seres únicos é mesmo o incomunicável, o que não contamos. Porque o que está para além das pessoas, dos rostos diários é um espanto, positivo ou negativo.
    Deve ser por isso que gosto de escrever (dantes conseguia, agora ando emperrada), porque revelava esse meu lado e outros mais em metáforas.

    Um beijo da Monga

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  16. Pois eu posso reverter a ideia e dizer que tenho um pequeno lado urbano! Começo no entanto a saturar dete sossêgo e meio pequeno que me prende movimentos ao mesmo tempo que me dá outros tão prazeirosos! Uma faca de dois gumes!
    Ouço os passáros a cantar lá fora neste momento e a voz horrível da vizinha que sabesempre a que horas chego, lol, do melhor e pior!

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