domingo, 9 de dezembro de 2007

..:: Violência nas escolas por Alice Vieira

Li num jornal que a senhora ministra da Educação está contente. E, quando os nossos governantes estão contentes, é como se um sol raiasse nas nossas vidas.
[...] Ao que parece, andamos todos numa de paz e amor, lá fora é que as coisas tomam proporções assustadoras, os nossos brandos costumes continuam a vingar nos corredores de todas as EB, 2/3, ou como é que as escolas se chamam agora. Tenho muita pena de que os nossos governantes só entrem nas escolas quando previamente se fazem anunciar, com todas as televisões atrás, para que o momento fique na História. É claro que, assim, obrigada, também eu, anda ali tudo alinhado que dá gosto ver, porque o respeitinho pelo Poder é coisa que cai sempre bem no coração de quem nos governa, e que as pessoas gostam de ver em qualquer telejornal.
[...] Falo de uma violência muito mais perigosa porque mais subtil, mais pela calada, mais insidiosa.
Uma violência mais "normal".
E não há nada pior do que a normalização, do que a banalização da violência.
Violência é não saberem viver em comunidade, é o safanão, o pontapé e a bofetada como resposta habitual, o palavrão (dos pesados…) como linguagem única, a ameaça constante, o nenhum interesse pelo que se passa dentro da sala, a provocação gratuita ("bata-me, vá lá, não me diga que não é capaz de me bater? Ai que medinho que eu tenho de si…", isto ouvi eu de um aluno quando a pobre da professora apenas lhe perguntou por que tinha chegado tarde…)
Violência é a demissão dos pais do seu papel de educadores - e depois queixam-se nas reuniões de que "os professores não ensinam nada".
Porque, evidentemente, a culpa de tudo é sempre dos professores - que não ensinam, que não trabalham, que não sabem nada, que fazem greves, qualquer dia - querem lá ver? - até fumam….
Os seus filhos são todos uns anjos de asas brancas e uns génios incompreendidos.
Cada vez os pais têm menos tempo para os filhos e, por isso, cada vez mais os filhos são educados pelos colegas e pela televisão (pelos jogos, pelos filmes, etc.). Não têm regras, não conhecem limites, simples palavras como "obrigada", "desculpe", "se faz favor" são-lhes mais estranhas do que um discurso em Chinês - e há quem chame a isto liberdade.
Mas a isto chama-se violência. Aquela que não conta para os estudos "científicos", mas aquela da qual um dia, de repente, rompe a violência a sério.
E então em estilo filme americano.
Com tiros, naifadas e o mais que houver.

Alice Vieira, JN

13 comentários:

  1. Realidade bem retratada! Infelizmente...
    E isto é hoje!...Quero ver o Amanhã!....:/

    Abraço

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  2. Amanhã, Hydra, será uma coboiada de todo o tamanho, um salve-se quem puder.
    Um abraço

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  3. Nem imaginas o que este texto me irritou ...efectivamente violência é tudo isso ... mas eu cada vez me preocupo menos, já desisti mesmo de me preocupar genuinamente com certas coisas ... sabes porquê? porque sei que se fosse pai não admitiria faltas de respeito da parte do meu educando aos professores e a falta de respeito de uma criança a um adulto seria mesmo punida, garantidamente. Uma coisa é uma crinça poder discordar de alguma medida, desde que saiba argumentar e acate o que um adulto lhe disser mesmo que contra a sua ideia, outra coisa seria o claro desrespeito e esse cegar-me-ia com toda a certeza.

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  4. Tudo o que diz respeito á violência me deixa um sentimento de (e desculpa a palavra um quanto forte) "nojo"...porque será que necessitamos exprimir nossos sentimentos de essa forma?

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  5. Bolas, hoje em dia reina a lei da selva nas escolas. Será que esta ministra alguma vez deu aulas? Será que ela sabe o que é enfrentar uma turma de alunos difíceis? É tudo muito fácil quando se ditam leis do conforto dos gabinetes.
    Eu nunca fui professor mas sei bem o que eles passam.
    Um abraço.

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  6. Não é fácil lidar com os fruto de uma sociedade cada vez mais negligente. Os pais de hoje sentem de facto que a escola é a única responsável pela educação e formação dos filhos. À escola tudo exigem e com nada, excepto arrogância e falta de educação e graditão, contribuem. Têm que ser tomadas medidas urgentes de responsabilização daqueles que deveriam ser os encarregados de educação deste país!

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  7. Só quem passou ja pelos corredores das escolas (as EBs sobretudo pois são as que abragem as populações mais "complicadas") só quem já ouviu, sentuu, exasperou no meio de 1 salad e aula por não saber mais o que fazer, p se sentir completamente perdida e extenuada...desiludida e cansada é que sabe o que a Da Alice diz..e com toda a razão!

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  8. eu estudei numa escola complicada, mas hoje em dia está complicado, e pena que por mais artigos que escrevem parecem sempre cair em saco roto....

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  9. As famílias estão de "rastos" com a crise económica e social. Não há disponibilidade financeira e (mais grave) emocional para educar as crianças. Para isso é preciso ouvi-las, conhecê-las, partilhar momentos com elas... e dá trabalho, gasta energias.

    A isto acresce o aumento exponencial de licenciados, de professores, que já não são vistos como uma referência de cultura e saber, mas como uns "gajos" que "há para aí aos montes" e até trabalham em lojas.

    Eu sou psicóloga educacional (e boa, se me permitem) e se quero emprego, estou a tratar de o criar (sim, e já trabalhei no comércio), apesar das necessidades que existem nas escolas. Também deveriam exister assistentes sociais para avaliar e intervir junto das famílias.

    A conclusão a tirar é que quando se ultrapassar a crise económica (e "se") e as famílias tiverem menos angústias com os múltiplos créditos e com o desemprego, a aposta nº1 do país tem que ser a educação. E refiro-me a orçamento de estado. Mas por vezes julgo que tal não interessa aos políticos, porque um povo bem esclarecido não vota por obras como rotundas e jardins de últimas hora, nem eventos como o euro 98.

    Assim mal-educadinhos e grunhos é que dá votos, já dizia também o outro sr.

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  10. De facto, o problema está no virar da violência latente para a efectiva... e não estou a ver essa preocupação na sociedade em geral...

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  11. Eu já não sei o que dizer em relação ao ensino, às adultos que estamos a criar, ao que antevejo vir a a ser a sociedade.

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  12. Hola Paulo
    Quería saludarte. Es que no encontre un mail.
    Un abrazo

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  13. Vivemos num país com uma realidade social fracturante: os pais demitem-se de educar, a escola demite os professores na autoridade e na capacidade pedagógica, o Estado demite-se, como sempre se demitiu, da responsabilidade a que as suas políticas ausentes de qualquer planeamento sério nos têm conduzido.
    É um milagre termos uma economia assim-assim! Espanta-me não estarmos todos à beira da Banca-rota!

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