quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

..:: canções entre a alma e o esposo ::..

Canções entre a alma e o esposo
Esposa
1.
Aonde te escondeste,
Amado, e me deixaste num gemido?
Qual veado fugiste
Havendo-me ferido.
Atrás de ti clamei: tinhas partido!

2.
Pastores, se subirdes
Além pelas malhadas ao outeiro
E porventura virdes
Aquele a quem mais quero,
Dizei que sofro, peno e a morte espero!

3.
Buscando os meus amores,
Irei por esses montes e ribeiras;
Não colherei as flores
Nem temerei as feras
E passarei os fortes e as fronteiras!

4.
Ó bosques e espessuras
Plantados pela mão do meu Amado!
O prado de verduras
De flores esmaltado,
Dizei se Ele por vós terá passado!

5.
Mil graças derramando
Passou por estes soutos com pressura
E, assim os indo olhando,
Com sua só figura
Vestidos os deixou de formosura.

6.
Ai quem virá curar-me?
Vem entregar-Te já, pois a Ti espero.
Não queiras enviar-me
Mais nenhum mensageiro
Porque dizer não sabem o que eu quero.

7.
E todos quantos vagam
De Ti me vão mil graças relatando!
E todos mais me chagam
E mais me vai matando
Um não sei quê que ficam balbuciando!

8.
Mas como perseveras,
Ó vida, não vivendo onde vives,
Matando-te deveras
As flechas que recebes
Daquilo que do Amado em ti concebes?

9.
Porquê, tendo chagado
A este coração, o não curaste?
E, pois mo hás roubado,
Porque assim o deixaste
E não guardas o roubo que roubaste?

10.
Apaga o meu desgosto
Pois mais ninguém consegue desfazê-lo.,
E veja-Te o meu rosto
Que és lume a acendê-lo
E apenas para Ti eu quero tê-lo!

11.
Mostra a tua presença,
Matem-me tua vista e formosura.,
Pois olha que a doença
De amor jamais se cura
Senão com a presença e a figura.

12.
Cristalina nascente,
Se nesses teus semblantes prateados
Formasses de repente
Os o lhos desejados
Que tenho nas entranhas desenhados!

13.
Afasta-os, Amado,
Que estou voando.

Esposo
Volta, minha pomba,
Que, ferido, o veado
Lá no outeiro assoma
Ao sopro do teu voo e o fresco toma.

(…) pp. 61-63

São João da Cruz »» Obras Completas »» 6ª edição, tradução e adaptação das introduções de Manuel Fernandes dos Reis, tradução das poesias de Fernando Melro »» Edições Carmelo »» 2005

[cito São João da Cruz com saudades tuas!!!]

8 comentários:

  1. Gostei da música (boa para o BODYBALANCE...acho) e até esqueço que é do "ESC" :)

    O poema a lembrar as aulas de Português, no secundário.
    Boas lembranças... :):)

    Nota final: não sabia que ler dava uns abs tão bons ;)
    Vou desistir do gym!

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  2. Como amo as palavras de João da Cruz...

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  3. O São João da Cruz deve estar a dar voltas na tumba...
    Abraço.

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  4. Que bela surpresa, meu lindo! Respondo citando também São João da Cruz e igualmente com saudades: "Em teu recolhimento interior, regozija-te com ele, pois ele está muito perto de ti."
    I'll be home tomorrow! Love you.

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  5. Ai as saudades... tão bonito quando vivem juntos e ainda as sentem na ausência.

    Adoro este tema norueguês que, em tempos, vendeu o Eurovision.

    Vá, não desesperes... o homem está quase a chegar-se a ti.

    Abraço

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  6. Que belíssimo bocado passei aqui, olhando o mar muito bravo e ouvindo esta música!!!

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  7. Eu não tenho mar bravo para ver e, se tivesse, não conseguiria vê-lo, de tão cerrado que está o nevoeiro.
    Mas há outras vistas bonitas e as boas leituras.

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  8. Gostei muito do blog. Música lindíssima e uma sensualidade à flor da pele.

    Parabéns!

    Abraço

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