Confesso: não resisti, fiz uma pausa no trabalho e vi (e fiquei satisfeito com) o Prós e Contras. E para quem não viu o programa, pode revê-lo
aqui. Depois do malhanço incrível sobre os outros desgraçados cinzentos com cheiro a mofo sobretudo pela Fernanda Câncio, pelo Miguel Vale de Almeida, pela Isabel Moreira, pelo Daniel Oliveira e pelo Rui Tavares, repesco um texto da nossa querida Monga do coração. Já
anteriormente aqui tinha colocado uma entrada cujo conteúdo e mérito era todo dela. Acontece que ela deixou de escrever no
antíteses e transparências (não sei se alguma vez repararam: a sua última entrada lá é sobre mim e o Zé) para se dedicar num outro espaço restrito. E dedica-se mais do que a atenção que lhe temos dado. A Monga escreve bem, muito bem, com um ritmo e sensibilidade incomuns. Repito para quem não sabe e não a conhece: a Monga é hetero orgulhosíssima! E fiel amiga, e, em síntese, um ser humano bem formado. A semana passada deixou-nos um comentário para que a lêssemos e lá fui buscar o texto que aqui citamos na íntegra. Inspirem! Inspirem-se.
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Eles Vivem!
«Este é o nome de um dos meus filmes favoritos do John Carpenter. Um filme estranho, quase absurdo, mas a atirar para a verdade. Refere um povo alienígena que toma conta do planeta Terra. Até aqui tudo ok. Mas os alienígenas estão camuflados e são vistos apenas por uns óculos escuros especiais descobertos no lixo por um homem das obras com crise existencial. Os alienígenas mandam também mensagens subreptícias, do género «Cala-te e obedece!», «Trabalha para a proliferação da espécie! Reproduz-te!». O filme lembra os regimes repressivos.
A Igreja é como estes alienígenas. Anda por aí, subreptícia, a fingir que já não tem força nenhuma, a fingir que não é política, que só se preocupa com «questões sociais», a tentar ser politicamente correcta. Não suporto a Igreja. De uma vez por todas, grite a verdade: que é suja e anti-tolerante para com os seus iguais. Ontem, falou um clérigo (não sei o posto dele na igreja, mas deve ser bispo, pois os que falam são quase sempre os bispos) que se manifestou totalmente contra o casamento homossexual, embora o Vaticano aceite as «relações homossexuais».
Primeiro: Hipócritas do caralho! Desculpem, mas são. Porque vê-se mesmo o que isto é. Isto é «deixa cá dizer ao povo, que é estúpido, que os homossexuais são iguais a nós – portanto até somos tolerantes -, casamento é que não». Mais valia a posição abertamente retrógada «fora com os homossexuais». Hipocrisia é que não. Nem todas as pessoas são burras. Eu não sou e percebi muito bem e que eu saiba, lá em casa, com ou sem curso superior e à excepção da minha provecta avó, que nestas coisas nem conta porque sempre teve amigos homossexuais mas diz que eles não existem (são como os ovnis com certeza…), toda a gente acha que a Igreja trata as pessoas como atrasadas mentais e lhes tenta impingir o que julga ser o melhor (para si mesma, enquanto instituição Igreja, por certo).
Dizia este padre que falou na televisão (o que faz dele uma pessoa importante, pois claro): uma união homossexual não pode nunca dar em casamento, o casamento é heterossexual, e portanto o que o Estado deve fazer é dar incentivos aos casais heterossexuais para terem «os filhos que desejam». Vamos analisar este discurso a roçar a ficção. Discurso falacioso, em primeiro lugar, porque desvia largamente a atenção para uma questão premente que nada tem que ver com isto: o apoio aos casais heterossexuais que querem ter filhos. Isto se tivermos em conta que nem todos querem ter filhos, hipótese que a Igreja nem contempla, ou, como eu vi num blogue, no outro dia, a união homossexual destina-se só ao «prazer sexual». Ainda bem que as bichas e as fufas são loucas desvairadas à procura de sexo «wild», porque nós hetero, além de super-fiéis, não somos nada loucos, nada pornográficos, é tudo pudico, o sexo faz-se debaixo dos lençóis e às escuras. Graças a tanta repressão social sobre a homossexualidade em louvor da heterossexualidade, quem serão os mais loucos? Os mais ou os menos reprimidos?
Os casais heterossexuais precisam de ajuda para criar os seus filhos; sim, esse tipo de infraestruturas faz parte de uma sociedade evoluída, mas como toda a gente bem sabe, é preciso condições para criar filhos e nem todos temos uma vida emocional e financeiramente estável para nos reproduzirmos. A Igreja vê isso? A Igreja não vê, não quer ver, que muitos de nós, heterossexuais, nem deveríamos pensar em filhos, mais valia nos inscrevermos em desportos de alto risco, abrir um blogue, viajar. Gosto muito da sinceridade de quem diz que não quer ter filhos porque quer fazer outras coisas da vida. Fica tudo a olhar (lá está a Igreja inculcada nas nossas vidas até à medula…), mas a realidade é esta: nem todos colocamos sequer a hipótese de nos reproduzirmos. Ámen.
A adopção, já se sabe, nem se fala na Igreja. Deve ser tabu e dos grandes. Olha agora um casal homossexual adoptar… uma vergonha ter dois pais ou duas mães. Estamos tão certos disso que nem vamos a Freud. Uma percentagem gigante de pessoas com disfuncionalidades e com doenças mentais mais comuns, como a depressão, provém de famílias heterossexuais, com pai e mãe presentes, fruto de um casamento heterossexual. Quando olho os meus (ainda) sogros à distância, percebo que muitos casais hetero são fraudulentos e prejudiciais aos filhos. Não se amam nem nunca se amaram, criaram uma relação fictícia à qual chamaram «família», na qual tentaram, durante décadas, acreditar, fazendo os filhos crer que, para além daquilo, pouco há. E há muito! Depender e ter necessidade não é amor. Recalcar frustrações e libertá-las nos filhos é intoxicá-los e torná-los incapazes de ter uma vida feliz. Lamento informar a Igreja (até porque a Igreja sabe, não quer é ver) de que os casais hetero falham, muitos são fraudes e educam os filhos segundo princípios caducos e desadequados. Porque não deixarem os homossexuais tentarem aquilo que nós, trolhas heterossexuais fechados em casamentos de fachada, nunca conseguimos? Vá lá, expliquem-me como se eu fosse uma criança de dois anos…»