Quatro poemas de Joaquim Amândio Santos »» Câmara Escura (revelação) »» edição bilingue, tradução de Rámon Gómez, prefácio de António Lobo Xavier »» Sertã »» Negra Tinta »» 2007
VIGÍLIA
na tua ausência
enrosco-me felino
nas malhas da saudade.
de que foges?!
de mim jamais
que me encontro
aconchegado
dentro de ti!
para onde vais?!
que não te ceguem
cânticos melados,
escritos no nevoeiro.
porque te cegas?!
mira em teus olhos
meu ninho.
vê-te nesse límpido espelho.
é aqui que tu estás.
construindo as notas
da minha sinfonia,
enquanto cumpro as horas marcadas
num namoro perfeito
com a nossa cumplicidade.
p. 31 [também pode ser encontrado aqui]
VAMOS POR PARTES
no meu lento enroscar
observo ciumento
como dançam
minhas pernas nas tuas.
dizem
que estão a executar um volteio.
digo-lhes
que sei bem que arrufam
prenhes de paixão.
e é mesmo por aí que quero ir.
como portagem, justificadamente exigível,
exiges que te deposite
a totalidade do meu corpo.
é teu.
no mais singelo dos seus pedaços.
mas hoje
deposito por cá apenas as minhas narinas.
respira por lá.
deixa-te sossegar no meu ópio
enquanto inalas o meu incenso.
e quando tomas posse
nem hesitas
no teu breve olhar pelo meu pescoço.
a tua escolha já está feita
e os teus dentes de sabre morderam-me a vontade.
p. 67 [também pode ser encontrado aqui]
DÁDIVA
o piscar da tua pálpebra esquerda
marcou a partida da lágrima.
o brilho doce nos teus olhos diz-me
que chegarei a tempo de lhe extirpar
a salinidade,
no preciso momento
em que os meus lábios tocarem os teus.
torno-a minha. torno-me teu.
p. 65 [também pode ser encontrado aqui]
SEDA
sempre que aqui não estás
irrompem saudades do futuro.
atrevo-me a ostentar a falta que sinto de mim.
busco-me no único espaço
onde sei que estarei,
esse teus braços perfeitos de aconchego.
aí me quedo, nunca mudo,
jamais deserdado de palavras,
porque herdeiro do sossego nascido
nos meus mais ternos murmúrios.
falo-te languidamente por eles.
para que me deixes ficar permanentemente
inquilino de ti.
p. 63 [também pode ser encontrado aqui]
sempre que aqui não estás
ResponderEliminarirrompem saudades do futuro.
OTIMOS TEXTOS, GOSTEI DO BLOG, COM UMA VARIEDADE DE ESTILO E ARTISTICA.
:)
É o tipo de fotos que gosto... como que naturais, espontaneas...
ResponderEliminarExquisita poesía Paulo, me encantó, perfecta... Bonito estar enamorado, bonito amar, bonito escribir lo que sentimos, bonito extrañar y que te extrañen...
ResponderEliminarBonito compartir, gracias Pau
Poemas mto bonitos, adorei!
ResponderEliminarAmigo Mongo, quando puderes espreita o meu blogue e vê um texto chamado Eles VIvem!. Gostava que tu o divulgasses no teu blogue, dado que o meu blogue é privado e a temática é pública e do nosso interesse!!
Beijos mto mongos.
Gostei do "Seda" e do "Dádiva" tb...
ResponderEliminarFaltou uma banda sonora a acompanhar a leitura...
Nem parece coisa tua Paulo... ;)
Bjinhos*
Gosto tanto do segundo poema!!! Especialmente dos primeiros versos!
ResponderEliminarNão conhecia...gostei.
ResponderEliminarMuito o género de poesia que gosto... fiquei melada, vou a correr para ao pé do meu amor :)~
Beijinh@s fofinh@s