Só agora descobri que há textos da Revista K disponíveis online. Ainda se lembram dela? Não vêm mais a propósito do que pretendo escrever a seguir. Os delírios, as traduções selvagens, as fotografias da Inês Gonçalves deliciavam-me. Para mim foi uma revista de culto. Guardo na aldeia a colecção, faltando-me o número 8; pode ser que ainda a encontre em algum alfarrabista. O primeiro número é de Outubro de 1990, que comprei por conselho da professora de Introdução ao Jornalismo do Secundário. Além de ter adorado o conteúdo, foi o número dois da K que se tornou importantíssimo no meu percurso enquanto pessoa, suplantando mesmo o número sobre Fátima e Salazar.
Tinha eu 15 anos e soube então que aquilo que fazia com que me sentisse diferente se chamava homossexualidade. Deve ter sido a primeira vez que contactei com a palavra gay. Foi no dossier gay de Paulo Gomes, com fotografias de Inês Gonçalves, intitulado “Porque correm os homossexuais?” Este está disponível aqui (1), aqui (2) e aqui (3).
Começa o texto: “Vivem em duplas existências, em caminhos paralelos, cheios de duplicidades, de duplos sentidos. Cliché? Certo, os gays portugueses resumem-se ainda a um enorme cliché de identidade ora exuberante, ora fechada em silêncios ou sussurros, ora em pequenos guetos com bandeiras culturais.” Achei na altura que as coisas precisavam de mudar depressa. Não mudaram assim tanto. Trata-se de um texto altamente recomendável, pelo menos foi-o para mim, tornando-se, então, na minha bíblia instrutiva. Devorei o que li, mas tudo ficou fechado dentro de mim, a martelar-me o quotidiano, pelo menos durante cinco anos, até eu assumir interiormente que não havia volta a dar no que respeitava à minha orientação. Que teria sido eu se não me tivesse cruzado com aquele número da K?
Além do texto principal, a revista apresenta um apêndice lateral com “pistas gay”. Houve uma frase que me ficou nos ouvidos: “O sofrimento brada-se a dobrar, a felicidade exprime-se em demasia, os amantes querem-se de perder o fôlego, a solidão sente-se como castigo, como desígnio de deuses.”
Começa o texto: “Vivem em duplas existências, em caminhos paralelos, cheios de duplicidades, de duplos sentidos. Cliché? Certo, os gays portugueses resumem-se ainda a um enorme cliché de identidade ora exuberante, ora fechada em silêncios ou sussurros, ora em pequenos guetos com bandeiras culturais.” Achei na altura que as coisas precisavam de mudar depressa. Não mudaram assim tanto. Trata-se de um texto altamente recomendável, pelo menos foi-o para mim, tornando-se, então, na minha bíblia instrutiva. Devorei o que li, mas tudo ficou fechado dentro de mim, a martelar-me o quotidiano, pelo menos durante cinco anos, até eu assumir interiormente que não havia volta a dar no que respeitava à minha orientação. Que teria sido eu se não me tivesse cruzado com aquele número da K?
Além do texto principal, a revista apresenta um apêndice lateral com “pistas gay”. Houve uma frase que me ficou nos ouvidos: “O sofrimento brada-se a dobrar, a felicidade exprime-se em demasia, os amantes querem-se de perder o fôlego, a solidão sente-se como castigo, como desígnio de deuses.”
coincidência: um dos poucos (o único?) exemplares que me resta é precisamente este cuja kapa tem o marcelo
ResponderEliminarmiguel (innersmile)
lembro sim, querido, tenho ainda umas 7 ou 8 e fiz alguns post com textos de lá retirados,:)
ResponderEliminarlili
Lili, a K era muito especial e tem textos muito, muito engraçados e interessantes!
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