Nada neste mundo me agita o seio, senão o teu amor.
Por cima da minha cabeça passava o norte agudo. Eu amo o sopro do vento, como o rugido do mar.
Porque o vento e o oceano são as duas únicas expressões sublimes do verbo de Deus, escritas na face da Terra quando ainda ela se chamava caos.
Depois é que surgiu o homem e a podridão, a árvore e o verme, a bonina e o emurchecer.
E o vento e o mar viram nascer o género humano, crescer a selva, florescer a Primavera; - e passaram, e sorriram-se.
E, depois, viram as gerações reclinadas nos campos do sepulcro, as árvores derribadas no fundo dos vales secas e carcomidas, as flores perdidas e murchas pelos raios do sol do Estio; - e passaram, e sorriram-se.
Arrastava-me para o ermo um sentimento íntimo, o sentimento de haver acordado, vivo ainda, deste sonho febril chamando a vida, e de que hoje ninguém acorda, senão depois de morrer.
Sabeis o que é esse despertar de poeta?
(...)
É perceber à custa de amarguras que o existir é padecer, o pensar descrer, o experimentar desenganar-se e a esperança nas coisas da terra uma cruel mentira de nossos desejos, um fumo ténue que ondeia em horizonte aquém do qual está assentada a sepultura.
(...)
É então que para ele há unicamente uma vida real - a íntima; unicamente uma linguagem inteligível - a do bramido do mar e do rugido dos ventos; unicamente uma conveniência não travada de perfídia - a da solidão.
Por cima da minha cabeça passava o norte agudo. Eu amo o sopro do vento, como o rugido do mar.
Porque o vento e o oceano são as duas únicas expressões sublimes do verbo de Deus, escritas na face da Terra quando ainda ela se chamava caos.
Depois é que surgiu o homem e a podridão, a árvore e o verme, a bonina e o emurchecer.
E o vento e o mar viram nascer o género humano, crescer a selva, florescer a Primavera; - e passaram, e sorriram-se.
E, depois, viram as gerações reclinadas nos campos do sepulcro, as árvores derribadas no fundo dos vales secas e carcomidas, as flores perdidas e murchas pelos raios do sol do Estio; - e passaram, e sorriram-se.
Arrastava-me para o ermo um sentimento íntimo, o sentimento de haver acordado, vivo ainda, deste sonho febril chamando a vida, e de que hoje ninguém acorda, senão depois de morrer.
Sabeis o que é esse despertar de poeta?
(...)
É perceber à custa de amarguras que o existir é padecer, o pensar descrer, o experimentar desenganar-se e a esperança nas coisas da terra uma cruel mentira de nossos desejos, um fumo ténue que ondeia em horizonte aquém do qual está assentada a sepultura.
(...)
É então que para ele há unicamente uma vida real - a íntima; unicamente uma linguagem inteligível - a do bramido do mar e do rugido dos ventos; unicamente uma conveniência não travada de perfídia - a da solidão.
Alexandre Herculano »» Eurico, O Presbítero
Curioso, há uma musica qualquer neste blog que começa a tocar sem ser pedida e que, sem ter reparado nela, se misturou com a musica do video do paulo praça. Ficou muito bem no refrão numa sincronização acidental! Quando finalmente reparei que não era para ser assim fiquei um bocadito desiludido.
ResponderEliminarSugere-se uma remistura ao Paulo Praça :-D
Daniel, hoje apeteceu-me pôr a música a rodar sozinha... Depois do teu comentário fui experimentar. Resultado? Além de realmente curioso é estranho. Mas compreendo que combinam, porque a música é calma como o mar calmo. O Paulo Praça pode ganhar com a remistura :)
ResponderEliminarEnfim, nem tudo é perfeito.
Obrigado pelo comentário!
Amigo, quando eu penso que tão poucas pessoas que conheço gostam de Eurico, o Presbítero (ou sequer o leram por inteiro!)fico espantada!
ResponderEliminarAinda bem que citaste a obra! Merece.
Monga
Linda, sabes que me lembrei mesmo disso quando escolhi esta citação!? Sei que não colhe muitos apoios, mas eu gosto do Herculano. E esta citação é belíssima. Sim, merece e muito.
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