segunda-feira, 16 de junho de 2008

..:: oxitocina ::..

Eu que não sou nada dado a verdades absolutas, encaro as teorias essencialistas com o mesmo cepticismo com que desbarato as construcionistas. Umas e outras têm virtudes, é um facto (se tiverem curiosidade podem ler esta brevíssima súmula). Na essencialista, incomoda-me sobremaneira o gosto por buscar na biologia a justificação de comportamentos, identidades, orientação, etc., como se houvesse o tal gene, a tal molécula, a tal hormona que justifica tudo. Por outro lado, tem a vantagem de aos cépticos (tentar) demonstrar que é impossível escapar à natureza, a mesma que (supostamente) Deus nos dotou.
Sem muito a ver (e até porque o assunto é muito mais complexo), lembrei-me disto a propósito da oxitocina, uma hormona já conhecida há algum tempo e sobre a qual a NotíciasMagazine de dia 15 apresentou um texto inicialmente publicado na New Scientist com alguns pontos interessantes, fundamentando nesta hormona o facto das pessoas ficarem juntas por muito tempo. A este propósito é de ler o artigo de J.L. Pio Abreu no Destak, de onde transcrevo o seguinte parágrafo: «Temos então uma base científica para um fenómeno há muito conhecido: as pessoas (e as comunidades) que reprimem o fluir da sua sexualidade são também as menos tolerantes e mais violentas. Mas também é preciso cuidado com os excessos: como se demonstrou recentemente, a tendência para aceitar, sem pestanejar, as propostas do gestor de contas, é muito maior após a inalação experimental de oxitocina».
Aquilo que eu já tinha escrito sobre o tacto e o afecto sempre é verdade e a hormona prova-o:
«Já lhe chamaram a hormona do amor, a carícia química, confiança líquida. Atinge o pico no orgasmo, faz [com] que um abraço carinhoso “derreta” todo o stress e aumenta a generosidade quando é ministrada como medicamento. A oxitocina é a pura essência do afecto, o químico cerebral que constrói carinhosamente os laços de pais para filhos, de amante para amante, de amigo para amigo, e em breve as suas potencialidades poderão ser exploradas para expandir o seu poder» (NotíciasMagazine, p. 42);
«‘Sem oxitocina, os animais têm amnésia social’, garante o investigador Larry Young»;
«Acima de tudo, parece que a libertação de oxitocina no cérebro tem como função fazer [com] que os contactos sociais dêem prazer. Sem esta hormona, as espécies que socializam não funcionariam. E isto, claro, também é aplicável à espécie humana. As investigações apontam todas para o facto de a oxitocina desempenhar um papel fundamental em muitas áreas da vida humana, incluindo interacções sociais, amorosas e de filiação/paternidade»;
«(…) Zak e a sua equipa demonstraram que pessoas a quem foi dada esta hormona se tornaram substancialmente mais generosas e confiantes ao desempenhar tarefas que implicavam partilhar dinheiro com indivíduos que não conheciam» (NotíciasMagazine, p. 43)

Só posso chegar a uma conclusão: eu e o Zé produzimos muita oxitocina. De outra forma, porque nos haveria de custar tanto a separação, o ficarmos longe, afastados? Mas, então, e os sentimentos? Bem, pelo menos, agora, parece que a natureza ajuda. E fico feliz por saber que sou uma pessoa menos agressiva e intolerante, o que só pode ser pela produção maciça de oxitocina.
Por outro lado, penso nos amigos e só chego a uma conclusão: tenho saudades do toque, de estar convosco, de vos sentir. Repito: o tempo não ajuda, mas pelo menos ficam a saber que gosto muito de vós e que tenho toneladas de oxitocina e espero que vós também, a bem da estabilidade afectiva!



Vem isto tudo, ainda, a propósito do meu Pinguim e do seu Dejanito. Eu sei que não é nem foi intencional, mas quem não me conhece fica a saber que eu tenho um dom/defeito que não consigo controlar: aperceber-me e absorver a energia das pessoas que estão ao meu redor. Não é um dom/defeito muito desenvolvido, mas tenho-o devido a uma sensibilidade talvez mais amplificada do que será comum. “Agarro” essa energia com uma pinta que até me deixa fulo e posso, pois, ficar eufórico, esfusiante, o que não é mau, claro. O pior mesmo é quando é o contrário. E não sei como lidar com isso, por a energia não fluir, ficar cá retida. Ah, pois é: fiquei enrugado, esmagado. Tivesse eu o dom de transformar esse energia e teria um pouco mais de divino e, sendo mais divino, teria a felicidade na mão para a oferecer em doses generosas aos meus próximos. Então, a separação, que custa mais que tudo (e eu sei-o tão bem), seria pêra doce e nunca mais pedra no sapato das emoções violentas. A culpa recai na malvada oxitocina que nos faz querer estar juntos, em presença. Espero não estar a ser demasiado “esotérico”, “metafísico”… no fundo, quem se ama só quer estar junto, por muita habituação que haja à ausência física.
Hoje, que já me deu para a choradeira, repito: gosto muito de vós! Apetece-me lançar o meu abraço e abarcar-vos, sentir o vosso pulso emocional e dizer-vos que se a vida é bela é graças ao amor. E mais nada. Ah, e aos orgasmos, obviamente (já agora, menos solitários do que os do vídeo).

9 comentários:

  1. Meu querido Paulinho (quem não nos conheça ainda pensa que somos gays...)
    Qualquer coisa que possa dizer aqui fica muitìssimo aquém de tudo o que haveria por dizer; não por este teu post, mas também por este teu post!
    Tenho conhecido muita gente, muito boa gente aqui na blogosfera, gente que me tem dado muito, não imaginando sequer que me está a dar aguma coisa...
    Tenho ganho Amigos e digo-o sem receio e tenho muitas provas disso e nesta viagem do Déjan até aqui isso foi imensamente demonstrado.
    Mas...e aqui o mas quase não é adversativo, há alguém com quem sempre houve uma identificação muito grande, alguém, que sendo embora bastante diferente de mim, tem a sensibilidade suficiente, tem o afecto necessário, tem a palavra adequada quando há um telefonema a pedir uma ajuda, tem enfim (e isso é mais importante do que parece)uma cultura, uma abrangência de saberes e um dom da palavra escrita e falada que cativam, tem tudo isso e algumas coisas mais, como um companheiro excepcional, que me levam a considerar esse alguém como uma pessoa excepcional e esse alguém és tu, que me perdoem todos os bons amigos que aqui vou conhecendo.
    Penso resumir tudo o que disse e o muito que quereria dizer numa só palavra que vem muito cá de dentro: OBRIGADO!!!

    ResponderEliminar
  2. Amigo, a este teu comentário, tenho de responder já e por pontos:
    1) gays? como? estás a estranhar-me ou quê? Tu, não me confundas! :)
    2) a parte que vos dizia respeito (no fundo, o post todo, ok...) era para ser digerida com tempo. E tu sabes que eu não gosto de cobrar resposta, porque até mais importante que qualquer comentário que nos possas deixar é a amizade fora deste universo virtual. Mais: sinto-me até culpado, não quis acelerar nem vincar a partida do teu lindo. E isso acabou por acontecer... Desculpa!!!
    3) este post também fica muito aquém de qualquer homenagem (de admiração, orgulho pelos belíssimos seres que sois, etc.) que vos pudesse fazer. Mas foi o que se pôde arranjar e de rajada inconsequente.
    4) subscrevo e retribuo todas as tuas palavras em relação à gente maravilhosa que se vai conhecendo por aqui. E o que li sobre mim, aplico-to. És tu que estás ali naquele retrato que me traçaste. Quero que saibas que foi importante lê-lo, muito embora já o intuísse e soubesse há muito!

    No fundo, no fundo, espero que se perceba que afinal a oxitocina é a grande culpada de tanta dependência afectiva(?) e que o post mais não foi que uma verbalização de sentimentos (como o teu comentário, aliás).
    Da nossa parte, só esperamos que vós fiqueis mais fortes sentimentalmente; a vossa relação só o pode ficar, temos a certeza.
    Palavra nenhuma minha poderia traduzir aquilo que vós sentis/ estais a sentir/vireis a sentir.

    Um grande, grande abraço, daqueles que tudo abarcam e tudo salvam!

    ResponderEliminar
  3. Do que te leio (e nunca nego à partida algo que desconheço), palpita-me que tenho oxcitocina para dar, vender e mandar para Espanha. E tenho muita sorte por ter um círculo - pequeno, é certo - de amizades onde há oxitocina a rodos, para dar, vender e ser de todos! :D

    Em relação ao retrato que fazes de ti e da beleza da dedicatória ao JC e ao D só posso dizer uma coisa: ou muito me engano, mas além do inequívoco piquinho a azedo, vocês destilam oxitocina por tudo quanto é poro, he he he he.

    ResponderEliminar
  4. Como diz o Catatau vocês(Zé&Paulo, Pinguim&Dejan) destilam oxitocina por todos os poros.Também eu a tenho, e sinto. Pelo que eu li aqui só espero que não me peçam dinheiro emprestado durante um ataque desta hormona.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
  5. Olá Paulo,
    Este teu post dava pano para mangas.
    Para quem obedece estritamente ao dogma materialista de que no Universo só existem átomos e espaços vazios, talvez essa coisa da oxitocina satisfaça todas as dúvidas. A mim parece-me que se estão repetir os erros da Frenologia, que se propunha tudo explicar pelo tamanho das bossas na cabeça, mas que era o suprasumo da Ciência na altura.
    Sou daqueles que acham que a Ciência ainda não descobriu tudo, e que esse sentido abraço colectivo que envias é muito mais que a oxitocina, a serotonina ou a dopamina a passearem no tecido cerebral. Até porque se sentiu aqui :)
    Abraço,
    RB

    ResponderEliminar
  6. Ai Paulo...
    Oxitocina, serotonina, dopamina, e todas as inas afins. Ando meio arrelampada de há uns tempos para cá. De tal maneira que não consigo a concentração necessária para nada de nada...
    Estava tão quietinha, amigo, no meu cantinho mas o RG trouxe-me pedaço inesperado. Estou a apaixonar-me e não queria nada. Nem um pouco...
    Gosto, prefiro, a oxitocina da amizade. É mais tranquila e não sobressalta os corações!
    ;-)

    ResponderEliminar
  7. No que me diz respeito, como presença virtual, tenho muito prazer em vos ter como companhia. Gosto muito do que escrevem, do que transpira destas letras. É uma lição de vida!
    Abraço

    ResponderEliminar
  8. Amigo Mongo,vou-te citar numa carta que me escreveste há uns anos e de que me lembro muito bem: "As pessoas andam no metro tristes, cabisbaixas...andamos todos mal FODIDOS!". Ah, como eu gosto de ti!!
    Saudades.

    Monga

    ResponderEliminar
  9. Catatau, fazes bem: nunca negar o escuro. Então, partilhamos as doses generosas de oxitocina. Fico feliz por ti. Pelo que percebi, faz muito bem e faz muito bem em todas as relações, de amor, de amizade, familiares. Ainda bem que somos saudáveis e não destilamos ódios mas tactos e afectos!

    Special, essa de pedir dinheiro é mesmo má ideia. Normalmente, não consigo dizer que não... já sabes...

    Rocky, como comecei por dizer, explicar tudo à luz da matéria faz-me cócegas, uma espécie de regressão, não é? Fizeste bem em acrescentar a serotina e dopamina... em conjunto, ó que bombas!
    Até o que é virtual é real!

    Denise, amiga, seja o que for, importa que seja genuíno!

    Socrates, a lição é de aprendizagem e partilha diária. Faz bem. Faz-nos crescer. Faz-nos sentir-mos amados. Ninguém é uma ilha, certo? Também gostamos muito da tua presença, mesmo virtual!

    Monga, mal fodidos... isso nota-se nas caras das pessoas. Ao menos que se masturbassem, não é?


    Outro abraço acentuadamente forte porque gosto desses!

    ResponderEliminar

»» responderemos quando tivermos tempo
[se tivermos tempo] »» se os
comentários de algumas entradas estiverem bloqueados é porque não estamos cá, não há tempo para olhar para o lado, ou essas entradas não têm nada para comentar.

»»
obrigado pela visita!