terça-feira, 31 de julho de 2007

..:: louvor à mãe ::..

A mãe é a pessoa mais importante. Quando o pai partiu, custou-me muito. Foi uma ferida profunda que se abriu, mas perder a mãe seria a minha bomba de Hiroshima. Apetece-me agarrá-la, abraçá-la, cuidar dela. Herberto Helder diz que “As mães são as mais altas coisas/ que os filhos criam, porque se colocam / na combustão dos filhos, porque / os filhos estão como invasores dentes-de-leão / no terreno das mães” (»Fonte II«, in Ou o Poema Contínuo, Assírio & Alvim, 2004, p. 48). Concordo em tudo. Ela é a minha heroína, uma lutadora. Tem uma personalidade forte, mas tão moldável que continua a surpreender-me com a sua generosidade. Às vezes, dá-me vontade de lhe pedir perdão por tudo o que já sofreu, comigo e com os outros. Gostava que fosse infinitamente feliz.
Nunca lhe contei nada acerca da minha orientação e ela nunca me perguntou nada. Parece-nos impossível que ela não se tenha apercebido. Conheceu todos os meus namorados, que nunca apresentei como tal e não foram assim tantos. Quando nos telefonamos, pergunta-me sempre pelo Zé e manda-lhe cumprimentos. Sabe que vamos viajar juntos e, provavelmente, vai ficar com a Victoria durante alguns dias. Com os meus irmãos, a cena repete-se, a diferença é que me fizeram muitas perguntas sobre namoradas. Como nunca dei saída, acho que desistiram. Todos sabem que na mesma casa vive o Zé. Não sei se não se interrogarão se também partilhamos a mesma cama, se fazemos sexo ou se vivemos como um qualquer outro casal. Vim viver com o Zé depois de dois anos de namoro. Não foi intencional, mas a verdade é que as circunstâncias se conjugaram para que assim acontecesse. Todos os meus amigos sabem da minha orientação e se não sabem não são meus amigos de facto. A alguns disse-lhes, outros aperceberam-se imediatamente, outros foram-se apercebendo ao longo do convívio. Assim de repente, acho que nunca ninguém me confrontou com a pergunta se eu era gay. Neste momento, se ma fizessem responderia com franqueza, embora dependesse do contexto. Parece-me que, ao fim e ao cabo, as pessoas percebem que sou tão normal que até chateia.

3 comentários:

  1. Dois apontamentos da Monga ao teu fantástico texto: 1) a mãe é sempre o melhor ser do nosso mundo, o primeiro que conhecemos, o primeiro com quem partilhamos a vida. É uma referência que, quando não tem estrutura, nos deixa sem pernas para andar e perceber a vida. A minha mãe sempre foi ultra-especial, era feita de força, fibra, coragem e muita fragilidade. Tenho às vezes tantas saudades dela que dava tudo o que tenho para estar mais 5 minutos com ela. Isso é amor. Tenho às vezes saudades tão fortes que me caiem lágrimas sem eu me aperceber sequer. Tinha um sexto sentido máximo e distribuía más respostas por quem achava merecedor desse tratamento (dava-me tanto jeito essa capacidade!). As nossas mães são únicas.
    2) Já sabes que a orientação sexual é muito secundária quando se gosta de uma pessoa e não se é preconceituoso. Eu sou muito bem educada (demais, em alguns contextos a educação nem parece um requisito básico!), jamais me passaria pela cabeça perguntar a orientação a alguém...
    Depois de ver o Brokeback Mountain (e ler) fiquei terrivelmente mais triste com o preconceito contra os homossexuais.

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  2. A melhor coisa do meu mundo também é a minha mãe. Ninguém me faz rir como ela, nem faz bolos tão bons como ela, nem me ama tão incondicionalmente como ela. EM relação à homossexualidade, pelo que descreveste estamos precisamente no mesmo patamar. Sinto que ela me aceitaria. Simplesmente quero poupá-la ao sofrimento por que tive de passar, talvez não seja muito racional mas eu também a amo incondicionalmente e faço tudo o que puder fazer para lhe poupar qualquer sofrimento.

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  3. As mães são realmente especiais. Não sei se consigo ocultar durante muito mais tempo. Por outro lado, penso como tu: porquê fazê-la sofrer?

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