quinta-feira, 25 de outubro de 2007

..:: as cores do passado ::.. o básico (versão abreviada)

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Pelo período que passei com os meus pais, durante o básico, passo a correr que há sepulturas que nunca devem ser levantadas.
Reconheço que foram 5 anos de muitas coisas diferentes: houve a fase, por volta dos 12, em que faltávamos às aulas para tomar banho na ribeira, muitas vezes nus, e gozávamos uns com os outros e ficávamos atónitos quando se notava despontar algum pêlo precoce nos mais velhos. Foi um período engraçado; nos anos seguintes é que as coisas não correram muito bem. Havia dias em que não sabia o que fazer a tanta angústia. Nessas alturas, ficava mais tempo a admirar o rio, as margens a comprimirem a água que passava, arrastando tudo.
Nunca foi a violência física que me perturbou, mas a verbal e a psicológica. Que fase terrível e, equacionando bem, a pior que já experimentei. A isso chama-se hoje bullying, mas na altura eram só brincadeiras de colegas que serviam para educar os pouco razoáveis. Aproveitava para ter um comportamento satisfatório nas aulas e para me esforçar, suprindo as lacunas que sabia ter. Tinha boas notas, excepto a matemática e educação física: a matemática, por embirração pela abantesma do professor que nos leccionou a disciplina durante 3 anos consecutivos e conseguiu que perdesse completamente o entusiasmo pela coisa; a educação física por vergonha. Se não fosse a matemática, teria seguido para o que julgava ser a minha vocação: a biologia, porque queria investigar seres unicelulares. Acabei em letras e no ensino, o que nunca tinha projectado.
Sinceramente, desconhecia porque era posto de parte e gozado. No 9º ano, o professor de português disse-me que tinha percebido tudo e eu não percebia nada de nada. Não era feliz na minha ignorância e também não o fui quando soube. De facto, se fosse uma escolha, teria escolhido a via mais fácil...
Para evitar os colegas, refugiava-me na biblioteca e procurava coisas improváveis. Além disso, nesse tempo, que me parece longo demais para caber só em três anos, deixei de almoçar com os outros porque quanto menos os visse melhor. Desde aí, e como foi um período ainda longo, a minha relação com a comida ficou perturbada. Nunca ninguém se apercebeu de nada, excepto o Zé que aproveita sempre para me recordar que eu não como, aspiro a comida. É um contra-senso, mas aprendi a comer pouco, sendo que tenho um estômago gigante e, portanto, como muito.

6 comentários:

  1. Comoves-me da maneira como escreves e as coisas que contas...és lindo sabias?

    Beijos

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  2. Por dentro ou por fora? :)
    Como não me conheces por fora, espero que seja por dentro e espero que o seja mesmo. É bom ouvi-lo!
    Beijinhos, Sónia.

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  3. sim, está bem escrito
    mas é doloroso
    a descrição do sofrimento, do isolamento...
    espero que agora as coisas sejam assumidamente bem mais felizes

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  4. Olá magnohlia, sê bem-vind@!
    Foi mesmo doloroso, mas já passou a ponto de nem me lembrar de mais de metade. A memória tem cá uns mecanismos de defesa...
    Sim, isto melhorou muito!
    Abraços

    P.S. As tuas fotos são belíssimas!

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  5. Amigo Paulo
    apesar desses mecanismos de defesa de que falas, a memória não esquece tudo, e factos dolorosos, desse tipo, não será fácil olvidá-los; mas tens a consolação que venceste e te impuseste como o Homem que agora és; isso é o mais importante, é não teres desistido de seres tu.
    Um abraço.

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  6. Pinguim, claro que a memória não esquece, mas envia assim para um sítio mais escondido, de mais difícil acesso.
    Tens toda a razão quando falas de imposição, aliás tenho outro texto na calha que vem no seguimento e refere justamente isso: as expectativas e a sua concretização, isto é, o que eu quis ser (feliz) e como o consegui, quase sem saber.

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