quarta-feira, 3 de outubro de 2007

..:: fidelitas, dura fidelitas ::..

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Eros, como sabem, é só uma das faces do amor - o amor erótico e sensual. As outras faces são o amor como Agape, o que renuncia ao erotismo e ao sexo, aproximando-se da caritas cristã, do amor familiar. Há ainda amor como Philia, também sem conotação sexual, que corresponde à amizade. Finalmente, há o amor como Anteros, ou o amor contrário (em algumas versões, Anteros foi gémeo de Eros), que nunca percebi muito bem o que é.
Como não tenho segredos com o Zé, e sem repto, vou falar de um dos aspectos do amor como Eros e que tão polémico pode ser. Este é o momento certo. Parto dos textos do Simão e de um tal max e deste, sempre baseado na minha experiência pessoal, completando o tríptico iniciado aqui e que continuou aqui. Ora, num dos piores momentos da minha curta existência, aprendi que a fidelidade não era o mais importante numa relação. Antes, não pensava da mesma forma. Como bom capricorniano agarrado ao que é seguro e com dificuldades perante a mudança, a minha visão alterar-se-ia para sempre com a chegada do Américo. A fidelidade tornou-se-me um conceito vazio, estéril.
Os motivos? A fidelidade deve ser aos sentimentos, não deve ser à carne. E se o sexo se torna amor? Eu aprendi a amar o Zé por causa do sexo, e daí? A intensidade do sexo não implica amor e o amor é absolutamente distinto e superior a uma queca inconsequente. Mais: o sexo não depende do amor, mas este para se alimentar precisa de sexo.
Considero pois que não sou ciumento. Naquela altura, em 97, até permiti que entrasses, nunca reclamei vivamente o Esseme só para mim e isso não queria dizer que pretendia sofrer. O que pode ser uma espécie de substituto da fidelidade reside na franqueza, na comunicação, no diálogo que fazem milagres (quando se sabe falar e ouvir, claro). Quando nem isso existe e o amor cambaleia, há que acabar a relação e não acaba o mundo por isso. Tem de haver um mínimo de dignidade.
O sentido de posse, ultrapassei-o há muito: mais gente possessiva e obsessiva, não, por favor! Descomplexifiquem-se, evoluam, assumam, amem, aprendam... Antes de mais: ninguém é dono de ninguém, nem mesmo quando me refiro ao Zé como “o meu homem”; pertenço-lhe porque é a ele que me entrego todos os dias; é a ele que me dirijo com o coração nas mãos e digo «toma, é todo para ti». O sentido de pertença não pode ter que ver com o de posse, que se aplica a objectos e não a seres animados. Não há título de propriedade, contrato de casamento ou outra formalidade que segurem uma relação ou salvem a honra. «És meu» não se aplica, de todo. Conversamos sobre isto e muito mais e recordamos que o caminho sempre se faz caminhando. Não há fórmulas milagrosas exportáveis. Cada um deve conhecer-se e conhecer os limites e a importância que lhe dá ou deve dar; achar o seu equilíbrio para seu bem, d@ parceir@ e da relação. Isso é a medula, tudo o resto são adereços (fidelidade incluída).
Em síntese, para mim, o amor não implica fidelidade. O que não suporto é a mentira e a cobardia: cada um tem de assumir as consequências dos seus actos e agir em conformidade. Isto tudo para reconhecer que sou muito monogâmico, que não troco o certo pelo incerto. Mas tanto eu como o Zé somos humanos, temos olhos, corpo, sexo e desejo. Acontece. Pode acontecer e se acontecer não é o fim do mundo. O que me importa e o que valorizo é a lealdade aos sentimentos, isto é, saber que no regresso estamos à espera, ansiosamente, um do outro. A liberdade que o Zé me dá é que me permite confiar nele e a não ter (nem nunca ter tido) a necessidade de fugir, de buscar fora, etc. Além disso, apraz-me sobremaneira constatar um facto muito simples e decisivo: encaixamos bem, muito bem. O ciúme soa-me tão a primitivo e medieval que me faz fugir de pessoas dominadoras, inquisidoras, totalitárias. O Esseme foi assim comigo: exigiu-me exclusividade e explicações. Percebi mais tarde que eu é que tinha todos os motivos para desconfiar, julgar ou exigir fidelidade aos sentimentos. Aprendi a lição: é dos ciumentos e obsessivos que se deve desconfiar mais e fugir a sete pés; sabem o que fazem, olham-se ao espelho e acham que o(s) outro(s) são iguais e reproduzem os seus comportamentos.
Finalmente, vem muito a propósito disto tudo, a canção de Rita Lee, Roberto de Carvalho e Arnaldo Jabor, que subscrevo integralmente (não fosse a Rita Lee também capricorniana...):

AMOR E SEXO

Amor é um livro - Sexo é esporte

Sexo é escolha - Amor é sorte
Amor é pensamento, teorema
Amor é novela - Sexo é cinema
Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa - Sexo é poesia
O amor nos torna patéticos
Sexo é uma selva de epiléticos

Amor é cristão - Sexo é pagão
Amor é latifúndio - Sexo é invasão
Amor é divino - Sexo é animal
Amor é bossa nova - Sexo é carnaval

Amor é para sempre - Sexo também
Sexo é do bom - Amor é do bem
Amor sem sexo é amizade
Sexo sem amor é vontade
Amor é um - Sexo é dois
Sexo antes - Amor depois
Sexo vem dos outros e vai embora
Amor vem de nós e demora

5 comentários:

  1. Concordo em parte, contigo.Não devemos exigir a fidelidade mas, ao amarmaos, não acabamos por oferecer a nossa própria fidelidade? E ao oferecermos essa mesma fidelidade, não acabamos por criar expectativas quanto à fidelidade que também queremos que nos ofereçam? Há quem defenda que os homens e as mulheres perspectivam a relação amor-sexo de forma diferente. Neste campo, acho que sou muito tradicional; homem que me apanhe a carne é homem que já me apanhou o coração ;-)

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  2. Denise, a perspectiva que expus é muito minha. Acredito que divergirá muito, mesmo entre os homens e entre os homossexuais. Acho que a visão feminina e masculina da coisa diverge, sim. Nunca me esqueço que aprendi algures que o homem está simbolicamente ligado aos espaços abertos e à caça e a mulher à terra e à organização da casa; que ele é nómada e ela sedentária, etc. Acho que se percebe que defendo a fidelidade (aos sentimentos, claro), somente isso, o que deverá, em princípio, levar à fidelidade da carne. As expectativas nas relação são muito importantes, sem dúvida, assim como as cedências. Basicamente, trata-se de diálogo e de auto-conhecimento, acho eu. No diálogo, expomo-nos e absorvemos e temos de ser capazes de o fazer com lealdade, abertura e entrega. Se isso acontecer, corre tudo bem. Mas eu sou um racionalista sonhador :))

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  3. Isto é assunto que dava pano para mangas; embora concorde que a fidelidade não está no meio das pernas, mas sim na mente e no coração, cada vez me apetece menos praticar sexo sem "ser em casa", embora esteja longe e às vezes seja difícil aguentar. Além do mais, mesmo que se diga que não, que o/a outro/a não está presente, acaba sempre por estar.
    Abraço.

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  4. Concordo que, realmente, a verdadeira fidelidade está na mente e no coração e que, quanto ao resto, a base reside no diálogo franco e directo. Quanto a mim, ainda não experimentei o "fora de casa" e muito sinceramente não estou com muita vontade. Ao contrário, acho que não iria suportar a dor. Mas são só incertezas, logo verei na hora H.

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  5. 1) Pinguim, era aí que queria chegar: ao meio das pernas e como também não me apetece sexar "fora de casa". A presença existe na ausência, de facto. É uma questão de consciência.

    2) Denise, só sabemos como reagimos aos factos perante eles. Acho que podemos ter uma ideia e se essa ideia for de não avançar, é preferível não o fazer. Vai por mim: quem brinca com fogo, queima-se! Ou não! :)

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