domingo, 4 de novembro de 2007

..:: a minha maior ficção... ::..

… sou eu. Tento não respirar para não te acordar, mas o chão denuncia-me. Não te quero acordar. Avanço no escuro para esquecer porque tenho os olhos rasos de. Não consigo adormecer assim, mal vejo o que escrevo e lembro-me como a noite era a minha cama. Não sei se desenho bem as letras, mas espero depois conseguir decifrar o que agora registo. Recordei-me que ler é uma actividade incrível, tão perigosa como escrever: o que é uma vantagem pode ser a perdição: entrar nas histórias que desconhecidos escrevem sobre nós, para nós, connosco lá metidos, nus em sentimentos e intimidades. Histórias que me comovem, porque me tocam no sabugo, no âmago da minha noite. É talvez por isso que não invento histórias, porque a maior ficção que conheço sou eu próprio, inventando-me, reescrevendo hora a hora, segundo a segundo e mal.
Finalmente, os meus olhos adaptam-se à escuridão. Bom, talvez não! Não tenho medo do escuro (excepto, quando acordo de um pesadelo na escuridão total, aí perco-me e posso entrar em pânico), nem dos mortos que hoje me visitam, mas dos vivos.
E é assim que, neste encontro com o universo dos outros, me afogo e diluo, como sempre imaginei partir: sem ondas, sem ninguém notar e tudo ficará “como estava. // Nem homens cortaram veias, /Nem o Sol escureceu, / Nem houve Estrelas a mais... […] / Não houve nada de novo / […] As nuvens não se espantaram, / Não enlouqueceu ninguém...” (Sebastião da Gama » Serra-Mãe: Poemas» Lisboa: Ática » 1996).

Súmula: Os Cadernos Secretos de Sébastian; A Outra Margem; dia de Finados; Olhos de Cão.

Com as aulas de dificuldade 0 e cansaço físico total (na vã tentativa de educar mais do que transmitir conhecimentos), regresso lentamente ao prazer de ler por ler, a meu bel-prazer, sem resistências ou contra-relógios, ao ritmo de um por dia seria o ideal, mas também não aguento. Vêm-me à cabeça algumas tarefas em atraso. Sorrio, sinto o frio que vem lá de fora. O último cigarro e depois mergulharei junto de ti. Amanhã é outro dia e nada de novo debaixo do sol. A linha de comboio continua a seduzir-me. Com efeito, Luís Filipe Rocha tem toda a razão ao pôr na boca de Luís/Carla, que o Miguel Innersmile cita e a Lili corrobora: "Somos todas muito trágicas, e até um pouco mórbidas". E nada mais havendo a dizer.

2 de Novembro

4 comentários:

  1. Então, andas com insónias? Sem dúvida que as realidades empalidecem muitas vezes as ficções.

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  2. X, acho que sim. Mas as insónias seriam o menos!

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  3. Juro que estava a tentar ler com atenção e até estava a gostar, mas agora por momentos fiquei perplexo com as notícias, um acidente na A23 com 13 mortos ... bem, cortou-me o raciocínio ... sorry

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  4. ó pá, não está legal!
    Mas a notícia impressionou-me e ainda não sei quantos são os mortos e feridos!!!

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