sábado, 10 de novembro de 2007

~~ pequenas coisas? ~~

Há coisas cujo alcance não vislumbramos imediatamente mas que, revisitadas, assumem dimensões inesperadas. Alguns dos meus alunos, gente (muito) carenciada, não recebem as suas bolsas há algum tempo. Verifica-se um grande atraso nos pagamentos. Com a mesma excitação e brilho no olhar de uma criança que descobre os presentes na árvore de Natal, uma delas contava ontem o seguinte episódio:
"Já tinha ouvido dizer que há uma hora em que se pode levantar dinheiro no Multibanco, mesmo com a conta a zeros. Esta noite o meu homem levantou-se às duas da manhã, pegou no cartão dele e no meu e saiu. Chegou a casa com 70 euros! Cinquenta que tinha levantado da conta dele, mais vinte da minha porque não conseguiu levantar mais. Ah, Professor, eu estava deitada e ele deixou cair as notas em cima da cama, como chuva. Eu só disse "Hi, já temos dinheiro p'ra comprar comida!" As colegas olhavam-na num misto de admiração e inveja. Uma delas comentou: "As coisas que eu ando a aprender!"
O meu coração explodiu em mil fragmentos de sentimentos indefinidos. Também eu aprendi. Preciso de dizer mais alguma coisa?

10 comentários:

  1. Caro Zé
    aconteceu um milagre; hoje abri, à primeira o vosso blog e as respectivas janelas de comentários e assim vou aproveitar para pôr a escrita em dia convosco, e esperando que de agora em diante seja sempre assim.
    Quanto ao assunto do post é ao mesmo tempo triste, muito triste, mas que nos faz sentir solidários com tanta miséria alheia, que nem sempre recordamos como deve ser; obrigado por tê-lo lembrado.
    Abraços e bom fim de semana.

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  2. Sim, nós vamo-nos queixando das nossas vidas e por vezes esquecemos que até somos uns sortudos, que há gente em condições bem piores que nós. Se nos lembrassemos disso mais vezes, talvez vivessemos a vida menos pessimista em relação a nós.

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  3. Gostei deste post, e gostei do blog. Muito bonito, pela imagem e pelo som!

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  4. pinguim, ficamos contentes por, finalmente, conseguires abrir o blog sem problemas. Sim, entre outras coisas, o post lembra-nos que há sempre quem esteja pior que nós. Nada de novo mas que esquecemos com demasiada frequência.

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  5. TheTalesMaker, às vezes precisamos que nos lembrem de olhar para outro lado que não o nosso umbigo, não é?

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  6. Bianca Castafiore, bemvind@ ao blog, ainda bem que gostas. Nós também gostamos do feedback que vamos recebendo. Contamos contigo!

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  7. Nós professores que trabalhamos em zonas e com pessoas carenciadas de tantas coisas, sobretudo afectos e bens (mesmo que indispensáveis para a sobrevivência), damos com situações semelhantes todos os dias. Mas fizeste bem em partilhar esta situação. Temos demasiada tendência em nos centrarmos no umbigo (ou um pouco mais abaixo :-) e esquecer os problemas dos outros. Obrigado Zé.
    Yoseph

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  8. É triste, muito triste, parece uma cena tirada de Dickens. Mas não alivia a nossa tristeza, em minha opinião, antes pelo contrário. É que a maioria não sofre por ser sobremaneira umbiguista, mas porque se sente impotente para mudar este estado de coisas.

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  9. Yoseph, o nosso umbigo é sempre tão grande e a medida do mundo tão diferente que histórias como esta me parecem estranhas, irreais. Mas a vida real está cheia delas.

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  10. Lili, isto parece inventado e faz parte deste país real em que o que devia chegar, nunca chega a tempo e horas e quem se lixa são os mais necessitados.

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