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Recordo primeiro o Sébastian. Ele foi a casa onde eu podia voltar sempre que quisesse, o postigo onde me podia refugiar sempre que precisasse, o lugar quente e familiar onde me senti protegido das flechas e lanças selvagens do mundo. O sítio onde não havia saudade, havia presença. E isso bastava. A âncora que me permitiu afastar-me do barco, à descoberta da tempestuosa ilha da vida. Ele partiu. Rumou para outro porto, talvez longínquo, talvez confortável e aconchegante, navegando no eterno barco que transporta os seus ocupantes num único sentido. Não regressará jamais. Ainda o espero. Sentado junto ao parapeito da janela da sala olho o cais invisível. Aguardo a aparição de um vulto no horizonte infinito da extensa planície. Sei que ele empreendeu uma viagem sem retorno, mas não me convenço. Espero pelo amanhecer ansioso, toda a madrugada. Pelos caixilhos da janela entram tímidos os primeiros raios de luz. Ele não regressará. Vou dormir.
[André]
André Benjamim »» Os Cadernos Secretos de Sébastian »» Vila Nova de Gaia: Editorial 100 »» 2006 »» p. 187
[André]
André Benjamim »» Os Cadernos Secretos de Sébastian »» Vila Nova de Gaia: Editorial 100 »» 2006 »» p. 187
(...)
ResponderEliminarAbraço.
P.S. Repara na na anotação seguinte (a 90) ele, o André, acorda!...
90
ResponderEliminarLembro depois o meu amor impossível. Haverá algum dia algum amor possível? Porque a cama está vazia. Porque no seu lugar há ausência flutuando, entranhando-se no meu corpo através da sua respiração calma. Talvez já se tenha levantado. Penso que talvez já se tenha levantado; o calor do seu corpo extinguiu-se. A cama está fria. Ergueu-se durante a madrugada e partiu, deixando apenas as palavras paradoxais:
- É impossível realizar um amor tão grande. Amo-te demais para te amar. Este amor prende-me, não me liberta; tenho que partir… - Silêncio. – Entendes?
«Não! Não entendo!» Mas não lho disse. Engoli em seco e calei-me. Resignação.
- Sou demasiado feliz contigo. Uma felicidade opressora. É como se tivesse tudo. Quando se atinge a plenitude, nada mais há a procurar, a vida perde o sentido!
Sim. De igual modo quando se perde tudo. Qual o antónimo de plenitude? Solidão? Para sempre.
André Benjamim »» Os Cadernos Secretos de Sébastian »» Vila Nova de Gaia: Editorial 100 »» 2006 »» p. 188
E como é que ele pode ter acordado, se na anotação anterior não fora dormir antes que "pelos caixilhos da janela entrem tímidos os primeiros raios de luz"?
ResponderEliminarAbraço.
Isso gostava eu de saber. isso e muitas outras coisas que para mim continuam enigmáticas. Houve momentos em que achei que André e Sébastian até eram o mesmo, portanto...
ResponderEliminarah ah ;)
ResponderEliminarhttp://andrebenjamim.blogspot.com/2007/11/os-nufragos-v.html
vê: aqui
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