sábado, 10 de novembro de 2007

..:: Os Cadernos Secretos de Sébastian ::..

André, uma semana e meia depois da leitura cá vão algumas impressões. Encomendei o livro na Fnac há mais de um mês e até hoje nada. Encontrei-o no El Corte Inglès.


Num registo alternado e em fragmentos muito diversos e centrados nas suas próprias vivências, os escritos de André e Sébastian apresentam as vivências da juventude, da auto-descoberta, da experiência do outro, dos amores secretos, da amizade e da separação, em avanços e retrocessos que constroem a trama ficcional e biográfica. O tom geral é deceptivo, muito magoado com a vida e os seus meandros; a aprendizagem da vida muito espinhosa, cheia de retrocessos, silêncios e cabeças baixas. As perdas familiares, a deficiente comunicação tornam Sébastian e André dois solitários, abandonados à sua própria experiência interior. A incomunicabilidade cria a fricção essencial: a impossibilidade do amor, a descrença no ser humano.
Sébastian e André conhecem-se no colégio interno católico, vivem experiências comuns, mas Sébastian seguiu no rumo do Fábio e despenhou-se. André ficou sozinho, anos depois reencontram-se em Coimbra e é iniciado o mecanismo de memória. Afinal, e no final, percebe-se que a memória é accionada, sim, pelos Cadernos de Sébastian. É preciso chegar lá para se perceber o percurso textual alternado, memorialístico, bem como a descrença no amor, atingindo-se o abismo que me lembrou o telefonema de Ennis com Lureen (a mulher de Jack) em Brokeback Mountain. Atingi este pondo da leitura quando ia a caminho da escola e, para não variar, humedeceram-se-me os olhos. Inicialmente, nem estava a perceber ou não queria acreditar. Para dar uma aula é preciso ir com a alma limpa e sorridente; e, naquela quarta-feira, fui com o coração colado às costelas. A aula não correu mal, mas podia ter sido muito melhor. Deu-me vontade de agarrar o André ao peito (e o Sébastian também), apertar fundo até curar, diluir todas as feridas dos dias, tal foi a empatia, apesar das gralhas no texto que não deviam ter passado.
Inicialmente, achei que as notas no final deviam estar no rodapé da página correspondente, mas percebi a intenção, visto que funcionam como um apêndice à narração. Tudo isto serviu ainda para me recordar que a morte é um lugar onde não devemos regressar muitas vezes.


Atenção: André Benjamim é um pseudónimo e uma personagem. Aliás, é uma personagem verosímil, mais verdadeira que real (vale a pena ler a entrevista).



André Benjamim »» Os Cadernos Secretos de Sébastian »» Vila Nova de Gaia: Editorial 100 »» 2006

5 comentários:

  1. Pronto, já sei qual é o próximo livro que vou comprar! ;)

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  2. Eu já o tinha "marcado", mas agora, com uma análise tão bem elaborada, ainda se tornou mais evidente a necessidade da sua leitura.

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  3. Paulo, muito bonito este texto. É reconfortante espreitar para um espírito assim! :)

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  4. Na Fnac não há e no Corte Inglês já estava esgotado quando lá fui :(
    Vou ter que encomendar.

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  5. X, Pinguim e Special K, acho que o melhor é o Corte Inglès. Provavelmente tive sorte em o encontrar e agora só encomendando... Na Fnac, foi como disse: encomendei há mais de um mês e não veio resposta nenhuma até agora.
    Bianca, obrigado!

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