domingo, 4 de novembro de 2007

~~ ainda A Outra Margem ~~

Tenho lido os posts e os comentários a propósito do filme. Não se trata, obviamente, de uma obra prima, longe disso. De resto, poderiam ser-lhe apontados diversos aspectos a melhorar. Não gostei particularmente do desempenho do Filipe Duarte. Houve momentos em que a carga dramátiva do papel exigia um melhor actor e/ou uma melhor performance. Entre outros, o rapaz não conseguiu "vender" bem o desespero que se pode sentir frente à escova de dentes de um amor que já partiu. Mal feita, a cena ficou um pouco ridícula. Mas, por se tratar de uma honrosa pedrada no charco, prefiro referir os aspectos positivos. A fotografia e a captação de som (directo) são muito bons. O Tomás Almeida está excelente e dá uma bofetada sem mãos a muita gente, além de uma lição de bem representar. A banda sonora merece também referência. Todavia, é o argumento que deve ser realçado. A alegria de viver retoma-se a partir do contacto com uma criança cujos horizontes são (também) limitados. Podemos extrapolar do filme e pensar numa enorme pluralidade de aspectos das nossas vidas que permanecem à margem.
Presumo que todos olhemos uma obra de arte através do prisma do nosso universo de referências. A mim, além da perda e o que a ela subjaz, o que mais me tocou foi aquela irmã. Nunca se lhe ouviu uma palavra de recrimicação contra o irmão. Aliás, o sorriso e a forma como reatam a sua convivência presumem uma aceitação tácita dos factos. E depois, que diabo, tinha que se chamar Maria? O bolo que oferece ao irmão tinha que ser de bolacha? (Lembras-te, Mana?) E por que raio não teve tempo de conhecer o namorado do Ricardo? (Como eu gostava que a minha irmã tivesse conhecido o Paulo!)
O filme vive e vale muito pelo que diz, mas, creio eu, sobretudo pelo que não é dito e se adivinha nos silêncios e olhares que, apesar de não serem perfeitos, produzem o efeito pretendido.
Confesso que fui ver o filme com algumas reticências mas, tendo dito o que disse, endereço daqui os parabéns à equipa de Luís Filipe Rocha.

14 comentários:

  1. Este texto não é para eu ficar deprimido outra vez, pois não?

    ResponderEliminar
  2. Of course not! É uma reflexão com que pretendo redimir-me da "má vontade" com que fui ver o filme e, ao mesmo tempo, dar o benefício da dúvida ao cinema nacional. B

    ResponderEliminar
  3. Concordo com a crítica. E acrescento que a banda sonora foi bem escolhida mas algumas vezes metidas à machadada... Chwguei a manda r um salto na cadeira. Mas a equipa de Luís F. Rocha está mesmo de parabéns!

    ResponderEliminar
  4. Os saltos na cadeira são bons. Afinal, a arte tem que mexer connosco, não é?

    ResponderEliminar
  5. Sim. E são bem piores os saltos que dou durante os filmes de terror.

    ResponderEliminar
  6. Como também já deves ter lido no meu blog, gostei do filme e também do que nele se mostrou e como tu bem referes, a nossa interpretação das entrelinhas. Quanto à representação do Filipe Duarte, de facto também achei algumas cenas por um lado exageradas ou com pouca carga emotiva. Essa da escova foi uma delas. De facto por um lado achei pouco emotiva, por outro a cara dele estava demasiadamente exagerada, não sei se o realizador escolheu aquele momento assim, derivado às "caras" que o protagonista fazia na sua actividade. Ainda assim, acho que o Filipe Duarte fez um grande papel de gay com tiques, isto porque por norma o vemos sempre muito machão (e poooodre, diga-se).
    Mas de uma maneira geral gostei do filme, tal como já referi anteriomente.

    ResponderEliminar
  7. Olá! Também gostei muito do filme... com muitas lágrimas adjacentes (lol).Aquele miúdo é uma ternura e um grande actor. E, é claro, temos tendência a sentir com mais veemência aquilo que se aproxima do nosso universo de referências. O meu coração de mãe entende muito bem aquela mãe e aquele filho e acaba por sofrer e alegrar-se ao longo do filme, com o sofrimento e alegrias dos dois rapazes. Tem as suas falhas, é verdade, mas...é lindo, lindo, lindo!!!
    E não resisti a partilhar convosco as minhas reflexões. Abraços

    ResponderEliminar
  8. TheTalesMaker, o que seria do verde se todos gostássemos do amarelo? Perdoa-me mas não tenho uma "estima" assim tão elevada pelo Filipe Duarte. Por outro lado, acho que o filme ganharia se a personagem não fosse tão efeminada.

    ResponderEliminar
  9. s.m., obrigado pelo comentário e pela partilha.

    ResponderEliminar
  10. Ainda não vi o filme; qual é o grau de escolariedade dos personagens?

    ResponderEliminar
  11. Lili, sinceramente, não sei (pouca, digo eu) e não é importante.

    ResponderEliminar
  12. Poderia dar-nos pistas para a pouca contenção de sentimentos e postura das persoangens, e justificar as falhas que aqui se apontam

    ResponderEliminar
  13. Continuo sem ter visto o filme e continuo a ter vontade de o ver.
    Sobre o Filipe Duarte, vi-o numa telenovela e nalgumas séries televisivas e nunca no cinema. Disse há dias que continuo à espera que ele me convença que é um bom actor e pelo que leio, embora com um prémio interpretativo, a meias, não terá um papel de "encher o olho", apesar de não ser um papel fácil.
    Mas permitam-me uma opinião, é que como homem é mesmo bom !!!!!!!

    ResponderEliminar
  14. Que seria do amarelo se todos gostássemos do azul?

    ResponderEliminar

»» responderemos quando tivermos tempo
[se tivermos tempo] »» se os
comentários de algumas entradas estiverem bloqueados é porque não estamos cá, não há tempo para olhar para o lado, ou essas entradas não têm nada para comentar.

»»
obrigado pela visita!